O Mal de Hobbard
Sabe quando você tem uma ideia incrível, seja para o que for, mas na hora de executá-la você simplesmente “trava”? Quando, após horas de trabalho prolífico, você não consegue mais continuar? Ou ainda quando, após dar tudo certo, você não tem vontade, disposição ou até mesmo coragem de ver os resultados do que você fez? Então, você pode ser doente e nem sabe.
Vocês não fazem ideia do quão difícil é procurar por uma imagem hã… comportada quando todas as palavras-chaves que você possui são “nurse”, “porn” e “ass”. Mas enfim, piadas e apalpões à parte, o assunto aqui é, de fato, importante, e além disso, este é um problema que afeta muita gente, e que na gigantesca maioria das vezes recebe outro nome, ou até mesmo outro diagnóstico… E sim, eu sei que há vírgulas demais aí.
Como dito no primeiro parágrafo, é um tanto comum as pessoas terem uma ideia mas não saberem como colocá-la em prática, por onde começar, como fazer. É algo comum e natural, já que você pode pensar numa forma incrível de acabar com o câncer, mas não quer dizer que você tenha o conhecimento necessário em biologia para isso (E também não quer dizer que a sua ideia seja, de fato, eficiente). Também é um tanto comum, após muito tempo de concentração e esforço, o corpo necessitar de uma pausa, um descanso: Há vários e vários estudos que mostram que o descanso é tão importante quanto (Ou até mais) que o esforço para um bom aprendizado, e, consequentemente, um bom resultado final. E, finalmente, também é igualmente normal que haja uma certa apreensão, nervosismo e aquele “frio na barriga” ao finalmente acabar alguma coisa e ver como aquilo funciona.
Há muitos nomes para tudo isso: Falta de conhecimento, ignorância, fadiga, estresse, colapso mental, crise de ansiedade, ataque de pânico, vergonha, depressão, imaturidade emocional, tensão, neurose, bloqueio criativo. E, na grande maioria das vezes esses são, de fato, os motivos de tal comportamento. São coias às quais todos nós estamos expostos: Pode acontecer com qualquer um. Mas num pequeno número de casos, isso tudo aí está errado. Pelos sintomas serem parecidos há a confusão na hora do diagnóstico, e claro, isso afeta o tratamento, que, no final, pode até mesmo piorar a saúde do paciente… Sabem como é: Parece lupus, mas na verdade é só Huntington.
Como vocês podem notar, estou falando do Mal de Hobbard (Pronuncia-se rrobard – o “D” é quase mudo). Ansiedade, sudorese, tensão e nervosismo são alguns dos sintomas mais comuns. A pessoa se assusta facilmente, como se estivesse o tempo todo com medo, em alerta. E após essa fase “ativa”, a pessoa perde suas energias, fica extremamente cansada, sem disposição, com dor corporal e, muitas vezes, com enxaqueca. A irritabilidade está presente durante todo o tempo em que a doença ataca, e para as mulheres, a cólica também é comum. Como vocêz podem ver, os sistomas são comuns. Não é “culpa” do médico, que não diagnosticou corretamente: O erro é comum justamente pela falta de informação e o pouco conhecimento que se tem da doença.
Vou contar uma historinha procês: Alban Dietrich Hubbard (Esse cara sagaz aí de cima) foi um médico e antropólogo alemão, nascido em 1782. Ainda criança, sua família mudou-se para Viena onde ele cursou medicina, tendo contato com a antropologia através de seus colegas, área a qual ele dedicaria o resto de sua vida. A maioria de sua obra reúne estudos sobre o tifo, gonorréia e turberculose, bem como ensaios acerca das inter-relações humanas, mas foi através de seu livro A obra do Homem (Der Mann und sein Werk – Não publicado no Brasil), de 1814, que Hubbard ganhou certa “fama”, livro no qual ele descrevia os problemas enfrentados pelos cientistas, em sua busca por conhecimento. Ele morreu em 1866, aos 84 anos, de sífilis, tendo publicado 9 livros e 2 diários.
