Personagens: o ser ou o dever-ser?

Cinema sexta-feira, 20 de julho de 2012

Personagens dão a tônica de qualquer história, uma vez que são basicamente os agente das mesmas, seja na ficção ou na realidade, a centralidade de um ou vários atores é nítida. A grande diferença entre os personagens reais e os fictícios é que os primeiros são humanos e possuem suas falhas claras, sejam pelo bem ou pelo mal, por mais que as vezes tentem mascarar, os desvios e problemas são descobertos, afinal ninguém é tão bom quanto aparenta ser nem tão mal quanto deseja parecer. Os personagens fictícios não, eles podem vir a serem “perfeitos”, paladinos do bem e da verdade, ou tão maus que a respiração mata pequenos animaizinhos. Este texto tentará discutir a diferença entre personagens fictícios que possuem um tipo idealizado de comportamento, e outros que exprimem melhor o jeito humano de ser. Não necessariamente irei fazer menção a personagens específicos, embora possa fazer, depende de como o texto for fluindo.

Vamos fazer um exercício de imaginação primeiro. Tente imaginar o maior antagonista da sua vida, tipo aquele cara que tirava sarro do seu cabelo na escola, ou seus pais, ou seu irmão pentelho, ou aquele cara que se aproveita de você no trabalho. Aposto que tirando características específicas, eles não são tão maus assim. Todos tem amiguinhos, e alegria de viver. Tirando pessoas com uma psicopatia grave, ninguém é tão mau assim. Ou você conhece alguém que seja estilo vilão da Malhação?

 “Comemoro minhas maldades com uma rodada de suco, mwahuauhuauhua!”

Filmes, livros, séries, hqs, mangás, novelas. Todos exageram na bondade ou maldade dos personagens, salvo casos raros. Voltemos à Malhação. Seus vilões são um misto extremo de maldade e moralismo. Ao mesmo passo em que são capazes de empurrar uma pessoa de um penhasco para ficar com a gatinha da vez, ele não chegam perto de um copo de bebida alcoólica. Vai entender, né? Nos filmes, a mesma coisa. Ou você acha realmente que o Anakin Skywalker convence pelo motivo de tanta maldade? Ele matou criancinhas mano, por causa de uma visão! Tenha paciência.

Por outro lado, várias produções conseguem deixar seus personagens mais humanizados, sem cair na pieguice dos extremos. Os quadrinhos da linha Vertigo são para mim o melhor exemplo. Com caras que têm motivações menos exageradas, e mesmo os “mocinhos” são cheio de falhas de caráter, mesmos os sobrenaturais. Para mim, um caso interessante está em Fable. A desconstrução da moralidade de personagens clássicos dos contos de fadas tornou essa obra interessantíssima para mim. Ou vai falar que a Branca de Neve e o Lobo Mau não são personagens fodas?

 A arte de salvar o mundo sem querer.

Claro que o teor raso das ambiguidades na personalidade da maioria dos atores envolvidos em uma estória tem relação com a moralidade hegemônica da qual essa obra é fruto. Nota-se sem nenhum esforço que a maioria das criações proveniente dos States possuem aquela aura de patriotismo, a irreconciliabilidade entre o bem e o mal que formam um momento seminal de antagonismo quase puro. Se existe uma coisa que não vemos no mundo real é antagonismo puro; todos os antagonismos estão sujeitos a condicionalidades mil. Porém, a moral ocidental possui uma infinidade de mitos que sustentam uma realidade falsa: Contos de fadas, religiões, romances, dentre outros.

Claro, não tenho pretensão nenhuma de afirmar que personagens com personalidades extremadas não produzem grandes obras, estaria sendo totalmente falacioso, porém vai dizer que quando seu herói favorito possui um tique nervoso, ou não pega as mulé tipo você coisa que até o Peter Parker faz, como visto no texto do Jo, a identificação com ele não é muito maior? Independente disso tudo, é visível a tendência, inclusive de Hollywood, em humanizar seus personagens, colocando falhas, ou desvios de personalidade, mesmo que ainda tudo seja muito insípido. Falta um dedinho baiano pra colocar um tempero na coisa.

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