O que esperar do UFC 198?

Televisão sexta-feira, 13 de maio de 2016

Finalmente o Brasil receberá um mega evento do UFC no próximo sábado amanhã (14). A edição de número 198 acontecerá em Curitiba, na Arena da Baixada, e contará com um card de primeira linha, depois de uma série de eventinhos inexpressivos que sequer valeram minha assinatura mensal do Canal Combate. Teremos a estreia tão esperada de Cris Cyborg na organização, o embate entre os brasileiros Vitor Belfort e Ronaldo Jacaré e, pra coroar, a luta principal da noite, quando Fabrício Werdum e o croata Stipe Miocic irão disputar o cinturão dos pesos-pesados. Anderson Silva lutaria contra o americano Uriah Hall, mas o ex-campeão, em sua maré de azar que parece não cessar, retirou a vesícula de emergência e precisou se afastar. Não importa. Vai ser duro, vai ser rude. Vai ser do caralho. E, mesmo que você não goste de luta, não pode perder.

Então, o que esperar do UFC 198, além de muito dinheiro no bolso dos irmãos Fertitta e do CEO, Dana White?

…tem também Bruce Buffer falando português melhor do que você.

Cota para lutadores decadentes

Parte do entretenimento do MMA é ter o prazer de conferir, vez ou outra, dinossauros do esporte ainda na atividade. Bellator, a principal organização rival, praticamente sobrevive de lutas que ninguém teria coragem de promover. Recentemente Ken Shamrock, de 52 anos, enfrentou pela terceira vez a lenda do jiu-jitsu, Royce Gracie, de 49. Ambos começaram a lutar profissionalmente em 1993. MIL NOVECENTOS E NOVENTA E TRÊS. Inclusive se enfrentaram pela primeira vez no UFC 1. Façam as contas e mensurem o tamanho da irresponsabilidade. Esse é apenas um de vários exemplos. O espectador fica entre a cruz e a espada. A nostalgia e o constrangimento. Se no último fim de semana assistimos a uma rápida, porém boa, disputa entre Alistair Overeem, que tem mais de 40 lutas na carreira desde o Pride, e Andrei Arlovski, bielorusso que debutou profissionalmente em 2000 e conquistou, em 2005, o cinturão dos pesados, o UFC Curitiba dará espaço a dois dos atletas mais queridos, porém contraproducentes, dos últimos tempos.

É bem verdade que Mauricio ‘Shogun’ Rua venceu sua última luta contra o Minotouro, de quem falaremos logo menos, mas teve duas derrotas importantes contra Ovince Saint-Preux e… Dan Henderson, outro veterano do esporte que também já está fazendo hora extra no octógono. Apesar de semi desconhecido, o oponente Corey Anderson tem apenas uma derrota na carreira e vem de uma sequência sólida de vitórias. Desde que entrou na organização, em 2014, após vencer o The Ultimate Fighter Team Edgar vs. Team Penn, já lutou seis vezes, enquanto Shogun enfrentou apenas três adversários no período.

Ta difícil. Ta lamentável.

Rogério Minotouro, que não seguiu os passos do irmão rumo à aposentadoria e um cargo comissionado muito bem pago no UFC, vai enfrentar no card preliminar Patrick Cummins. A última vitória, espantosa e improvável, da carreira do irmão menos talentoso do clã Minota foi contra Rashad Evans, apenas para, em seguida, ser nocauteado violentamente por Anthony Johnson em 2014 e perder por decisão unanime para… Mauricio Shogun, no UFC 190, ainda no ano passado.

Uma derrota, para ambos os brasileiros, pode resultar em demissão/sugestão de aposentadoria por parte do chefão Dana White, o que não seria nada mal por motivos de: Não há condições de continuar. Mesmo com vitória, sustento a opinião de que pendurar as luvinhas seja a melhor saída para os dois.

Estreia da Cyborg no UFC

Estrela do Invicta FC, com 17 lutas e apenas uma derrota, Cris Cyborg vai fazer sua primeira luta pelo UFC contra Leslie (who?) Smith. O embate é o pontapé inicial para que a brasileira de 30 anos dispute o cinturão dos galos, divisão da elite do MMA feminino, cuja atual campeã é a americana Miesha Tate. Mesmo sem qualquer luta no evento, a mídia especializada e os fãs apostam nela para brutalizar toda e qualquer adversária que se colocar em seu caminho. Agora que o mito da invencibilidade de Ronda Rousey caiu e os cifrões que vinham junto com ele também, é a chance de mostrar a que veio. Menos estética e mais garra. Menos suquinho e mais treino.

Melhor card do ano (Até agora)

Hold the marimba

O UFC, em 2016, teve boas lutas principais, não posso negar as aparências, tampouco disfarçar as evidências. Mas nem sei o que dizer, só sentir, em relação ao card de Werdum vs. Miocic. Até as preliminares, que geralmente são meio frias, estão com vibe de main event. Chega a causar certo estranhamento, pois desde que o UFC absorveu Strikeforce e WEC, os eventos, em geral, estão priorizando a quantidade e ignorando a qualidade. Dá até gosto de bater no peito e dizer: MMA é melhor que futebol quando Demian Maia e Matt Brown, dois nomes que estão na roda há tempos, vão abrir os trabalhos. Francisco Trinaldo (Massaranduba), figura mais carismática do TUF Brasil, e John Lineker também ajudam a dar um reforço no esquenta. Nota 10 pra comissão de frente do UFC Curitiba e para Joe Silva. Obrigada por casar essas lutas tão maravilhosas.

