O novo Caça-Fantasmas é velho

Cinema quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Então: Vai sair um novo Caça-Fantasmas.

Haha “réplica”, engraçado pra caralho.

Não é novidade alguma que tenha mais um filme desse treco: Desde o começo do ano já havia imagens e teasers e posts em redes sociais falando sobre, e para além disso, desde que o primeiro filme, lá em 1984, foi aquele sucesso gigante, já se falava em tornar a coisa numa franquia. Com três filmes (Além deste próximo), três séries de desenho animado, brinquedos, fantasias, uns 20 video-games (Pra não falar nas máquinas de fliperama), alguns quadrinhos e mais uns livros, dá pra muito bem dizer que deu certo. Com o filme reboot de 2016 indo mal nas bilheterias por motivos babacas (Mas ainda revivendo a conversa sobre a franquia), é claro que era só questão de tempo até surgir outro filme.

Segundo a internet me conta, este filme aqui, uma continuação direta do segundo filme (De 1989), está sendo produzido desde 2016. Haviam vários planos e execuções canceladas para um “terceiro filme” há muito mais tempo: Cancelamentos, idas e vindas de elenco e mais sei lá quantos problemas, tudo muito típico de Hollywood… Aparentemente resolveram a parada toda e a previsão de lançamento em julho do ano que vem está aí. Nesses 30 anos entre o segundo filme e o momento atual, muita coisa mudou no mundo, em Hollywood, com a própria franquia e, claro, isso tudo só poderia significar uma coisa: Adaptação safada.

 Eu tô numa fase muito reaction gifs da minha vida.

Com a necessidade de mudanças dada justamente por quanto tempo já se passou desde o segundo filme, Ghostbusters: Afterlife utiliza a boa e velha fórmula do “não vou botar absolutamente nem um segundo de consideração pra escolher minhas opções”. Basta assistir o trailer alí em cima: Passaram 30 anos? O personagem é meu avô. Filme dos anos 80? Adolescentes salvando o mundo. Contextualização? All Star e subúrbio blue-collar. Ação? Carro derrapando (Aliás, vai dar drift com pneu velho e vê o que dá: Paul Walker morreu por menos). Tem gente que já morreu ou tá pouco se fodendo pra participar do filme? Bota um easter egg qualquer. Cara, esse filme nem tenta, tá ligado? Essa porra tem a dimensão intelectual de um pires quebrado.

Eu sei que o único ponto relevante dessa parada é apelar para a nostalgia, mas véi, dá pra fazer melhor. Dá pra fazer melhor que botar o Geleia DE NOVO na história. Dá pra fazer melhor que botar o Paul Rudd interpretando o Paul Rudd DE NOVO. Dá pra fazer melhor que usar a batidíssima história do adolescente que se muda demais por causa dos pais na merda e que vão pra uma casa velha. Aliás: Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Sigourney Weaver e a Annie Potts já estão todos confirmados pra aparecer no filme. Além disso, a direção fica à cargo de Jason Reitman, filho do Ivan Reitman, que de fato lotou cinemas nos anos 80 e 90 e dirigiu os dois primeiros filmes. Por que não o próprio? Sei lá, deve estar velho e o pinto não sobe mais: O fato é que o filho já dirigiu uns filmes bem legais, como Obrigado por Fumar e Juno, e produziu outros, como Garota Infernal e Whiplash. Eu não culparia o diretor, não fosse o fato de que ele também assina o roteiro junto com Gil Kenan quem?, o cara que dirigiu o foda A Casa Monstro, o remake de 2015 de Poltergeist, e a série Scream, baseada na franquia Pânico.

Eu não nego nem um pouco que essa fixação com os anos 80 me incomoda. Mas cara, às vezes passa. Às vezes é uma parada bem feita, bem utilizada. O já mencionado A Casa Monstro é um exemplo. Super 8 é outro. Eu sequer assisti Stranger Things, que compartilha com Afterlife um dos atores (Falando em typecasting né…), mas vou dar o benefício da dúvida. Acontece que este novo Caça-Fantasmas é um filme de 2020. Feito como se fosse 1985. E não por ambientação, mas por roteiro, por recurso de linguagem, por temática, por artifício de direção… É um filme de 30 anos com gráficos bons. Gráfico, meus caros, é a puta que o pariu.

É deprimente, véi, na boa. Porque é mais que um retrocesso, é ignorar, de propósito, três décadas de desenvolvimento social e cinematográfico. E chances são que vai vender pra caralho. Porque saca só:

Campo desolado genérico, mal que vai destruir o mundo genérico, carro reconhecível porque tem trinta anos que a parada deixou de ser um elemento num filme e virou “parte da cultura pop”. Não tem conteúdo. Tem só uma masturbação egóica. Pedra, aparentemente, dá leite sim, e tem muita, muita gente que não só bebe esse leite como jura também é que o melhor leite do mundo. Meu maior problema sequer é a galera beber esse leite, é achar que tá tudo bem beber essa parada. Não tá. Não nutre.

Vocês já tentaram dirigir um carro com o freio de mão puxado? Dá, mas é merda. E eu tô cansado pra caralho de gente dirigindo assim achando que não tem problema algum. E cansado de gente que dá entrada no mecânico “sem saber” porque o conserto vai custar o preço de uma nova transmissão. E cansado de gente dando zerinho pra mostrar que não existe problema algum. O problema não é o carro, não é o freio, não é nem as pessoas destruindo o próprio carro por não saber usá-lo, mas sim o fato de que tão pouca gente sequer considera soltar o freio de mão. Ghostbusters: Afterlife não tenta nem soltar o freio de mão.

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