Paulo Coelho: o homem e sua obra

Analfabetismo Funcional terça-feira, 19 de outubro de 2010
 Hoje: vida boa.

Pra entender a motivação da (criticada) temática constante dos livros de Paulo Coelho, um bom começo é conhecer um pouco da sua história de vida. Bom, na verdade, pra conhecer melhor qualquer pessoa é indispensável conhecer o caminho que ela atravessou na vida, uma vez que as circunstâncias que permeiam a senda pessoal de cada um são determinantes para a formação, em sentido lato, dos indivíduos, podendo refletir em diversos aspectos na vida pessoal e, no caso, profissional.

Então, como conhecer a história de vida de alguém? Leia sua biografia e torça para que o autor não tenha mentido ou omitido muitos fatos. E se não escreveram uma biografia daquele indivíduo? Aí paciência, meu amigo… curiosidade matou o gato! Bem, piadinhas à parte, Fernando Morais publicou a excelente biografia “O Mago”, adivinha sobre quem? Um doce para quem respondeu Paulo Coelho! A obra parece ser bem fiel à realidade e está muito bem escrita, recomendo a todos.

Vejamos alguns fatos da vida do biografado que estão retratados na obra e merecem destaque: desde criança quis ser escritor e viver disso; também nessa época já lia bastante; teve uma adolescência conturbada, chegando a ser internado duas vezes numa espécie de manicômio, diagnosticado com esquizofrenia; foi submetido ao famigerado tratamento de eletrochoque, também conhecido pelo simpático nome de eletroconvulsoterapia; fugiu da “clínica”; teve dúvidas sobre orientação sexual e a pôs à prova; trabalhou com teatro e televisão, escrevendo roteiros; lançou e escreveu uma revista muito peculiar que tratava temas que iam de OVNIs à forças ocultas; conheceu Raul Seixas que o procurou interessado em escrever para tal revista; passou a ser parceiro de composições de Raul, coincidindo com o momento em que a carreira musical do maluco beleza deslanchou e a dupla ganhou muita notoriedade; estudou alquimia; teve obscuros interesses em ocultismo; foi preso durante o regime militar; mergulhou de cabeça nas drogas; abandonou as drogas e trilhou o famoso Caminho de Santiago para se encontrar espiritualmente ou algo que o valha; lançou O Diário de um Mago retratando a sua caminhada pela Europa, o que o tornou um escritor internacionalmente conhecido, realizando seu sonho de criança.

Aonde quero chegar? Calma, jovem gafanhoto, já verás. A partir desse “resumo de vida” impreciso e malfeito, pretendi mostrar que o cara passou por situações difíceis, tinha tudo pra terminar na merda, mas resolveu tomar jeito, se espiritualizou, correu atrás de seus objetivos e hoje está podre de rico e diz ser muito feliz. Bonito, né? Parece filme de drama, né não? Tá, eu sei que muita gente passa por dificuldades muito maiores e coisa e tal, mas isso pouco importa. Importa que estou tentando mostrar meu pensamento sobre a influência da vida de um homem (no caso, Paulo Coelho) em sua obra. Importa que esse cara sofreu dificuldades e as superou (como outros tantos o fizeram) e depois resolveu começar a escrever livros de auto-ajuda com enredos simples, mas recheados de mística, mensagens de superação, conselhos, como buscar os objetivos, reflexões sobre a vida e seus propósitos etc. Ressalte-se que não estou entrando no mérito da “qualidade literária” (ou falta de) das obras, mas sim seu conteúdo temático. Neste ponto, remeto o leitor ao que já escrevi sobre seu sucesso comercial aqui.

É isso. Simples assim. Paulo Coelho escreve o que escreve, porque essa é a bagagem de sua vida, seu conhecimento, sua experiência. Parece uma conseqüência óbvia, mas para alguns é puro marketing e espírito comercial. Não deixa de ser, ele não é bobo nem nada, mas não só isso. Ele só une o útil (escrever sobre o que ele gosta e supostamente sabe) ao agradável (livros e temas que vendem, dão dinheiro).

É bom frisar que não estou fazendo generalização, nem criando uma regra absoluta, não quero dizer que quem tem uma vida cheia de obstáculos e os supera, obrigatoriamente vai escrever sobre superação, ou aquele que vive num ambiente promíscuo, vai escrever contos eróticos etc. Só quero destacar que a vida do escritor pode – e isso é comum – influenciar ou até mesmo determinar o conteúdo de suas obras. Ou você acha que Nelson Rodrigues escreveu suas obras (todas ao estilo das histórias de A vida como ela é…) inspirando-se na realidade européia? Ele viveu tudo aquilo (na sua casa, na sua rua e, principalmente, no dia a dia como repórter nos jornais que trabalhava) e, inspirando-se nisso, usou sua imaginação para escreveu seus enredos tão peculiares. Para terminar bem clichê: a “arte imita a vida”, ou seria o contrário?

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