O Juiz (Judge Dredd)
Assisti esse filme sem nenhuma informação extra da internet, sem saber qual a opinião do mundo sobre ele, nada. E bem se sabe que a opinião de alguém na internet pode mudar levemente a opinião de alguém que lê. Hey, não negue – somos humanos e humanos gonna humanizar, sempre. Um coisa é ler uma opinião e levá-la em conta, outra é substituir a sua pela nova. De qualquer jeito, vejam só, eu assisti esse filme precisamente duas vezes em minha existência mundana: A primeira, na rede de televisão de Señor Abravanel, o SBT, há pelo menos uma década. Na época eu mal sabia o que era a interwebs, quanto mais o que eram os “formadores de opinião” dela. A segunda vez que assisti foi semana passada. E aí é que tem coisa pra falar.
Cheguei na loja de quadrinhos de um amigo e lá se encontra uma televisão, passa uns filmes de vez em quando e eu costumo ficar por lá assistindo. Eis que, vindo dos confins analógicos de uma fita cassete morfada em DVD (E mantendo o mesmo glorioso sistema de áudio) começa a passar – O Juiz. Assisti assustado aquela peça da minha infância surgindo. Sentei-me e vi o filme inteiro, inclusive precisando lutar por isso perto do final, quando alguém com alergia à canastrice começou a se coçar.
E aqui está a primeira coisa que você precisa saber se não viu o filme porque esteve enterrado em uma mina abandonada desde 1995 (Ou escapou, viu e precisa relembrar): É a tremenda canastrice de nosso querido Silvester Stallone. Sim. Não estou chamando ele de eterno canastrão, estou dizendo que especificamente neste filme, ele está muito canalhamente canastrão. Pra qualquer outra alma desse site que escreva sobre filmes, isso poderia ser uma deslavada ofensa contra o Stallone, mas não pra mim. Anotem isso: O ator bom é chato. É tedioso. É maçante. Sabe aquele cara do teatro que faz mil interpretações no palco, que sabe todas as técnicas de respiração e sei lá o quê? Ele acha que está imitando perfeitamente a realidade – mas está longe.
Diferente do canastrão. Eu posso justificar ou ao menos desculpar isso tudo que estou dizendo lembrando à vocês que sou fã de Jornada nas Estrelas, a série original. Ou seja, William Shatner como Capitão Kirk – a.k.a. o sujeito mais canastrão daquela porra de série. E isso é bom. Por algum motivo, aquilo é mais humano do que querer dar uma de expert. Outro exemplo: Vejam o Marlon Brando em O Poderoso Chefão. Vejam o maxilar pra frente e aqueles gestos com a mão. Aliás, vejam todos os trejeitos de Don Corleone. Aquilo é um estado-de-arte da atuação, mas é de um canastrismo incrível. Isso nos leva de volta ao Juiz Dredd. Certo, perto de Don Corleone, o Dredd é uma menina chorona em termos de atuação. Mas, por incrível que pareça, se aplica muito bem à história do filme.
Aliás, vejamos o enredo: O Juiz Dredd é um personagem de quadrinhos. Logo, o filme é uma espécie de adaptação para o cinema deste personagem. Ou como diz a Wikipedia, “loosely based” no quadrinho, ou seja: mazomenos baseada no original, mode que os fãs fiquem todos putinhos pela falta de fidelidade. E, acredite, eles ficaram. Mas, enfim. Dredd vive em 2139, em um mundo distópico carcomido por guerras nos últimos 100 anos, ou coisa assim. O sistema penal e judiciário como nós conhecemos simplesmente desabou. Os policiais, tribunais e juízes não davam conta da gigantesca quantidade de baderneiros e meliantes que assolavam as cidades. Aliás, é preciso dizer que as cidades agora são enormes aglomerados de pessoas, chamados Mega Cities; imagine que em único prédio podem viver umas 50 mil gentes e a maioria ter uma ficha criminal maior que a preguiça deste autor.
No lugar dos sistemas falidos, um novo tomou lugar – o sistema dos Juízes; eles são a polícia, o júri, o magistrado, o advogado e se possível, o carrasco. Os Juízes patrulham as cidades e são o supra-sumo da lei e da ordem. Na cena inicial do filme, alguns Juízes estão tentando pacificar uma vizinhança que está em uma espécie de guerra civil. Dredd chega, em sua moto de Power Ranger preto, e simplesmente resolve a merda da situação (Traduzindo: Condena, julga e executa todos os meliantes que encontra). Ele é um badass, frio e fiel à lei. Ele é o Juiz Dredd.
Ah, os Juízes são regidos por um órgão geral da lei, o conselho. Este conselho é a única coisa que pode condenar um Juiz em última instância – claro que um juiz pode condenar outro, mas se o caso for grave, só o conselho. Vemos um exemplo disso quando, após uma reviravolta, o próprio Dredd é condenado por um crime que ele jura de pé junto que não cometeu. Nas palavras do próprio: “Eu não quebrei a lei, eu SOU A LEI!!” Isso é um ponto alto e tanto. Daí pra frente ele sofre pra burro, pra se provar inocente.
Além da história até interessante, o visual do filme é bom também. Pra 1995, claro. Os efeitos especiais podem ser bastante analizados na cena em que Stallone e Rob Schneider (Sim, ele está nesse filme) voam sobre Mega City 1 em um maldito transporte aéreo que parece outra moto dos Power Rangers (Se não a mesma). As vestimentas dos Juízes são interessantes, bem fiéis ao quadrinho, até onde sei.
Talvez um dos grandes problemas desse filme – e inegável até pra quem gosta – é que… Dava pra fazer melhor. Inclusive o próprio Stallone sabe disso, assim como todo mundo que leu o quadrinho. Aspectos da obra original foram simplesmente ignorados, como o fato de Dredd nunca tirar seu capacete, o que ele fez durante metade do filme – pra dar o mínimo exemplo.
Mas, além dos “prêmios” de pior filme do ano e ódio dos fãs do quadrinho, o filme estava esquecido. Uns três anos atrás, tiraram todo esse universo do buraco e estão realmente filmando de novo a história do Juiz mais badass de Mega City. E dessa vez, o protagonista será Karl Urban, que finalmente está sendo reconhecido nas ruas depois de interpretar o Dr. Leonard McCoy em Jornada nas Estrelas no ano retrasado.
Reza a lenda que o novo filme será mais sinistro e com um clima mais pesado do que o de 1995, além de realmente respeitar a obra original. Previsto pra sair em 2012. É esperar pra ver.
O Juiz
Judge Dredd (96 minutos – Ficção Científica)
Lançamento: 1995
Direção: Danny Cannon
Roteiro: John Wagner, Carlos Ezquerra, Michael De Luca, William Wisher Jr., Steven E. de Souza
Elenco: Silvester Stallone, Rob Schneider, Armand Assante, Diane Lane
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