Os filhotes de Cubo
Cubo é um thriller algo popular. Foi lançado em 1997 e, salvo as diferenças, foi um Jogos Mortais que deu menos certo. Enquanto o (Quase) debut de James Wan rendeu uma franquia milionária, mais materialista do que distópica em relação à Cubo que, além de render sequencias ruins, como Hypercubo e Cubo Zero, inspirou um recurso muito curioso: A alienação de desconhecidos, que precisam definir estratégias para sobreviver, em um espaço claustrofobicamente desconhecido.
Jogos Mortais se utiliza desse recurso fugindo das referências sci fi nas quais sua “contraparte” canadense mergulha. Mas, em geral, os filmes que optam por esse caminho, seguem a uma cartilha para fugir das consequências de raios lasers, armadilhas tecnologicamente avançadas e outras drogas. Lembrando que, excluindo o desespero de ser mira de alguma conspiração, essa história já foi vista naquele lugar que gosto muito de visitar… Além da Imaginação. Para os curiosos, vale conferir o episódio Five Characters in Search of an Exit.
Mas como o lance aqui é dica de cinema e não dicas eternas de Twilight Zone, vamos seguir em frente porque esse texto não vai se escrever sozinho. E todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite: Café e contemplação.
Dica #1 – Cubo (Cube)
Seis estranhos com diferentes personalidades são colocados em um labirinto sem fim contendo armadilhas mortais.
Eu to vendo você aí meio boiando, sem saber muito bem do que eu estou falando. Se tem menos de 25 anos, com certeza se perdeu nos meus paralelos porque não conferiu o thriller, abafado por outros sucessos. Alguns melhores, outros piores. Mas Cubo tem o seu valor.
No filme, seis pessoas são colocadas em compartimentos recheados de armadilhas e truques. Conforme vão descobrindo formas de se locomover através do Cubo, se encontram e tentam definir formas de escapar ilesos. Mais profundo que os seguintes, tem toda uma estratégia de sobrevivência que fica clara para o espectador. Todos que estão lá têm skills para decifrar os perigos e por onde podem passar. A convergência de seus conhecimentos pode preservar suas vidas, mas não necessariamente. Como em qualquer experiência, a tentativa pode ser fatal quando se transforma em erro.
O background dos personagens não fica em segundo plano, o que é bacana. Como suas histórias são importantes para o escape, eles são bastante explorados. É claro que os arquétipos estão lá, assim como nas próximas dicas, mas existe uma função clara, que foge ao acaso, para as vítimas serem reunidas juntas. Talvez esse seja o ponto mais alto do longa.
Dica #2 – O Exame (Exam)
Os últimos oito candidatos a um trabalho corporativo altamente desejável estão presos juntos em uma sala. Lhes é dado um teste com uma única pergunta que devem responder. O que parece simples se torna confuso, causando tensão entre os presentes.
Em tempos de crise, mais aterrorizante do que ser alvo de armadilhas bizarras, seja em uma prisão hi-tech ou em um porão imundo, é ficar desempregado. E O Exame trabalha perfeitamente a tortura que é a obrigação de ser bem sucedido e plenamente satisfeito com a vida profissional por volta dos 30.
O longa conta a história de oito desesperados candidatos, que vão disputar uma vaga em uma grande empresa e precisam passar pelo teste final. O melhor será efetivado. Eles sentam em carteiras, recebem um papel e ouvem o fiscal, que determina diversas regras. Algumas são reveladas logo de início, outras que vão sendo descobertas pelos personagens ao longo do filme.
Quando o relógio começa a correr, eles contam apenas com 80 minutos para responder ao questionário, se dão conta de que seus papeis estão vazios. Não há pergunta, só um grande branco diante deles. O conflito se instala, eles ficam confusos, sem saber o que fazer, no que pensar, em como agir. Coletivamente? Individualmente? As afinidades vão surgindo, as lideranças também e – como em todos os filmes desse nicho – os personagens “bons” e “escrotos”, que vão até as últimas consequências sob a pressão.
É um bom filme, com uma dinâmica interessante e um bom ritmo. Quanto as teorias, o longa está sempre a um passo a frente. E são muitas formuladas nos seus aproximadamente 100 minutos. Como são poucos personagens, o espectador consegue criar empatia por alguns, conhecer as histórias e captar algumas informações sobre o mundo fora daquela sala e as razões pelas quais as pessoas quererem tanto esse trabalho que são incapazes de abrir a porta e sair de um processo seletivo mais abusivo do que já naturalmente são.
Para quem gosta de thrillers psicológicos mas não quer ter síncopes durante a exibição, é uma boa. Rolam uns mindfucks lá e cá mas, melhor do que o final, é seu desenvolvimento. Fiquem atentos. Vale a pena.
Dica #3 – Círculo (Circle)
Mantidos em cativeiro e confrontados suas iminentes execuções, 50 estranhos são forçados a escolher a única pessoa entre eles que merece viver.
Esse aí tá fresquinho na memória porque assisti há menos de 24 horas. 50 pessoas são colocadas em um círculo e, de dois em dois minutos, é acionado um laser que vai matando um a um. Sem nenhuma explicação. Simplesmente jogados lá para morrer e descobrir como manejar o tempo da melhor forma possível para tentar fazer com que o máximo de pessoas sobrevivam, buscando formas de o círculo parar.
Em certo ponto, eles descobrem que possuem poder de votação para apontar o próximo a morrer e tentam jogar de forma eficiente, para se preservarem. Um debate sobre quem merece viver, se alguém merece morrer, inevitavelmente aparece. A problematização rola solta quando idosos e minorias são apontados (Mas não necessariamente sacrificados) como potenciais vítimas, nos fazendo pensar sobre o que é certo, errado, ético ou antiético quando a sua vida está em jogo e não há nada o que fazer a respeito. Se eu quero viver e, para isso, alguém precisa morrer, vale a pena desafiar minha moral? Se sobrevivesse, conseguiria viver em paz com as minhas escolhas?
Apesar de estar longe de ser uma obra prima, Círculo te prende em seu desenrolar, fazendo-o se questionar o tempo todo sobre o que faria se fosse uma das 50 pessoas. O plot twist no final surpreende, mas não muito, e poderia ser melhor aproveitado se acontecesse mais cedo na história. Teria sido um bom conflito se tudo já não estivesse definido quando ele acontece. Timing ruim para um bom recurso narrativo. Peca também por envolver tanta gente e desenvolver pouco os personagens. Quando aquele brother maneiro começa a se destacar, esquece porque ZAP: Virou churrasco.
Sugiro o filme porque é bem filhote de Cubo MESMO. Bebe da fonte total, não tem nem vergonha e – de mais a mais – é um bom entretenimento. Se em Jogos Mortais a “decisão” de viver é sua, no nosso mundo cão geralmente dependemos mais dos outros do que de nós mesmos para garantir a sobrevivência, até o ponto da individualidade ser inevitável. Nenhum homem é uma ilha, até se tornar.
Ajudem a amiguinha com sugestões de temas para as dicas da semana que vem nos comentários aqui embaixo, no Twitter ou no Facebook. A cada comentário, o Lewandowski vai ressuscitar um novo personagem histórico.
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