O Poderoso Chefão (The Godfather)
Um verdadeiro fenêmeno cultural. A trilogia O Poderoso Chefão é referência para qualquer narrativa cinematográfica. A obra-prima de Francis Ford Coppola, adaptada do livro de Mario Puzzo, narra a ascensão e queda da família Corleone, neste celebrado épico. Indicado coletivamente para surpreendentes vinte e oito Oscar, os filmes ganharam nove, incluindo dois de Melhor Filme por O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão: Parte II.
Uma das trilogias mais famosas, mais comentadas, mais estudadas nas faculdades de cinema, mais tosca na tradução do título, entre diversos “mais”, O Poderoso Chefão é tudo isso que falam mesmo. E mesmo quem nunca assistiu a nenhum dos filmes, não só sabe do que se trata como cita FÁCIL umas duas frases usadas pelos personagens. Por exemplo…
I’m gonna make him an offert he can’t refuse”
“Eu vou fazer uma proposta que ele não poderá recusar”
Na lista de favoritos de 10 entre 10 cinéfilos, confesso que enrolei muito pra escrever essa resenha. Qualquer um que ler vai achar uma porcaria, e é normal, porque NINGUÉM consegue descrever tão bem O Poderoso Chefão quanto nós mesmos. Eu mesma nunca li uma boa resenha antes. E acho que nem a minha vai ser o caso. Só sei que vou tentar variar um pouco e escrever pra vocês na linguagem despojada que vocês já conhecem e adoram. Enfim, vou dividir a resenha em três partes, obviamente, que serão postadas durante 3 semanas. Siiimm, terá um BéT extra semana que vem pra compensar o último que eu debizei. Mas chega de preliminares, vamos aos finalmentes. Por sinal, MIMIMI, CHEIO DE SPOILER DAQUI PRA FRENTE. Não chorem depois.
Tudo começa no escuro, com uma voz masculina de sotaque italiano dizendo “Eu acredito na América”. Esse cara explica que criou a filha a moda americana, toda soltinha e serelepe e um belo dia uns caras embebedaram a mulher e, como ela não quis soltar a carrapeta, bateram na pobre até ela ter que colocar um fio pra segurar a boca. Ele contou isso pro Don Corleone de forma mais bonita, claro. Bonasera, um dono de funerária, pede pro Don matar os putos que fizeram isso com a filha dele. E é então que Vito Corleone faz aquele discurso QUASE moralista. Se ele não estivesse falando… sobre o que tava falando, você quase apoiaria e acharia absurdo o cara ter procurado a polícia antes de falar com o Don.
Essa conversa se dá num escritório escuro da casa dos Corleone, ao mesmo tempo que acontece a festa de casamento da única mulher da prole de Vito. E Bonasera não é o único a pedir um favorzinho, já que a tradição siciliana diz que um homem não pode negar favores no dia do casamento de sua filha. Então geral resolve pedir alguma coisa e Vito já deixa bem avisado, pra quem não sabe, que um dia vai cobrar o favor de volta. E cobra mesmo.
No casamento, ainda com a roupa militar de quem acaba de voltar da Segunda Guerra Mundial, o caçula dos Corleone aparece com cara (e caráter) de bom moço. Michael traz junto sua namorada, Kay Adams. Então ele conta uma historinha de como o pai ajudou um cantor famoso a chegar onde chegou, fazendo o líder de sua antiga banda desistir de um contrato com uma proposta que ele não poderia recusar. Kay fica horrorizada e Michael deixa claro que aquilo é a família dele, não ele. Por sinal, Kay e Michael são atores desconhecidos, uns tais Diane Keaton e Al Pacino versão pele de pêssego.
Em um dado ponto, Don Corleone sai pra comprar umas frutas e é baleado. É uma cena clássica e se você não conhece nem isso, SHAME ON YOU e que deus Buñuel te almadiçoe. Tem até uma paródia dela em A Máfia no Divã. Vocês realmente me envergonham e… Ah, o filme. Michael descobre sobre seu pai através de um jornal e vai o mais rápido possível pro hospital. Chegando lá, vê que o cara tá sem nenhum guarda-costas e quase segurando uma plaquinha de “atire na cabeça. NA CABEÇA”, numa clara armadilha. Michael, com a ajuda de uma enfermeira e de um confeiteiro que brota do nada, consegue despistar os atiradores que vinham atrás de seu pai. Só que um chefão da polícia chega e, como é pago por um dos N inimigos dos Corleone, desce o sarrafo no Michael. Isso, junto ao fato de ver o pai na cama totalmente a mercê da fúria das outras Famílias, desperta no rapaz o mafioso que estava escondido. E é com um tiroteio que a primeira parte do filme acaba.
