Pense Em Mim
2017 começou há pouco mais de uma semana… Gente morrendo, crise, guerra, terrorismo… 2016 não foi particularmente diferente de ano nenhum pra falar a verdade. Sempre tem guerra, sempre tem mortes, sempre tem problemas. Pessoalmente, 2016 foi um ano muito melhor que 2015. 2015 foi uma merda. E sei que a Nelly concorda comigo. Mas 2016 ganhou notoriedade por tirar do público diversos ídolos, então vamos falar sobre
Legado? Não sei.
David Bowie, George Michael, Prince, Domingos Montagner, Ricky Harris, Carrie Fisher, Umberto Magnani, Tereza Rachel, Antonio Pompêu, Elke Maravilha, Rubén Aguirre, Glenn Frey, César Macedo, Cauby Peixoto, Shaolin, Billy Paul, Alan Rickman, Muhammad Ali, Richard Adams, Bud Spencer, Debbie Reynolds, Guilherme Karam, Héctor Babenco, Goulart de Andrade, Gene Wilder, Harper Lee, Orival Pessini, Leonard Cohen, Ferreira Gullar… Isto nas artes. E só os maiores nomes, ou melhor, os mais famosos. Segundo estimativas, a cada ano, quase 60 milhões de pessoas morrem. Faz parte da vida. E independente de como sua vida tenha sido, cedo ou tarde você também morre.
Não é para ser do contra, juro. Apesar das nossas eventuais escapadas, o Bacon é sobre entretenimento, e apesar de que qualquer coisa poder entreter alguém, poucas coisas entretém tanta gente quanto a morte. Não vou colocar uma frase de efeito aqui: Todos sabemos da morte. O problema é que, vez ou outra, alguém que a gente queria muito que continuasse vivo, morre. E bem, não é exatamente uma escolha de ninguém.
É, é, “suicídio”, eu sei.
Pra dizer o óbvio, suas obras continuam aí. Seus filmes, livros, álbuns, performances, composições e, vale lembrar, seus nomes em prêmios, calçadas, pôsteres, capas. Temos, há muito tempo, a possibilidade de consumir obras em sua originalidade. Quer dizer, filmes, episódios de séries, livros e canções foram (E continuam sendo) perdidas através dos anos, e felizmente, já que tantas e tantas vezes o que não se guarda é porque não merecia ser guardado, mas podemos ouvir Bowie, assistir Wilder e ler Adams. Não podemos, e jamais poderemos, ouvir Beethoven, assistir Clódio Esopo ou ler os livros perdidos da Bíblia. Não é uma questão de injustiça, mas sim de… Evolução. Da tecnologia e, quem sabe, do nosso relacionamento com as obras que consumimos.
Talvez o que eu queira dizer é que, apesar da morte, podemos aproveitar o que estas pessoas fizeram. Mas que, ao mesmo tempo, lembramos delas apenas porque nos influenciaram: Quanta gente morre todo ano e suas mortes passam batido por nós? Não estou falando de frentistas, advogados ou padres, mas outros autores, atrizes, cineastas, diretores, cantoras, ensaístas, produtores e, por que não, críticos. Vou ser bonzinho e dar lugar aos panos quentes: Não estou desmerecendo o trabalho ou ironizando a morte de ninguém. Mas mais gente morreu e você não notou. Eu não notei. E tantas vezes conhecemos suas obras anos após suas mortes, e aí vemos o tempo que perdemos não as conhecendo enquanto estas pessoas ainda estavam vivas. E, às vezes, suas obras são melhores do que as obras que já conhecíamos. Às vezes foram influência direita das obras que já conhecíamos.
Gente famosa morre. Gente morre. Gente que fez coisas incríveis e que não fez nada. E nem eu nem você ligamos para nenhuma delas.
Até que ponto o “eu não sabia” salva nossa pele? Até que ponto o “eu não sabia” nos priva de obras incríveis?
Já abandonei o anseio real de saber tudo, ler tudo, ouvir tudo, ver tudo. Em algum lugar a esperança, o “seria muito foda se” ainda existe, meio como um sonho distante, mas já aceitei a impossibilidade de botar este plano em execução. Isto aqui sou eu dizendo para você (E para mim mesmo) que está tudo bem não saber e, portanto não ligar. Mas ao mesmo tempo estou apontando o dedo para nós dois e nos condenando por não tentar mais, mais forte, por mais tempo. Vivemos numa época em que a possibilidade de comunicação com praticamente qualquer parte no mundo a qualquer hora do dia e com extrema rapidez e eficiência nos cega para o fato de que, quilômetros abaixo de ondas de rádio e TV, de sinais de telefone e satélite, ainda está um mundo que, olhando de cima, é uma colcha de retalhos. E que, ao nosso lado e do outro lado do mundo pessoas choram do mesmo modo que nós, mas por pessoas diferentes das pelas quais choramos.
Não sei se a solução é não chorar ou oferecer, mutuamente, um ombro amigo. Sei, porém, que os mortos não precisam de lágrimas.
Creio que seja hora de fazer uma escolha: Vamos ser globais ou não. Caminhamos (E falamos muito) sobre o mundo unido, sobre como vivemos tempos de (Relativa) paz, de como temos ferramentas em nossas mãos para conectar as mais diferentes pessoas, nos mais diferentes lugares… Talvez seja uma realidade quando se trata de fazer um depósito bancário em Hong Kong estando em Milão ou requisitar ajuda humanitária à Alemanha para o Haiti, mas esse tipo de coisa é uma necessidade: (No mundo de hoje) Temos de fazê-lo. Entretenimento é escolha.
Morreu muita gente em 2016. Vai morrer muita gente em 2017 (E olha que já morreu mais gente famosa e já teve alguns atentados terroristas até agora). Talvez eu e você sejamos duas delas, mas se não formos é uma boa oportunidade para pensarmos no quão limitada é nossa escolha de ídolos, heroínas, influenciadores e fetiches. Nem nós nem eles estaremos aqui para sempre, e conhecer em vida, ao vivo, é muito, muito melhor.