O julgamento
Na presidência rotativa da assembleia, Dom Pedro II abriu os trabalhos desse julgamento histórico.
Louco ou sábio? Deu-se a palavra ao réu Montesquieu[1] que bradou:
– Separem-se os poderes!
Napoleão, chegando atrasado no seu cavalo branco, observou aquilo e
– Coitado, ficou perturbado com essas idéias. É louco com certeza.
Maria Antonieta concordou:
– Dêem-lhe brioche e depois cortem-lhe a cabeça.
– Que bando de franceses. Se eu fosse a favor da pena de morte sugeriria enforcá-lo. Guilhotina é rastro da cultura eurocêntrica. Mas, sou defensor da liberdade. Malditos portugueses! Apesar de europeu, Montesquieu é sábio. Não é mesmo, Silvério? – perguntou Tiradentes, com a sabedoria de quem confia nos amigos.
– Maria Antonieta não é francesa, é austríaca. Assim, como não sou brasileira, sou portuguesa! Portanto, veja como fala Tiradentes, ou se esqueceu do que aconteceu com você durante meu reinado?[2] – deixou bem claro Maria I de Portugal, conhecida como Maria, a Louca.
– Não façam isso com Montesquieu. Ele não é sábio, tampouco louco, ele é uma gracinha! – com seu sorriso contagiante, lá estava Hebe Camargo.
– O Espírito das Leis! – gritou um ensandecido Montesquieu assustando o tímido Miguel de Cervantes e a perfumada Coco Chanel.
Os dois papas presentes participavam de forma distinta do julgamento. O bonachão João XXIII defendendo com palavras de carinho e compreensão, o carrancudo Pio XII se omitindo dos fatos.
George Washington, com sua inseparável nota de 1 dólar[3] e sua garrafa de uísque[4], cansado, apenas queria ir para sua fazenda no interior.
Madre Teresa tomava chá e, influenciada pela sua nova amiga, Irmã Dulce, ouvia a nova música de Caetano e Gil.
Urrou-se um protesto no salão:
– Deixem-me falar! Só por que sou apenas o xará de um jogador de futebol? Agora, quem é Sócrates? O doutor? Até o Ari pensa assim. – disse o filósofo grego antes de tomar seus antidepressivos.
– Calma! Nossa relação já é consolidada. Não fique triste. – o sábio Aristóteles consolou o amigo carinhosamente, numa atitude que não surpreendeu nenhum dos presentes.
As ausências de José Alencar, Santos Dumont e Nelson Mandela foram sentidas. Alencar em razão de mais uma cirurgia. Dumont por causa do atraso na ponte aérea. E Mandela, pelo simples fato de ainda não ter morrido.
Gandhi e Gengis Khan, alheios a tudo e a todos, debatiam acaloradamente, sob os ouvidos de um interessado Nicolau Maquiavel, sobre as vantagens da desobediência civil e da guerra.
Para aumentar ainda mais a repercussão do julgamento, surge de supetão no tribunal o adiposo Nero, que, nu, colocou fogo em tudo e correu pelo corredor, gritando:
– Está tarde demais. Isto é o fim.
Pânico generalizado.
Todavia, o fogo foi logo foi controlado rapidamente pela Brigada de Incêndio “11 de Setembro”.
Dom Pedro II, com sua barba chamuscada, parabenizou os bombeiros e encerrou o julgamento, pronunciando o veredicto:
– Montesquieu é sábio. Louco é Nero.
Em comemoração, bem ao longe, foi ouvida somente uma frase:
– Separem-se os poderes!
1 – Viveu durante o Iluminismo e escreveu “O Espírito das Leis”, criando a Teoria da Separação de Poderes, implementada por grande parte das constituições do mundo.
2 – O processo, condenação e execução de Tiradentes ocorreu durante o reinado de Maria I em Portugal.
3 – George Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos, tem sua figura nessa cédula.
4 – Quando presidente, ele teve de superar uma revolta contra o imposto do uísque.
Michel Pinto Costa é um cara bem legal, pena que não pode ver mulher, e mandou um conto pra salvar a pátria em cima da hora hoje. Se você também quer ter seu texto publicado aqui no Bacon, é só clicar aqui.
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