INTERMISION
Coppola ia colocar aqueles minutinhos de intervalo que é clássico nos clássicos nesse momento, mas achou que seria melhor evitar distrações pra que o espectador não perdesse o fio da meada. Particularmente, acho que os minutos do intervalo são inúteis. Mal dá pra ir ao banheiro… Serve mais pra distrair mesmo. Ainda bem que não existe mais isso.
/INTERMISION
Michael foi pra Itália passar uma adorável temporada se esconder. E se escondendo, acaba se casando com uma italiana. Não sei porquê, perguntem pro Puzo. Nesse meio tempo, Sonny, outro filho de Vito, assume o posto pra que foi preparado, o de Don. Só que acabam armando pra ele, e no fim das contas quem realmente assume o posto de poderoso chefão (esse título me deprime… Quem foi o tradutor infeliz que fez isso?) é Michael, que volta totalmente mudado da Itália. Eu poderia spoilerzar ainda mais, mas acho que os acontecimentos daqui pra frente perderiam toda a graça se eu contasse antes.
Nessa adaptação do livro homônimo de Mario Puzo, Coppola ficou com os calcanhares doídos de tanto bater o pé no chão. Por muito pouco o projeto não sai da teoria, já que os estúdios estavam em crise e a sétima arte andava desacreditada por conta da popularização da TV. Quando finalmente conseguiram apoio financeiro, todos encrencavam com TUDO da realização do filme, desde a escolha dos atores a trilha musical. Mas no fim deu tudo certo e acabou saindo a primeira parte dessa trilogia que fala muito mais do que sobre o crime organizado, mas sobre a história de uma família italiana. E famílias italianas são… cheias de eventos, por assim dizer. Eu não tenho uma, mas acredito fielmente nas novelas da globo.
E por mais que tenham encrencado com o protagonista (que não, não é o Marlon Brando), Al Pacino é a escolha perfeita. É gritante a forma com que ele muda o semblante da cena do seu casamento na Itália pra seguinte, quando reecontra Kay. Uma hora ele é o bom rapaz que quer se manter longe dos negócios da família, um Pacino IRRECONHECÍVEL. Na outra, ele É o Don Corleone, pronto pra batizar criancinhas, comprar senadores e matar quem se meter no caminho. Pacinão old school, do jeito que a gente tá acostumado.
Dos outros do elenco, eu prefiro falar nas duas outras partes. Esse filme é realmente do Al. Marlon Brando está, na minha opinião, numa atuação sofrível. *Desvia da pedra* Mas como é esse mesmo o objetivo, isto é, mostrar um cara acabado, tá valendo. Tanto que até ganhou um Oscar. Não que isso signifique grandes coisas, mas em 72 levaram a estatueta de Melhor Ator, Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado. Tirando o primeiro quesito, os outros dois são merecidíssimos.
O primeiro é o melhor do três, pra mim. E acostumem-se, verdadeiros admiradores da trilogia tratam os filmes só por “primeiro, segundo e terceiro”. Então recomendo altamente que vocês o assistam antes da semana que vem, quando vou falar do segundo. Aliás, recomendo que assistam duas vezes. Tem gente que não vai com a cara das coisas de primeira…
Atenção especial pra duas das MINHAS cenas favoritas (não tô falando de melhor cena, ou mais bem feita ou qualquer coisa assim. São só as que eu, egoísticamente falando, gosto mais): 1- A cabeça do cavalo na cama de um chefão de cinema e 2- “Deixe a arma. Pegue o cannoli”. Eu choro de rir com essa segunda.
É isso. ASSISTAM OS FILMES, MALDITOS.
O Poderoso Chefão
The Godfather (175 minutos – Crime/Drama)
Lançamento: EUA, 1972
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola
Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire, John Cazale
Leia mais em: Al Pacino, Clássicos, Coppola, Máfia, Marlon Brando, O Poderoso Chefão