O Sobrevivente (Chuck Palahniuk)
Um dos problemas pessoais que carrego é a incapacidade de entender certas coisas: Baseball, calças rasgadas, mulheres estatística e Clube da Luta. Quero dizer, entendo a coisa toda do maluco ser problemático, de querer apanhar e tudo mais, mas definitivamente não entendo o porquê da galera gostar tanto assim daquele troço, sendo que não faz o menor sentido você criar um clube e se culpar pelas merdas que você faz com o clube, enquanto você come a mulher e não cuida do clube, pra tudo explodir no final.
E foda-se se isso é spoiler.
Por que falar de Clube da Luta, sendo que o post é sobre O Sobrevivente? Fácil: Porque é a mesma fórmula. Todo aquele clima de “a sociedade é uma merda capitalista e temos de quebrar tudo pra mostrar que as coisas podem ser diferentes” também está aqui, mas dessa vez você não apanha pra aprender, você fica famoso vendendo religião. Todas aquelas voltas e mais voltas, que no fim só falam a mesma coisa (Que na realidade nem é tão importante assim) também estão presentes… Tem até a mulé sem importância, só pra dar volume.
Não li outras coisas do autor, mas sou capaz de apostar que todos eles são do mesmo tipo. E o pior: Tenho certeza que ganho a aposta. Porra, até os títulos do cara seguem a mesma fórmula. Não tem conteúdo nenhum, é crítica pela crítica, no mais digno nível de quem está #chatiado porque não deu para comprar o mais novo álbum do Avenged Sevenfold. Ok, a desigualdade, o consumismo, a venda da religião, a banalização de tantas coisas são realmente problemas com que temos que lidar (Apesar de estes estarem a um passo de se tornarem inerentes à humanidade), mas não é destruindo praças públicas e vendendo bíblias que se faz isso.
É tipo de livro pra adolescente revolts, que não está satisfeito com porra nenhuma e que acha a morte uma alternativa válida. Vão em frente, só não culpem os video games e a internet.
Ainda não falei da história, então vamos com um resumo: Tender Branson fazia parte de uma igreja maluca que vivia isolada da sociedade e tinha suas próprias regras. Uma dessas regras era que o primogênito de cada família ficava com tudo (Casa, terras, deveres, etc.) enquanto que os outros filhos eram enviados ao “mundo exterior” para trabalhar com jardineiros, empregadas, mordomos e coisas do tipo. Outra regra era que no final, todos deveriam morrer e ir para os braços do senhor, e assim foi, menos com uma parte da galera que já estava fora, trabalhando. Acontece que estes que sobraram começaram a morrer, até restar apenas Tender, e aí colocam o cara como messias religioso pra vender um monte de trambicagem. Mas como ele fazia parte do culto lá, vive tentando se matar, e é assim que começa o livro, com ele num avião que está caindo.
Parece interessante, mas não é. Sério, tudo que poderia dar uma reviravolta na história passa como se não fosse grande coisa, incluindo o irmão gêmeo de Tender, a garota por quem ele se apaixona, a assistente social e todo o resto. É superficial, sem graça, dispensável: Nenhum faz realmente diferença na história, incluindo o personagem principal, que só está alí justamente por ser o principal.
Mas isso é justamente o que o autor quis passar.
Não, não é. Ninguém escreve uma história para ser dispensável. Pode-se fazer isso com personagens, com situações e coisas do tipo, mas não com um livro inteiro. Mas de tudo, o que me deixa mais… Desconcertado é que o autor, aquele cara de queixo quadrado alí em cima, é justamente o estereótipo que ele mesmo cria em seus livros: Um cara feio, “parte do sistema”, que acha incrivelmente legal tomar umas porradas e que vive reclamando o quão merda é a sua vida.
Então, ele tem BASE pra falar o que fala!
Base tem meu pau, isso é hipocrisia. O livro todo é um desperdício de tempo, não só de quem leu, mas do próprio autor, e a cereja do bolo: Essa merda vendeu um monte, e virou símbolo pra uma galera que acha que tudo que está alí é incrível. Cara, essa merda está fazendo justamente o que ela critica. E critica mal! De tudo que o livro apresenta, apenas uma coisa me chamou atenção: Os “truques” que o personagem usa para cuidar da casa. Coisas como jeitos de tirar manchas, preparar pratos, limpar coisas e afins. Não sei se de fato funcionam, mas são interessantes.
Não sei quanto tempo gastei lendo, mas tenho certeza que joguei essas horas no limbo, junto com as horas que passei assistindo Clube da Luta. Não é um livro grande (Felizmente), mas se mesmo depois de tudo que eu disse aqui, vocês resolverem ler, pelo menos tenham consciência de que ninguém toma um avião só com uma pistola.
O Sobrevivente
Survivor
Ano de Edição: 2003
Autor: Chuck Palahniuk
Número de Páginas: 239
Editora: Nova Alexandria
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