O Guarda (The Guard)
Comédia sobre assassinato, chantagem, tráfico de drogas e corrupção numa delegacia de polícia do interior da Irlanda. Dois tiras bem diferentes são obrigados a se unir para vencer uma quadrilha de tráfico internacional de drogas. São eles o sargento Gerry Boyle (Brendan Gleeson), um rude e excêntrico policial do interior, e Wendell Everett (Don Cheadle), sério e compenetrado agente do FBI. Quando um colega de farda de Boyle desaparece misteriosamente e a cidade passa a ser alvo de uma grande investigação dos federais americanos, ele é forçado a, pelo menos, fingir um pouco de interesse no assunto. Como sempre fez o que quis durante muitos anos e despreza regras, não fica nem um pouco impressionado quando o FBI chega à cidade.
O que você imagina de um filme que tem, como cena inicial, um grupo de jovens dirigindo numa estrada de interior em alta velocidade enquanto tomam whiskey? Até ai, não é grande coisa, certo? Agora, imagine que logo na sequência, esse mesmo grupo de jovens bate o carro, que vira um emaranhado de lata, e se espalha pela estrada. Ai chega um policial, verifica se tem alguém vivo, e como não sobrou ninguém de pé, revista um corpo em busca de drogas, encontrando um tablete de LSD. Que é prontamente consumido. Só por ae já dá pra você ter uma ideia do tipo de pessoa que é Gerry Boyle [Não confunda com a Susan Boyle, apesar de ambos serem bem feios] é: Se não tem solução, adianta se preocupar?
Claro que não quer dizer que ele não leve o trabalho a sério, ele só tem as prioridades dele bem definidas. A mãe doente, o álcool, as prostitutas. Não é porque ele tirou uma folga que o mundo vai cair. Pelo contrário, as coisas até melhoram. Eu não sei porque diabos as pessoas se estressam tanto hoje em dia. Pra ter um piripaque e ir parar no médico, gerando mais estresse pra si mesmo e pras pessoas ao redor. Relaxe e aproveite a paisagem. Não que o filme passe essa mensagem, mas reforçou essa minha filosofia de vida.
Mas não pense que o filme viaja, se tornando uma daquelas comédias esculachadas. Pelo contrário, as cenas de humor são muito bem intercaladas com as sérias, o que só torna a coisa toda muito mais interessante. A atuação da galera vai muito bem, com destaque pro genial Brendan Gleeson, que começou a atuar aos 34 anos, depois de dar aulas por muito tempo. Acho que foi nessa época que ele se inspirou pra criar o personagem. Mas o cara é genial, pontuando os diálogos como poucos atores que eu vi. Não que eu seja parâmetro também, mas que se foda. Vou julgar atuação mesmo e não tou nem ae.
O que não quer dizer que o resto da galera tá morta. Não, pelo contrário. Tirando a falta de graça do personagem do Don Cheadle, que deve ser proposital [Afinal, quem ia acreditar num agente do FBI fanfarrão?], os personagens que permanecem em cena sem a presença do Gleeson também mandam muito bem, com destaque merecido pros traficantes discutindo filosofia, que pode parecer surreal em um primeiro momento, mas na verdade faz todo o sentido. Porra, eles não tem que trabalhar, não tem que estudar, vão atrás de algum significado pra vida.
E não pense que os personagens são rasos como na maioria das comédias. Não senhor, aqui temos elos profundos [Tanto que a mãe de Boyle teoricamente nem tem relação com o enredo] e subtramas que a princípio parecem não fazer sentido ou serem diretamente ligadas ao que acabou de ser mostrado, mas acabam tendo outro significado quando o contexto é apresentado. Sem contar que os diálogos são impecáveis, com aquele sotaque irlandês que cê não entende merda nenhuma direito mas acha engraçado mesmo assim. É um filme que eu recomendo. Faça um agrado pro seu cérebro e assista essa obra.
O Guarda
The Guard (96 minutos – Comédia)
Lançamento: Irlanda, 2011
Direção: John Michael McDonagh
Roteiro: John Michael McDonagh
Elenco: Don Cheadle, Liam Cunningham, Brendan Gleeson, David Wilmot, Rory Keenan, Mark Strong, Fionnula Flanagan, Dominique McElligott, Sarah Greene
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