O Vício da Leitura
Certa vez, li uma crônica de certo escritor famoso que agora me foge o nome, mas que sem dúvida deve estar guardado em algum canto dentro desse campo minado que é meu quarto. Nesta crônica, ele descreve sua paixão por letras impressas e alguns fatos um tanto quanto bizarros que já aconteceram devido o seu vício pela leitura, como por exemplo ler as etiquetas “quente” e “fria” das torneiras do banheiro do hotel. Inspirada em parte por essa crônica deste ilustre autor esquecido, vim dedilhar algumas linhas sobre este adorável vício da leitura e de como me tornei uma viciada em letras aos meus ternos 4 anos de idade…
Todo vício começa com pequenas coisas, uma pequena dose diária basta para aqueles que já possuem alguma inclinação para tal. E minha inclinação tem fundo genético. Meu pai que me iniciou neste mundo, quando eu ainda nem usava óculos ou conseguia enxergar decentemente as ilustrações. Quando ainda tinha míseros 4 anos de idade, inaugurou perto de minha residência uma biblioteca pública, a salvação danação dos viciados que não conseguem bancar seu vício. Toda semana, essa então inocente criança que agora vos escreve ia com seu progenitor até tal recinto e ali escolhia o livro que seria lido para ela. Eram sempre dois livros para meu pai e um livro para mim. Bons tempos aqueles…
Lembro com saudade de uma coleção que possuía um livro para cada mês e uma história para cada dia do ano. Eram histórias de príncipes e princesas, animais falantes, índios, lendas, poemas, histórias diversas que me fisgaram completamente. Depois que aprendi a ler, o vicio se tornou maior. Agora não precisava mais esperar que alguém lesse, agora só precisava pegar um livro e sentar-me em um canto. Pronto. Ficava ali perdida em meio a tantas aventuras.
Com o tempo, o vicio foi aumentando. Os livros ficando cada vez mais grossos e quase sem ilustrações. Eu ia de Irmãos Grimm até as histórias da Barbie durante a infância. Lembro em particular de livros que amei como O Senhor da Escuridão de Lorenço Cazarré, que contava a história de um garoto que se transformou em rato e quando acordou, não sabia se foi apenas um sonho ou realidade. Algo parecido com Kafka, ou quase. Lembro de que, no começo de cada ano letivo, ao pegar o livro de português, não parava até ler todos os textos que lá havia. Foi num desses livros que descobri que o que Serafina escondia em seu diário secreto em O Diário Escondido de Serafina de Cristina Porto, os problemas da rua do Ziza e da Clarabel em Nossa Rua tem um Problema de Ricardo Azevedo, o que Guga e Ritinha pensavam um do outro e o que eles tinham a ver com anjos e jardins em Um anjo no jardim de Lino de Albergaria, e claro, descobri também, Marina Colasanti, com suas idéias todas azuis.
É tanta nostalgia que até dá vontade de chorar… Mas vamos em frente!
Aos poucos, fui deixando esses livros mais infantis e indo para os juvenis. A coleção Vagalume me fez grande companhia nas tardes de preguiça, seja com o mistério que cercava as pessoas ruivas de uma pequena cidade e os escaravelhos em O Escaravelho do Diabo ou as histórias de um motoboy em Pega Ladrão. O que dizer também de Stella Carr? É tão saudoso lembrar-se de seus livros e mistérios, como O Segredo do Museu Imperial, A Morte tem 7 Herdeiros e O Esqueleto Atrás do Armário. Foi por causa de Stella que conheci Agatha e me apaixonei.
Quanta saudade! Com tanta coisa boa na literatura brasileira, esses adolescentes se perdem com embustes e figurantes de livros. Duvido que esses fãs dos livros de Meg Cabot, Sthephenie Meyer, J. K. Rowling e companhia conheçam alguns dos autores infanto-juvenis do Brasil.
Continuemos então… Depois disso me aventurei a novos mares, com Artemis Fowl e sua genialidade ou então com as biografias dos Mortos de Fama, sim, ambos internacionais, porém não me esqueci dos frutos de nosso Brasil. Foi nessa época também que passei a conhecer Alencar, Machado, entre outros. Me surpreendi com as damas de Alencar, tão ricas e decididas, querendo criar seus próprios caminhos. Nessa fase de ensino médio, descobri Paulo Rangel e seu personagem Ivo Cotoxó, que além de boas histórias, conseguia descrever também problemas sociais e levava seus leitores a pensar.
Com o tempo, cheguei aos clássicos da literatura mundial, como O morro dos ventos uivantes, Orgulho e Preconceito, O Senhor dos Anéis, entre tantos outros que me divertem, me ensinam, me fazem cair cada vez mais apaixonada e viciada por letrinhas impressas no papel e vindas de alguma mente criativa que soube delinear uma idéia e a deu de presente a esses ávidos leitores que todos somos.
Hoje em dia estou lendo três livros simultaneamente, tamanha é minha paixão por eles. Me despeço aqui, tenho Truman Capote, James Joyce e Massimo Grillandi para me fazer companhia.
Leia mais em: Literatura Brasileira, Literatura Infanto-Juvenil, Matérias - Literatura