O Vencedor (The Fighter)
O Vencedor acompanha Mickey Ward, uma eterna promessa do boxe que nunca vinga. É treinado pelo problemático meio-irmão Dicky Ecklund, ex-boxeador, mas que acabou com a carreira por causa do vício em crack. E é agenciado pela mãe, que não possui estrutura nenhuma para tal atividade – nem estrutura emocional. Os dois acabam, mesmo que não intencionalmente, atrapalhando a carreira de Mickey, que começa a ser aconselhado por sua namorada, Charlene, a largar os dois e encarar a carreira de maneira mais profissional, para, enfim, deixar de ser uma promessa e se tornar uma realidade no mundo do boxe. Baseado em uma história real.
O filme do diretor David O. Russel (Aquele que fez Três Reis) foi moldado para o Oscar: Uma abordagem típica de filmes aclamados pela Academia; apuro técnico imenso; belas atuações; história de superação (Até certo ponto) e a data em que foi lançado, pouco antes da temporada de premiações de Associações e Sindicatos. Mas apesar desse preconceito que há com esses filmes, a verdade é que a maioria consiste em excelentes longas. O que é o que acontece aqui, com O Vencedor, que justifica e merece cada uma das suas sete indicações ao Oscar.
E não é fácil vencer esse preconceito. Boa parte do público encara com antipatia e nariz torto filmes que recebem um número grande de indicações ao Oscar, por achar que tais filmes sejam “difíceis”, “cults” ou “ninguém entende”; têm até a alcunha de “filme de Oscar”, como todos conhecem. Besteira. E eles sabem disso. Eu sei, você sabe e Hollywood sabe, por isso guarda suas apostas para poucas semanas antes das premiações, para que o filme fique fresco na memória dos votantes.
E, como sempre acontece, o público brasileiro só recebe esses filmes no primeiro tribimestre do ano. Já passamos por Inverno da Alma e, essa semana, temos esse O Vencedor e Cisne Negro (Meu favorito, assistam, por favor, melhor filme do ano e vale demais a nota 10 que o Vassourada deu pra ele). Semana que vem os dois filmes mais indicados ao Oscar chegam aos cinemas brasileiros, Bravura Indômita (Com 10) e O Discurso do Rei (Com 12).
(Mais um parêntese: A gente reclama na demora na chegada de certos filmes, mas, comparado com antigamente, os filmes chegam até que rápido. Alien – O Oitavo Passageiro, por exemplo, estreou no Brasil 1 ano depois de ter sido lançado nos EUA. E isso em 1979/1980. Mas divago; deixa eu voltar pr’O Vencedor).
O roteiro, redondo, é conduzido de maneira excelente por O. Russel. Perceba como ele usa os enquadramentos de maneira inteligente: Nos aproxima dos irmãos protagonistas logo no começo, mas, já na sequência, afasta a câmera, nos alertando a acompanhar a trajetória dos dois com certa distância. E, para evidenciar que Dicky e Alice (A mãe de Mickey) não têm más intenções, somos diversas vezes colocados ao lado deles, tendo o ponto de vista deles, mostrando que eles não agem por mal, estão apenas protegendo Mickey, mesmo que isso acabe o atrapalhando. E tudo isso usando apenas as posições das câmeras e a bela edição.
A sua direção de atores também é excepcional: Comandando um elenco impecável, sem ponta frouxa, sem fraca atuação. Mark Wahlberg cria um personagem forte, mas que ainda hesita em sair das asas da família, sem fazer dele um bebê crescido. Amy Adams e Melissa Leo, indicadas ao Oscar de Atriz Coadjuvante, também se destacam no elenco. Adams abandona sua característica sutileza, criando uma personagem firme, apaixonada por Mickey e que só quer o bem dele. Leo faz, como ninguém, uma mãe superprotetora e desajustada. E ela tem minha torcida no Oscar.
Mas o grande destaque do elenco é Christian Bale (Eu ia chamá-lo de camaleão, mas camaleão já o Johnny Depp. Inventem algum adjetivo pro Bale, por favor). O ator perdeu os músculos de Bruce Wayne para incorporar o fracassado boxeador viciado em crack. Mas a performance de Bale não se apega somente à entrega física do ator; ele cria um personagem multidimensional. Desastrado, mas bem intencionado, logo desperta nossa simpatia. Atingindo uma dicção e um sotaque de fazer inveja em muito ator consagrado, Bale dá uma verossimilhança absurda à Dicky. E seu olhar apenas eleva o nível de sua atuação, que será coroada – mais que merecidamente – com o Oscar. Para corroborar sua atuação, basta olhar para o pôster do filme: Apesar de ser coadjuvante, ele surge ocupando quase todo o espaço disponível.
O que acontece com o boxe, que rende tantos filmes memoráveis? Rocky, Touro Indomável, Menina de Ouro e, agora, O Vencedor. Grande filme em suas atuações, com roteiro redondo e raras falhas. Talvez apenas por não aproveitar para investir em mais situações com Dicky, como sua abstinência ao crack, por exemplo. Mas é um dos melhores do ano, merecidas indicações ao Oscar, inclusive em Melhor Filme.
(Outra divagação: Já assisti a oito dos dez filmes indicados ao Oscar como melhor filme – falta-me apenas Bravura Indômita e 127 Horas – e, desses oito, sete fazem por merecer suas indicações. Apenas o superstimado Minhas Mães e Meu Pai, que claramente foi indicado apenas para afagar o mercado indie americano, não merecia estar aqui).
O Vencedor
The Fighter (114 minutos – Drama)
Lançamento: EUA, 2011
Direção: David O. Russel
Roteiro: Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson
Elenco: Mark Wahlberg, Amy Adams, Melissa Leo, George Ward e Christian Bale
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