E é aí que nós entramos: Em A obra do Homem e não na sífilis Hubbard descreve uma doença, por ele chamada de “ânsia”, que o atacava a cada nova publicação científica que ele fazia. O que difere o Mal de Hubbard de uma simples “falta de criatividade”, “cansaço” ou “vergonha” é que a doença é uma desordem psíquico-fisiológica. Seguinte: A falta de criatividade, a exaustão ou o enrustimento (Heh) é algo momentâneo, que é facilmente combatido, seja através de técnicas de relaxamento, de treino ou de vergonha na cara. A doença de Hobbard, por outro lado, não possui uma cura: A partir do momento em que a doença ataca, a pessoa fica psicologicamente e fisicamente incapacitada de continuar a tarefa que está executando. Não há um tratamento, o que se faz é meramente tentar “controlar” os sintomas enquanto a doença está atacada.
A coisa se assemelha à uma crise de abstinência: Do mesmo jeito que o viciado PRECISA do que o vicia, quem tem Mal de Hobbard PRECISA largar o que está fazendo. Como dito, é uma doença psíquico-fisiológica: A concentração, a vontade e a disposição são afetadas, de modo que a pessoa crie uma aversão extrema àquela coisa, ao mesmo tempo em que o corpo para de responder, deliberadamente, ao cérebro, utilizando-se de cãibras, torcicolo, aversão ao cheiro (Cor, textura, gosto, etc.), dores, dormência e formigamentos para isso. Em casos mais graves, é comum que alguma parte e/ou membro do corpo não responda mais, quase que uma “paraplegia localizada”.
Assim, finalmente chegamos onde eu queria. Já não vimos, várias e várias vezes, uma obra com ideia sensacional, mas cuja execução estraga tudo? Quantas vezes não ouvimos falar em autores que levam anos e anos para terminar uma obra? Não tem gente que não suporta ver o próprio trabalho, depois de pronto? Só para dar alguns exemplos: Como me tornei estúpido, do Martin Page, conta a história de um cara genial, que resolve que seria mais feliz se fosse burro, e resolve por isso em prática. Ideia foda? Sim, mas o livro beira a inutilidade; O George R. R. Martin levou SEIS ANOS pra lançar um livro; Douglas Adams era praticamente obrigado à escrever, recorrendo à diversos meios para conseguir “enfileirar duas palavras”.
Entendem o que quero dizer? Não estou falando que Martin Page, George R. R. Marin e Douglas Adams tinham Mal de Hobbard, mas pode ser que tenham/tivessem… Talvez nunca saberemos, mas é uma possibilidade. Já falei um pouco sobre uns problemas enfrentados por autores, mas não quis falar sobre Hobbard no momento. O ponto é que isso é uma coisa que me preocupa: Mesmo o Mal de Hobbard não tendo uma cura, há um tratamento, e este depende, é claro, de um diagnóstico correto. Mas ainda hoje, centenas de casos que poderiam muito bem estar sob cuidados são simplesmente tidos como bloqueio criativo, falta de inspirição e a fatídica síndrome da folha em branco. É tipo chegar prum bando de pacientes com câncer e dizer que eles, na verdade, tem calvice.
Então, como já diria Drauzio Varella, se cuidem. Aqui, para o post, falei dos autores, mas vale para todas as áreas. Pensem em quantas coisas, quantas obras, quantos livros não seriam possíveis se a doença fosse controlada, tivesse o tratamento adequado: É bom para quem é fã do trabalho dos caras e é bom para os próprios. Houve uma época em que o ser humano estava à merce de tudo que é doença, mas já há um bom tempo as coisas mudaram, e não há motivo para que tanta gente continue sofrendo por algo assim: Conversem, difundam as informações, procurem saber mais busquem sabedoria. Talvez alguém que você conheça passe por maus bocados por causa de Hobbard, talvez você mesmo tenha a doença e nem sabe, e fique aí, pulando de médico em médico, sem encontrar uma solução. É clichê, mas “se cada um fizer um pouquinho, já faz uma grande diferença”.
Eu sei que este não é um post muito comum aqui no Bacon, mas às vezes é preciso falar sério sobre algumas coisas, e porra, se a sua saúde não importa, nada mais importa. Pensem assim: Ao menos cês viram uma bunda neste post e podem ver bem mais aqui. E vou contar uma coisa para os senhores: Levei mais de quatro horas para escrever este post… Como já diziam os sábios, “a gente nunca acha que pode acontecer conosco”… Véis, tá foda.
Leia mais em: Escritores, Mal de Hobbard, Matérias - Literatura