Outrun (Kavinsky)
Você não pode falar sobre Vincent Belorgey, mais conhecido como Kavinsky, sem falar do filme Drive ( Aquele, dirigido pelo diretor Nicholas Winding Refn e estrelado por Ryan Não Como Cereal Gosling). A verdade verdadeira é que se não fosse pelo fantástica música Nightcall estar nos créditos de abertura do filme, ninguém iria realmente dar a mínima para Kavinsky. A verdade deve machucar, mas quem vai ler essa resenha do disco não é ele, mas vocês, nobres 4 leitores do Bacon. Talvez pensando nisso, o Kavinsky resolveu fazer um disco muito parecido com o filme, um monte de músicas com uma estética mais antiga, especificamente com um clima totalmente centrado na década de 80. No entanto, essa estética não melhora em nada as músicas do disco, simplesmente elas funcionam como se fossem uma trilha sonora de algum filme perdido que nós nunca vimos. E isso tem que ser dito: Um filme muito bom, com toda certeza.
O novo disco de Kavinsky também é o seu esperado debut. Depois de aparecer para o mundo com Nightcall, faixa que tocava na abertura do thriller Drive, Kavinsky se tornou mundialmente conhecido. Antes disso, o cara tinha aparecido na trilha sonora do jogo GTA 4, na rádio Electro-Choc com a faixa Testarossa Autodrive, remixada pelo SebastiAn. Nightcall também não era uma música inédita, tinha sido lançada em 2010 no EP de mesmo nome (E relançada tentando pegar uma carona no sucesso de Drive no ano seguinte). A falta de um álbum de verdade trouxe um certo hype em cima do cara (E uma especie de pressão), pois todos esperavam um disco completo tão bom quanto as duas faixas citadas (Claro que nada comparavel ao hype criado em cima do novo disco do Daft Punk). E eis que chega 2013 e o cara lança Outrun. Os EPs anteriores lançados pelo Kavinky eram bons de doer, só tinham o defeito de serem curtos demais (Como todo EP tem que ser), mas finalmente com esse disco pudemos sentir que o cara não prometia a toa. Todo o caminho percorrido desde 2006 com Teddy Boy, 1986 (Coincidentemente o ano de lançamento nos arcades do jogo Outrun, pela Sega e também do filme B The Wraith), Blazer, Nightcall e ProtoVision serviram pra criar uma expectativa na medida certa pro discaço que estava por vir, pois nem toda expectativa do mundo poderia ser decepcionada com uma trilha sonora perfeita pra se ouvir no transito antes de uma boa balada como Outrun conseguiu ser. Maravilhoso.
Faixa a faixa:
1. Prelude
Estamos em 1986. A história começa com um jovem de 18 anos chamado Kavinsky. Ele trabalha num estacionamento de carros como manobrista do hotel. Então, numa noite chuvosa, ele decide pegar emprestada uma impecável Ferrari Testarossa pra curtir uma noite inesquecível com a sua namorada. Então ele saí em disparada pra apanha-la, se dirigindo para a praia. Mas aí algo inesperado acontece e as coisas ficam estranhas. Perto de um penhasco à beira-mar a terrível tempestade piora e um raio caí no carro, que capota e explode. Kavinsky está morto. Seu corpo descansa nos destroços do carro em chamas. Então outro raio caí no mesmo lugar, em cima dos destroços e do corpo dele, fazendo com que aquele cara e o carro passem a ser unidos como um só.
Isto é tão extravagante e divertido, mas o mais extravagante é realmente mergulhar nesse conceito do álbum e pegar esse sentimento do motorista morto-vivo, metade homem, metade máquina. Podia ser a trilha de uma bela série dos anos 80, estilo Super-Máquina? Com certeza. E funciona muito melhor que o conceito apresentado em filmes como The Wraith (No Brasil, A Aparição), filme oitentista com o ator Charlie Sheen (Ou Carlos Esteves, pros íntimos).
