O Homem que Não Estava Lá (The Man Who Wasn’t There)

Filmes bons que passam batidos terça-feira, 25 de outubro de 2011

Hoje em dia os irmãos Coen são quase unanimidade como dois dos melhores cineastas dessa geração, com todo mundo pagando pau pro Bravura Indômita e tal. Mas não foi sempre assim não, galera. Na verdade, eles só se tornaram realmente conhecidos pelo público em geral lá em 2007, depois do sucesso do Onde os Fracos Não Têm Vez. Pelo menos segundo os fragmentos de memória que eu tenho de 4 anos atrás. Enfim, o que importa é bem antes disso, a carreira deles já contava com inúmeros filmes sensacionais. Sendo que um dos melhores sempre acaba ficando meio esquecido.

O Homem que Não Estava Lá acompanha a vida do barbeiro Ed Crane (Billy Bob Thornton), no final dos anos 40. Além de um emprego estável, ele tem uma casa, um carro e é casado com Doris (Frances McDormand). Praticamente a personificação do sonho americano. O único problema é que ele não gosta do emprego, é traído pela mulher e sua vida não tem significado algum. Mas tudo isso pode mudar quando ele corta o cabelo de um certo empresario afeminado que precisa de 10 mil dólares pra começar um negócio de lavagem a seco. Pra conseguir o dinheiro e entrar na parada, Ed resolve chantagear o amante (E chefe) da esposa, Big Dave (James Gandolfini).

Só que como já dá pra imaginar, nada acontece como esperado. E não apenas por se tratar um filme dos Coen, mas por ser uma grande homenagem ao cinema noir. Aliás, esse é o grande mérito da coisa: Mesmo desconstruindo o gênero, a obra consegue ser um tributo perfeito aos filmes policiais do final da década de 40. Ed Crane é o anti-herói noir ideal. É calado, frio, durão e fuma um cigarro atrás do outro. Mas trabalha numa barbearia e serve de capacho pra mulher.

 “Querido, venha depilar minhas pernas.”

O filme todo apresenta essa dualidade interessantíssima. Se na tela o Billy Bob Thornton se limita a fumar e respirar (E ainda nós dá uma interpretação genial), na sombria narração em off ele expõe toda a história em meio a divagações características dos melhores detetives particulares atormentados por problemas existenciais. A coisa toda soa como uma trama noir num universo paralelo, de um jeito único que só poderia funcionar sob a supervisão de Joel e Ethan Coen. E tudo só melhora ainda mais com a chegada dos outros personagens. Se a dinâmica inicial do filme se baseia nas consequências dos atos de Ed, Doris e Big Dave (O Tony Soprano, véi!), a chegada do advogado Freddy Riedenschneider (Tony Shalhoub, aquele lá do Monk) e da garota Birdy (Scarlett Johansson) consegue adicionar mais ramificações ao enredo, levando a história pra um caminho mais inesperado ainda.

 ALIENS WTF

Mesmo com um roteiro cheio de reviravoltas, ainda sobra tempo pra uma boa dose de humor negro. Inclusive com uma bela citação à fixação com alienígenas presente em toda a década de 50. Tipo o que o Spielberg tentou fazer na desgraça do Indiana Jones 4, mas de um jeito muito mais inteligente e apropriado. Outro destaque é a fotografia ESPETACULAR, com o melhor jogo de luz e sombra que eu vi desde O Mensageiro do Diabo, lá de 1955. Porra, o troço tem mais tonalidades de cinza do que cores que eu sei o nome. Provavelmente porque foi filmado em cores e depois descolorido. É tudo tão bem caracterizado que poderia até ser considerado um neo-noir. Mas o filme vai além desses rótulos.

Ed talvez se sentisse em casa procurando o Falcão Maltês, resolvendo conspirações que envolvem fraude de seguros ou tentando desvendar a misteriosa morte de um amigo em Viena. Mas não, ele não estava lá. Mais fascinante que isso é observar um protagonista que poderia ter saído das páginas de uma revista pulp lutando pra sair das (Ou entrar nas) sombras da sua própria existência vazia, através de algo tão insólito quanto uma oportunidade num esquema de lavagem a seco. Todos os elementos clássicos de um filme noir se fazem presentes, só que em lugares totalmente inesperados. E mesmo assim tudo funciona perfeitamente. Um feito e tanto. É um filme com a marca característica dos Coen, descompromissado, absurdo e cheio de personagens peculiares. Que ao mesmo tempo, consegue ser ser reflexivo, obscuro, e de quebra manter intacta a clássica jornada do herói. Mesmo que o herói em questão seja um barbeiro. Que alcança uma redenção final um tanto quanto… Inconvencional.

O Homem que Não Estava Lá

The Man Who Wasn’t There (116 minutos – Drama)
Lançamento: Estados Unidos, 2001
Direção: Joel Coen, Ethan Coen
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen
Elenco: Billy Bob Thornton, Frances McDormand, Michael Badalucco, James Gandolfini, Scarlett Johansson

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