O problema do entretenimento
Depois de algumas reflexões sobre música, cinema e tv, acabei me perguntando: Qual o problema com o entretenimento atual? Esta indagação me ocorreu ao ver que todos os meus textos aqui no Bacon são escritos justamente para criticar algo que eu acho que está fora do lugar; quem leu sabe disso. A resposta, logicamente, não veio facilmente e provável que o que eu vá falar aqui não agrade a todos, talvez a ninguém. Porém temos de concordar, há um problema com a forma de se fazer filmes, programas de tv e música hoje em dia.
Entretenimento é uma indústria e inocentes seríamos se acreditássemos que os envolvidos com esta indústria querem fazer apenas que as pessoas relaxem e tenham bons momentos a frente da tv, ou do cinema ou de seu computador (Ou você acha que eu não sei que você escuta música nele a maioria das vezes?). O principal objetivo é gerar lucro, isso porque business is business. E gerar lucro não é uma coisa tão maligna quanto eu gosto de pensar na maioria das vezes, é uma recompensa concreta por um trabalho, o grande problema é querer lucro fácil. Pessoas normais imersas dentro de um sistema capitalista fazem as coisas por amor sim, mas desde que o amor seja muito bem remunerado. O grande problema é como eles fazem, a quais pressões eles cedem, a quais fins eles obedecem que os tornam escravos do lucro fácil.
Vamos pegar um exemplo concreto que irá facilitar para todo mundo. A Rede Globo de Televisão, que é a maior do Brasil e uma das maiores do mundo, possui valores de produção altíssimos, coisa de primeiro mundo. As tomadas são bem feitas, a imagem é limpa, o som é ótimo, as pessoas são bonitas. Vira e mexe a Globo consegue se superar e deixar pérolas, com a mini-série Capitu por exemplo. O grande problema é que em geral a Globo prefere não inovar, prefere repetir a exaustão as mesmas fórmulas que a consagraram. Nem vou entrar no ponto do posicionamento político da rede, aos interesses do grande capital e as inclinações claramente antidemocráticas que ela possui, quero falar apenas da maneira como ela subestima a inteligência do telespectador. Veja bem, eles vêem repetindo a mesma história nas novelas a quantos anos? Quarenta? E Malhação, que nem ao menos é disfarçada com tramas secundárias que servem para dar uma corzinha? E os programas de humor? Quem em sã consciência ainda assiste Didi e a Zorra Total? São ótimos programas. Para pessoas com tumor cerebral.
Os programas que a Grobo nos faz engolir são por demais indigestos. Eu sei que existem pessoas que ainda gostam. Novelas principalmente nunca sairão de moda, porém temos toda uma nova geração que vê o humor de maneira diferente, que vê as situações do cotidiano de maneira diferente. O brasileiro médio (Excluindo os evangélicos fundamentalistas e outros tipos de boçais por ai) não irá se importar com um pouco de palavrão em um programa, ou a uns beijos gays, ou a pessoas que têm problemas com drogas e que nem sempre conseguem se livrar como se tudo fosse um conto de fadas.
Onde eu quero chegar com tudo isso? Para mim, o mal que padece a indústria do entretenimento chama-se conservadorismo. As pessoas nos altos cargos nas redes de televisão, nos grandes estúdios de cinema e nas grandes gravadoras têm medo de ousar. E esse medo de ousar vai levá-los a ruína, pois eles estão negligenciando toda uma nova geração de consumidores que não estão satisfeitos com os produtos oferecidos. Em breve a minha geração, essa que hoje está com seus vinte, será a principal consumidora, uma vez que ela está cada vez mais próxima de entrar no mercado de trabalho de maneira efetiva. E eu vou te contar, essa é uma geração mais exigente. Os jovens que hoje têm entre vinte e trinta anos fazem parte de uma parcela da população que está conectada com o mundo, que sabe lidar com diversos tipos de informação e têm a internet como a sua principal mídia. Eles sabem procurar o que gostam, não são obrigados a assistir programas pois não têm outra opção, e esse sempre foi o grande trunfo da televisão: Enfiar goela abaixo seus conteúdos. Esses jovens tão dotados de inteligência rara não são consumidores comuns, eles precisam de um algo mais. Nem que seja de um palavrão catártico na novela das nove.
Tá na hora de abrir a mente dos tiozões de sessenta anos para que eles passam ver que é hora de se aposentar e deixarem a mudança na sociedade operar sozinha. Parar de censurar bons humoristas, fazendo-os ter papeis ridículos em um programa ridículo; é deixar os jovens diretores terem controle sobre seus filmes e os músicos sobre suas músicas. Será que não é o conservadorismo que deixou os anos 2000 no limbo? Ou você acha que algo realmente grande e inovador surgiu na década que se passou? Eu acho que não. O que a gente viu foram ótimos trabalhos que repetiram fórmulas consagradas, ou que resgataram elementos de uma época mais prolífera do que a nossa. Ou nem isso. Se uma nova mentalidade não passar a governar as produções, fatalmente criações alternativas feitas na internet irão engolir tudo; e à televisão (Principalmente) restará reciclar os conteúdos internéticos (Como em grande parte já o fazem).
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