2. Blizzard
Aqui o disco realmente começa e é uma das minhas favoritas no álbum. Muito house, muito Vangelis, muito Justice, muito Daft Punk (De antes do RAM), muito vintage. A estética predomina e mostra como será todo o disco. Uma viagem a década perdida dos anos 80, alvo de 90% dos revivals desde os anos 90. Uma ode muito bem feita a tudo de ruim feito naquela época de exageros, com tudo que aqueles tempos puderam nos dar de melhor. Kavinsky parece não estar de brincadeira.
3. ProtoVision
Lembro muito bem dos anos 80. Aqueles tempos estranhos, onde todo mundo realmente parecia achar legal tocar teclado. Inclusive aqueles teclados-guitarra, com braço e tudo. E eu achava bizarro. Odiava. Achava aquilo a coisa mais brega do mundo, mesmo sendo uma coisa completamente nova, algo que já nasceu ultrapassado e chato, pedante até não poder mais, completamente fora do lugar, uma coisa metida a modernissima e que conseguia ser a coisa mais cafona que já tinha existido. Onde foi que o rock errou, que até o Van Hallen entupia suas músicas de teclados berrantes? Mas naquele mesmo tempo, onde teclados surgiram como a salvação do rock, que artistas como Giorgio Moroder e Vangelis pisaram neste mesmo planeta onde vivemos e criaram melodias inesquecíveis. Ouvi essa antes do disco sair no Youtube e logo essa faixa fez cair a ficha do que estava por vir. Finalmente pude ver teclados dominarem uma música como se fossem a coisa mais rock and roll de todos os tempos. E o clipe com a perseguição de carro cria o clima certo pra essa música que provavelmente se tornará um clássico das boates.
4. Odd Look (featuring SebastiaN)
O que aconteceria se uma diva começasse a cantar praticamente ronronando, ao melhor estilo da faixa Protovision, do começo do álbum, com teclados climatizando um passeio de carro madrugada adentro, sussurrando ao seu ouvido, “dirija mais rápido, quero chegar logo até você”… Me lembrou SebastiAn e muitas coisas boas que a disco music francesa tem feito ultimamente. Ponto positivo, mais um.
5. Rampage
Uau, isso funciona como uma abertura pra entrada triunfal de um grande vilão, daqueles que parecem invencíveis, amedrontadores como uma força da natureza. Maravilhoso, simplesmente fodástico. Uma pausa em meio ao caos pra nos apresentar um crossover que parece saído de westerns antigos (Se eles fossem filmados com carros possantes ao invés de cavalos). Totalmente assustadora, uma faixa bem climatizada, remetendo a um provável tema de algum vilão de um filme que ainda não existe. Bem ao estilo tarantinesco, bem Kill Bill, bem Jack Nietzsche, bem Ennio Morricone misturado com Vangelis. Como pode alguém criar uma trilha sonora tão bem construída pra um filme sem imagens? Puta que o pariu, Kavinsky!
6. Suburbia (featuring Havoc)
Não, não, não… Esses vocais destruíram tudo nesta canção. Eles estão por cima e tornaram tudo desagradável. Eu odiei essa música, mesmo sendo tendo uma boa letra e sendo um bom rap. Mas pra que isso? Fugiu a tudo que o disco tinha construído. Que cagada. A música ainda é muito bem produzida, mas eu ainda vou simplesmente tirar os vocais fora assim que puder. Bola fora do disco e uma das piores faixas do ano.
7. Testarossa Autodrive
Não há mais vocais, graças a Deus. Enfim, uma música que realmente remeta a algo ainda mais clássico e justifica o titulo do álbum: O grande sucesso dos arcades, lançado no longínquo ano de 1986 pela Sega, Outrun. A canção soa como algo realmente saído de um jogo de perseguição policial de arcade clássico, tendo um tipo de som que facilmente remete a jogo de 8 bits. Parece até meio inacabada e desleixada em comparação com as outras músicas do álbum, tendo alterações mínimas no tom e direção. Boa pra dançar ou pra usar como trilha sonora enquanto se faz alguma coisa que requer uma atenção maior (Como dirigir, por exemplo). Eu fiquei meio entediado com ela no meio do caminho, preso naquela sensação de que ela iria mudar. Só que não mudou. Ficou melhor nas versões remixadas lançadas previamente nos Eps, que são menos repetitivas, mas ainda é uma música forte e uma das melhores do disco.
