O Xangô de Baker Street (Jô Soares)
Como prometido no post anterior, cá estou eu para fazer a análise dos livros de Jô Soares, começando pelo título O Xangô de Baker Street. Mas por que começar por esse? Primeiro por que eu quero, e segundo por que é o primeiro, entendeu?
Falando sério, dos três livros que Jô escreveu, esse de longe foi o de maior sucesso, tendo sido adaptado para o cinema em 1999, fazendo com que o filme se tornasse uma das mais bem sucedidas produções cinematográfica tupiniquins.
Antes de começar a falar do livro, gostaria de introduzir o assunto explicando a forma de escrita utilizada nesse livro. Jô trabalhou no livro como se fosse um relato verdadeiro, contado por alguém que presenciou a história, não que a narrativa seja em primeira pessoa, mas em alguns momentos a história contem tantos fatos reais que você pode muito bem se perguntar se aquilo realmente aconteceu. Por exemplo, a vinda de Sarah Bernhard ao Brasil é retratada no livro de uma forma um pouco diferente, mas ela realmente visitou o país umas quatro vezes.
A história se passa no Rio de janeiro, mais precisamente no ano de 1886, quando a atriz Sarah Bernhard vem pela primeira vez ao Brasil. Pra quem não sabe, Sarah é considerada uma diva francesa e fez muito sucesso no século retrasado. Enfim, seu talento era tanto que todos a aclamaram, inclusive o imperador Dom Pedro II, que após uma conversa acaba contando que havia comprado um violino Stradivarius para dar a Maria Luíza, Baronesa de Avaré, e que este havia sido roubado. Sarah então recomenda que ele entre em contato com um certo detetive inglês muito competente. É ai que Sherlock Holmes vem ao Brasil, a pedido do Imperador, para resolver mais este mistério. O intrigante, é que ao mesmo tempo inicia-se uma série de assassinatos envolvendo jovens prostitutas, sendo que em todos eles o assassino lhes decepa as orelhas, e aloja estrategicamente uma corda de violino nos pelos pubianos da vitima.
Mas ai você me pergunta: Tá, e daí? Alem disso o que tem demais nessa historinha clichê de mistério? A resposta é simples: Humor. Mesmo com todo o mistério envolvido na trama que faz você ter vontade de não largar o livro, querendo saber o que vai acontecer depois, o humor aguçado de Jô Soares coloca o detetive inglês em uma situações bem inusitadas. Por exemplo, quando por acidente Sherlock acaba inventando a caipirinha,ou quando ele visita um terreiro e descobre que é filho de Xangô (Daí o nome do livro), ou ainda quando ele fica impossibilitado de perseguir o assassino devido a uma feijoada bruta que comeu um pouco antes da perseguição. Isso sem contar é claro, que durante sua estada no Brasil, Sherlock Holmes não passa um dia sequer sem encher o seu cachimbo com uma porção de Cannabis.
O fato é que Jô se deu a liberdade de brincar com um personagem lendário da literatura mundial, dando a ele a sua versão de como tudo seria. Alguns consideram essa liberdade uma afronta a Sir Arthur Conan Doyle, enquanto outros a encaram como uma caracterista dos livros de Jô. Particularmente acho que em algumas partes do livro a coisa fica meio exagerada, mas acredito que isso acaba fazendo parte do charme do livro no final das contas.
Independentemente de você ter lido outras histórias de Sherlock Holmes ou não, a leitura de o Xangô de Baker Street é recomendada pra quem busca um bom livro nessa época de final de ano. Mãs, se você tá com preguiça, ou se ainda pensa que não vai ter saco pra ler livro nas férias por que vai estar com a cabeça cheia de etanol, busque a versão adaptada para o cinema. Não é a mesma coisa, mas é melhor do que nada.
Xangô de Baker Street
*O Xangô de Baker Street*
Ano de Edição: 1995
Autor: Jô Soares
Número de Páginas: 352
Editora: Companhia das Letras
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