A retirada de Anderson Silva e Uriah Hall, apesar de decepcionante, não compromete o entretenimento. Bom para o invicto Warlley Alves e seu oponente, o americano Bryan Barberena, que saíram das preliminares direto para as lutas principais. É claro que a mudança chateia, principalmente porque, desde 2015, essas surpresas amargas têm sido recorrentes. Só nos últimos meses, Rafael dos Anjos, Fabricio Werdum e Daniel Cormier se lesionaram durante os treinos e precisaram, na última hora, cancelar suas lutas pelos respectivos cinturões. Já Lyoto Machida foi afastado do UFC on FOX 19 por utilizar uma substância proibida qualquer.

Até tu, Dragão?

Até por essas questões, precisaremos esperar alguns meses para decidir qual será o melhor evento do ano, ou do semestre, já que em junho, no UFC 199, Chris Weidman terá sua revanche contra o campeão Luke Rockhold e acontecerá também o terceiro encontro entre Dominick Cruz e Urijah Faber, recordista de disputas frustradas pelo cinturão, no mínimo cinco ao longo da carreira. A cota de lutadores que não deveriam mais estar na ativa fica por conta de B.J. Penn, que já tentou se aposentar umas 800 vezes mas, como os assassinos de slasher movies, sempre volta para passar vergonha e Dan Henderson, escalado para tomar uma surra do cubano Hector Lombard.

O UFC 200 tem tudo para ser um dos maiores cards dos últimos tempos, caso se mantenha intacto, o que é impossível, já que possui o maior potencial de lesões por metro quadrado. O plano inicial consiste na revanche entre Daniel Cormier e Jon Jones pela unificação do cinturão dos meio-pesados, José Aldo e Frankie Edgar disputando o título interino dos penas, enquanto McGregor tira férias nas divisões acima, além da tentativa de colocar Cain Velasquez – novamente – na ativa. Essa configuração deverá ser completamente modificada, porque o histórico de pelo menos 50% desses lutadores é, ó, uma bosta. Aldo é PhD em pular fora em cima da hora, já fez isso pelo menos seis vezes ao longo da carreira. A última acabou custando o título de campeão, enquanto Velasquez está na constante recuperação… De lesões constantes. Jon Jones é um caso a parte. Um dos mais talentosos atletas que o esporte já viu, tem como maior inimigo si mesmo. E a justiça. Não sendo preso até julho, deve confirmar presença.

Minhas apostas para o card principal

Quem conferiu o post do Oscar sabe que eu sou boa de apostas. Vamos deixar os próximos eventos de lado e focar no que interessa: UFC Curitiba.

Fabricio Werdum x Stipe Miocic

Aposto no Werdum porque ele vem avassalador. Depois de amargar alguns anos de instabilidade, se firmou como campeão e tem no seu cartel seis vitórias consecutivas, apenas duas por decisão unanime. Do outro lado do octógono, temos Stipe Miocic, cujas últimas vitórias foram sobre Mark Hunt e Andrei Arlovski, dois lutadores que estão longe da qualidade técnica do Vai Cavalo. Plus: Perdeu pro Cigano. E quem viu sabe de que Cigano estamos falando.

Vitor Belfort x Ronaldo Jacaré

Há alguns meses eu teria apostado vida, toba, apartamento e conta bancária em Belfort. Após a suspensão da licença para uso de TRT perdeu muito do aproveitamento, mas continua sendo um monstro na técnica, afinal, está no esporte há 20 anos e, beirando os 40, não está nem perto de atingir o low point da carreira. Sua última derrota foi contra o ex-campeão dos médios, Chris Weidman, o que não é nenhum demérito para o veterano.

Apesar do oponente perigoso, Jacaré está no auge. Vem de derrota por decisão dividida para o cubano Yoel Romero, mas venceu oito oponentes antes do revés. Foi campeão dos médios no falecido Strikeforce e essa luta definirá qual será o próximo desafiante da divisão dos médios. E eu acredito que seja a hora dele.

Cris Cyborg x Leslie Smith

A última derrota da brasileira foi em 2005. Ex-campeã do Strikeforce e do Invicta FC, é a mais proeminente atleta do esporte. Não tem Ronda, Gina Carano ou Tate que segurem. Teve sua reputação colocada em xeque quando foi pega no antidoping, em 2011. Mas, em toda a carreira, apenas duas de suas vitórias foram para decisão, o que é impressionante.

Leslie Smith é uma ilustre desconhecida, com um cartel irregular de, no máximo, duas vitórias consecutivas. Faço duas apostas para essa luta: Nocaute mais rápido do card e, como não poderia deixar de ser, prêmio de Maior Brutalização Nocaute da Noite para Cris Cyborg.

Mauricio ‘Shogun’ Rua x Corey Anderson

Corey Anderson. TKO na primeira metade do segundo round, por incapacidade respiratória do brasileiro.

Warlley Alves x Bryan Barberena

Aposto no Alves porque ele está invicto, vai lutar em casa e o Barberena não tem, sequer, página na Wikipedia.

O UFC 198 será transmitido a partir das 20h30 da noite, no Canal Combate. A Rede Globo confirmou que passará o main event completo e ao vivo. O que deve ser lá pro dia 14 de maio de 2023.

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