8. Nightcall (featuring Lovefoxxx)
Diretamente da trilha sonora de Drive, esta é a melhor do disco, sem sombra de dúvidas. Mas por não ser nem um pouco inédita, fica a sensação de que ela realmente não pertence a este álbum. Não que ela tenha sido requentada ou tenha ficado fora do lugar, ela se encaixa perfeitamente na temática do disco. Mas soa datada e ligada demais a trilha do filme (o já citado Drive). Da mesma forma que estou criticando sua presença, muitos provavelmente criticariam sua ausência. Melhor com ela do que sem. É uma grande música, maior que o disco e perfeita para o zumbi da noite/piloto do inferno Kavinsky ser apresentado. Provavelmente esta música será a que ele será sempre lembrado por ter feito. Realmente gosto dessa música, até mesmo os vocais se encaixam perfeitamente ao contrário da horrível canção Suburbia, essa sim, com presença totalmente descartável.
9. Deadcruiser
Essa também remete ao som de um videogame 8-bits. Praticamente um trilha sonora dos jogos Outrun (Jogo da Sega que dá nome do álbum) e até o clássico do Super Nintendo Top Gear. Ótimos teclados, levada gostosa, ritmo alucinante, uma gostosa lembrança dos fliperamas da vida e das locadores de videogames de antigamente. Quando realmente jogar videogame era uma diversão descompromissada. Não ruim, mas também não é ótimo. Na média.
10. Grand Canyon
Bem produzida, mas depois dessa eu estou começando a pensar que a idéia de comercialização de um álbum que soa como uma trilha sonora de um filme que não existe pode não ser uma idéia tão boa assim. Começo a ficar entediado, não existem quaisquer sons ambientes, como os sons de carros de corrida ou algo que nos faça imaginar algo que preencha a ideia dessa canção. Seria muito boa em um filme, mas ela está apenas aqui, solta. Eu não acho que isso é ruim, eu acho que é apenas fora do lugar. Entretanto, como acontece com praticamente todas as boas músicas instrumentais que existem, a nossa imaginação sempre será livre quando ouvirmos essa música. Pelo menos enquanto ela não for usada em nenhum trilha sonora.
11. First Blood
Essa música é divertida e, apesar de os vocais soarem um pouco fora do lugar, ainda se encaixam melhor do que em Suburbia. A faixa parece um remix de Protovision com letras em cima. O nome da música não ajuda, pois não tem muita coisa a ver com o filme do Rambo (Que se chamava mesmo First Blood), na verdade temos aqui um teclado que se assemelha mais ao tema da série S.W.A.T. do que qualquer filme de ação oitentista.
12. Roadgame
Roadgame faz exatamente o que deveria, encerrar o álbum muito bem. É atrevida, enérgica, sombria e bem longe de ser chata. Mas tem um pequeno problema: Não é a última do disco. O álbum realmente deveria acabar nessa, terminaria tudo perfeito desse jeito.
13. Endless
Infelizmente, como eu disse anteriormente, o álbum não termina em Roadgame. Em vez disso, temos esta faixa incrivelmente brega, quase sem fim. Soa como algo saído de uma novela de suspense. Algo pra ser usado com uma narração através de alguma cena muito tensa de Plantão Médico. Pelo menos é disso que eu me lembro quando ouço esta canção. Não era preciso e não é interessante. Desnecessária.
Outrun (Kavinsky)
Lançamento: 2013
Gênero musical: Eletro-pop/Disco/Sinth Pop
Faixas:
1. Prelude
2. Blizzard
3. ProtoVision
4. Odd Look (featuring SebastiaN)
5. Rampage
6. Suburbia (featuring Havoc)
7. Testarossa Autodrive
8. Nightcall (featuring Lovefoxxx)
9. Deadcruiser
10. Grand Canyon
11. First Blood
12. Roadgame
13. Endless
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