Peido de Ogro
Eu não tenho nada. De verdade. Eu não tenho assunto. Não tenho um tema ao qual dedicar um texto, não tenho do que reclamar ou debater ou mostrar. Nada. E já faz um tempo, como creio que deu para notar. Eu não estou feliz com isso porque bem, eu tenho uma quantidade mínima para escrever pra isso aqui (Quantidade mínima que não atinjo há meses) e porque eu gosto de escrever. Eu quero escrever. Só não tenho sobre o que escrever.
Desde que entrei no Bacon falei várias vezes de temas relacionado à escrita em si: Falta de inspiração, falta de tempo, preguiça, bloqueio, cansaço, internet com problema. Quase esgotei o tema, provavelmente. Ou melhor, acho que vou fazer isto agora.
Quando todos os outros motivos são os responsáveis, beleza, é por excesso. Porque por mais que falta de tempo seja uma falta, ainda há material. Mas eu não tenho material.
Não é uma questão de não ler nada, não assistir nada, não ouvir nada. Há obras a serem vistas, lidas, jogadas, o problema é que não tenho porque falar sobre elas. À bem da verdade, estou completamente alheio às séries, aos jogos, à TV… O cinema se salva porque passo um tempo debatendo os filmes de super heróis com o Pizurk e o Jo. Não que eu vá assisti-los, é só um passatempo. Mas mesmo o que não é um passatempo, mesmo as coisas as quais presto atenção, as quais acompanho, que gosto de saber e pesquisar não viram assunto.
Me conheço bem o suficiente para dizer que quando não consigo escrever, escrevo sobre não conseguir escrever. Se alguém imaginava o motivo para tantos textos meus sobre o assunto, eis a resposta. É justamente o que estou fazendo neste exato instante… O problema é que deve ser a última vez. Não que o “tema” não venha a surgir novamente, mas como disse alí em cima, todo o resto já foi: Inspiração, tempo, saco. O excesso rende porque tem a mais, mas a falta, que é o tema atual, é pouca, e portanto só dá pra uma vez. Uma porção, para uma pessoa. 15 minutos no microondas.
…
Agora é aquele momento em que o ímpeto inicial acaba, e portanto deve-se recorrer ao resto do assunto. Fazer considerações.
Considerando que
E que
E até mesmo que
Fim. Porque não tem desculpa, não tem justificativa: É uma exposição, como se os quadros de uma galeria estivessem no chão, encostados às paredes e sem molduras, porque molduras e pregos para pendurá-los já se foram.
Você, artista plástico, não pode usar essa ideia, é minha, exijo compensação.
A culpa é minha, eu sei. Eu mesmo escrevi sobre a falta de vergonha na cara que leva à este tipo de situação. Depois de um certo tempo o fundo do poço parece acolhedor. Por que caímos, Mestre Wayne?
Eu odeio auto-ajuda. Eu tenho ouvido mais música pop que qualquer outra coisa nos últimos tempos; cada vez mais e cada vez coisas piores. Estou com o mesmo livro parado na minha cabeceira há meses, uma mancha no meu histórico. Eu gosto do que a Nelly tem feito por aqui nos últimos tempos. Mesmo. Este parágrafo não é sobre expiação.
Já fiz um texto chamado Mea Culpa. Este texto era para ser um festival de links do próprio Bacon. Se alguém já se perguntou porque linko mais meus próprios textos do que o de outras pessoas daqui é porque eu me lembro mais do que escrevo do que leio. Leio muitas coisas, e elas tendem a se fundir numa coisa só, e não em links separados. Ao menos eu lia muitas coisas.
Meu próprio senso de noção me diz que este texto deveria ser mais longo. Algo em torno de três ou quatro outros parágrafos mais longos. Se alguém quer uma explicação técnica para isto é que, com o tempo e a prática cria-se uma certa percepção acerca do que se faz, e tratando-se de um texto sobre não conseguir escrever seguir uma cadeia genérica porém lógica de raciocínio permite, até certo ponto, criar mais material que não é, necessariamente, importante, novo ou até mesmo relevante para o texto, mas sim uma forma de exercício. Uma esteira elétrica mental.
De todos os instrumentos de tortura dentro de uma academia a esteira é a pior, primeiro porque é um exercício extremamente chato de se fazer, segundo porque todo mundo fala dela como se fosse predicado pra todo o resto, e terceiro porque um dispositivo que te faça andar, ou ainda pior, correr sem sair do lugar é terrivelmente estúpido. Se eu for gastar energia em botar um pé na frente do outro é bom que eu chegue em algum lugar no final disso. De preferência em casa ou numa sorveteria.
Dois já foram; faltam dois. E agora é o momento em que vem a distração, e ela deve ser combatida. O problema dos textos desimportantes é que eles se perdem. Textos legais de se fazer não tem seu progresso interrompido. Textos legais de ser lidos (E muitas vezes não são textos legais de se fazer) também não têm este problema, mas têm de lutar com o resto do mundo pela sua atenção. É uma batalha mais árdua: Quando autor, sua atenção é para o texto a ser escrito, não em todas as outras possibilidades. Tanto a alta quanto a baixa literatura dependem de suas próprias limitações, autoimpostas ou não.
Último parágrafo. Encerramento, conclusão. Onde deve-se propor uma solução para o problema. Eu tenho um problema: Eu. Suicídio? Não rola, nem fiquem felizes. Parar de escrever? Provavelmente deveria, mas duvido que farei… Já escrevi sobre isso também. Me orgulho de poucas coisas nesta vida e esse texto é uma delas. Não tenho nenhum material. O que tenho, não serve. Tanto pelos meus parâmetros quanto pelos parâmetros do Bacon. (Uma certa) Qualidade vem antes de mera produção, e isso serve tanto pra mim quanto pro Bacon.
E tenho que achar alguma coisa pra semana que vem. Parágrafo bônus; resumo, conclusão e encerramento com alguma piada ruim ou frase de efeito. Tenho que achar um tema para a semana que vem, e para a próxima. Não tenho nada, e acabo de gastar aqui meu último recurso. É bom chegar ao fim de mais um texto, a vista é melhor daqui, a situação parece melhor. Às vezes é sobre a parte chata da vida. Técnica, costume, prática, rotina, salário, trajeto, papelada, burocracia. Às vezes é só seguir o roteiro e deixar o clímax, a novidade, o entusiasmante para depois. Na terra em que o horizonte é eterno o sol sempre brilha.
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