Pesadelo de Halloween, ou: O pior filme que assisti em minha vida

Primeira Fila segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Maratoninha de Halloween é um clássico desde meus sete anos de idade, quando alugava os slashers mais underground do rolê e assistia com minha melhor amiga, enquanto traçávamos estratégias para comer todos os doces da casa (E os salgados) sem meus pais perceberem. Eu era feliz e não sabia, eram tempos mais simples. Pouco sobrou daquele tempo, mas o essencial: A amiga e a paixão pelo horror, que só cresceu. Então a semana do 31 de outubro sempre tem um gostinho especial. É quando os clássicos esquecidos ressuscitam, listas com 40 must see pipocam nos sites e novos longas são lançados.

Ontem já tinha zerado as séries e resolvi dar uma chance a O Último Capítulo (I Am the Pretty Thing That Lives in the House), filme de terror/suspense, Neflix Original, recém saído do forno, fresco no cardápio. O plot gira em torno de Lily (Ruth Wilson), uma cuidadora de idosos que acaba indo trabalhar para a escritora de livros de horror Iris Plum (Paula Prentiss) em um lugar remoto, sem muitas diversões. Ela fica trabalhando lá por 11 meses e a patroa insiste em chamá-la de Polly (Lucy Boynton), nome da protagonista de seu principal romance. Curiosa, a enfermeira começa a ler a história e coisas estranhas começam a acontecer, porque aparentemente o best seller foi mais uma psicografia do que ficção. E o espírito reside na casa. Parece bom, né?

Só que não. O filme é bem chato e lento. Pouco faz sentido e nada acontece. É recheado de narrações pretensiosas e não há nada sobre a escritora, a enfermeira ou o espírito que faça com que o espectador crie qualquer tipo de vínculo. A pobreza da história das personagens é o principal pecado cometido pelo principiante Oz Perkins. Com um texto arrastado e uma fotografia bonita, mas arrastada, sentir empatia por qualquer uma das personagens beira o impossível. Lilly é bem boba para a idade, fica sempre com cara de assustada, mesmo quando não tem motivos, o que significa 99% do tempo. Se a sra. Plum fala 10 palavras no filme, 9 delas sendo Polly, é muito. Péssimo aproveitamento da atriz e do próprio papel. E o fantasma é o mais ineficiente de todos, porque aparece tão timidamente ao longo da trama, que você até esquece que está lá. Se for um pouco mais desatento, vai esquecer da velhinha esquisita também.

O final não fica atrás e decepciona, como não poderia deixar de ser. As poucas lacunas que são abertas não são exploradas e você fica com vários pontos de interrogação. Eu gosto de ambiguidade no cinema, é importante que os filmes não sejam pobres em enredo e tramas e que o espectador, do outro lado da tela, tenha a capacidade de processar e preencher por si mesmo uma ou outra situação. Mas a escuridão total diante de um filme que se desenvolve completamente sobre determinado mistério deveria ser proibido. É tudo meio patético e eu me senti enganada, porque faltou absolutamente tudo o que o filme prometia. E não estou falando de sustos e efeitos especiais, inclusive critico muito o abuso deles. Mas de história, estofo ou razão de ser. É fraco em todos os aspectos, em todas as escolhas narrativas. Uma tristeza.

O que a gente está fazendo nesse filme bosta?

Eu sou PhD em filmes ruins. Assisti The Room, o Cidadão Kane dos filmes ruins e um dos mais divertidos que conferi na última década. Tenho no meu pen drive até hoje o maior low budget da história: Manos, The Hands of Fate. Passei anos chorrindo com Sci Fi Original Movies before it was cool e até assisti a longas sérios, porém desastrosos, como O Espião que Sabia Demais, trama horrorosa baseada no ótimo livro de John le Carré e, mais recentemente, The Ones Below, que conferi na primeira semana do Festival do Rio. Mas nenhum, jamais, me deu tanto câncer e vontade de morrer como O Último Capítulo, que é desrespeitoso não apenas com seu tempo, mas com sua inteligência. Faz um ótimo trabalho em parecer um audiobook de má qualidade, mas é só. Se, ainda assim, quiser plugar seu Chromecast na TV e perder duas horas da sua vida, vá em frente. Eu avisei.

Happy Halloween.

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