Porque caguei pra GTA V

Games quarta-feira, 02 de outubro de 2013

Conheci GTA há vários anos, no fatídico Vice City. Era uma época em que pouca gente que eu conhecia tinha um PS2, mas a fama do jogo já era familiar para todos nós. Era um dia comum, eu tinha ido na casa de um amigo, provavelmente pra fazer algum trabalho de escola, mas o primo dele estava lá, e tinha um console. Lembro que eram poucos jogos, originais, creio, mas eis que ele pega um jogo, liga o videogame e nos mostra a caixa.

Aquela foi uma das primeiras vezes que eu joguei um PlayStation 2, e a (Ligeiramente vergonhosa) verdade é que, ao ver a caixa do jogo pela primeira vez, nem eu nem meu amigo sabíamos que jogo era. Entendam: Conhecíamos a fama de “GTA”, era um jogo proibido para menores de idade, falava-se em proibir sua venda… Cara, cê MATAVA GENTE no jogo!!! E “GTA” era isso: Carros, motos, explosões, atropelar pedestres, prostitutas, códigos e todo o resto… Mas não era “GTA” na capa, era (E é) “Grand Theft Auto“. E a verdade é que demoramos uns bons minutos até vermos o que tínhamos em mãos… Não ocorreu à ninguém parar de confabular sobre a capa e olhar a TV.

Nem lembro se cheguei a jogar naquele dia. Provavelmente joguei um pouco e morri rápido, mas taí algo que não se vê mais: Se satisfazer com um jogo só de ficar olhando outra pessoa jogar. Um PS2 era caro pra caralho naquela época. TVs, jogos, cabos e tudo mais também não eram coisas que tinham em cada cômodo da casa… Era uma época de “você pode jogar, mas só se não quebrar nada”. Soa até meio absurdo nos dias de hoje, em que crianças tem seus próprios videogames, e tanto esses quanto TVs são coisas comuns e relativamente baratas. Naquela época, nós, as crianças, quebravamos coisas e tinham a chance de se divertir se não fizessem nada de errado… Estragar um analógico era crime, mas lançar granadas em carros de polícia e esfaquear velhinhas era de boa… Tanto para nós quanto para os pais, tios e primos da família.

 É incrível como GTA faz para ser criticado por tudo, esquecendo a putaria.

Ainda que Vice City seja o meu favorito, o que mais joguei foi o San Andreas. Odiado por muitos, não tenho o que reclamar: O mapa nunca foi tão grande, nunca houve tantas armas, carros, motos, barcos e aviões, as rádios continuavam incríveis ainda que diferentes, várias e várias coisas novas para fazer. Era diferente, claro. O cara de camiseta florida tinha dado lugar à um negão, as praias da Flórida tinham sido trocadas pelas da Califórnia… Estava tudo diferente, quase que tudo o oposto, mas ainda sim reconhecível. GTA nunca tinha sido tão bom em ser GTA.

Quer algo ligeiramente estranho para pensar? Já são SETE jogos da série principal. E outros nove secundários. GTA IV demorou quatro anos, desde o San Andreas, para ser lançado, e, de novo, tudo mudou: Da máfia pras gangues e para os imigrantes ilegais. GTA sempre chamou atenção pela violência e pela liberdade de ação, mas se você parar pra pensar vai ver que a coisa tá bem longe de ser inocente em seus homicídios em massa e roubo de tanques de guerra governamentais.

E lá estava o sexto jogo da série: Nova engine, novo sistema de tiros, novos modos de jogo, novos minigames, armas, carros, missões. As coisas não só pareciam diferentes, elas funcionavam diferentes: A polícia, os transportes, as atividades. Agora você tem um celular, pode jogar com outras pessoas… Finalmente um GTA se passava no mesmo tempo em que fora lançado, e não anos atrás. E ainda assim não foi um GTA amado. Quero dizer, as pessoas gostam dele, mas não caiu nas graças do público… Ninguém gosta de ouvir que não haverá mais códigos malucos e nem a surrealidade amada por todos, mesmo que a realidade não seja bem essa.

 “Nunca um mapa foi tão grande”.

Assim como GTA 3, o IV foi um jogo de outra época, outra geração. Curiosamente, ainda que não de todo inesperado, os do PS2 ainda são os mais amados da série. E ainda que ano após ano tudo mude entre cada jogo, a série se mantém como uma das mais elogiadas e bem vendidas do mundo. GTA V acaba de ser considerado “o produto de entretenimento mais rápido a ser vendido”: Mais de um bilhão de dólares em alguns dias.

Desde o começo GTA mudou tudo: Em 1997 ninguém esperava ganhar pontos por bater carros e matar gente. Em 1999 ninguém esperava que a Rockstar teria coragem de repetir a fórmula, mesmo com todo o sucesso. Mães, tias, avós, igrejas, cultos, sociedades, organizações e o que você puder imaginar declaravam que a série não só era uma das piores coisas do mundo, como exigiam que nada daquilo nunca tivesse existido. Talvez ironicamente, em 2001, a virada do milênio, o ano do Apocalipse, GTA 3 era lançado e mudava tudo: Não era atropelar gente, era muito mais do que isso, de forma muito mais real que isso. GTA 3 foi uma mudança no nível de Final Fantasy VII, mas em metade do tempo.

Era apenas uma questão de tempo e tecnologia disponível para que Vice City, San Andreas e GTA IV acontecessem. O terceiro jogo mudou as coisas, mas Vice City trouxe a populariadade e o amor pela série; San Andreas, ainda que dividindo opiniões, provou que a Rockstar não só sabia o que estava fazendo, como fazia melhor que qualquer outro; e finalmente o IV deixou claro que mesmo após 11 anos a série ainda tinha (E tem) muito para apresentar. É bem simples de entender, ainda que realmente difícil de mensurar: GTA mudou a história dos videogames. Várias vezes.

 CHUPA!!111

Faz cinco anos que o IV foi lançado, e apenas duas semanas que o V foi lançado. Nunca um mapa foi tão grande, nunca houve tantas armas, tantos carros, helicópteros, barcos e aviões, nunca antes houve tanta diversidade de missões e atividades, nunca houve tantas rádios diferentes, nunca o multiplayer foi desse jeito [Nota do editor: Mesmo porque nunca houve multiplayer oficial], nunca foi tão realista, tão violento, nunca teve gráficos assim e nunca antes foi possível jogar com mais de um personagem. Por enquanto GTA está em seu auge, e praticamente confirma que jogo nenhum, exceto seu sucessor, jamais será melhor.

E é por saber que GTA V é o melhor GTA já feito que eu não ligo a mínima para ele. Ainda não joguei, mas sei que é um jogo incrível, um dos jogos mais divertidos e mais completos já feitos. Sei que é um dos melhores jogos de todos os tempos, e é justamente por saber que nunca houve tanta coisa nova que o jogo é exatamente igual aos seus antepassados: Missões, armas, explosões, piadas, carros, um mapa gigantesco, uma liberdade que ultrapassa o absurdo e, se não a mudança, o questionamento de paradigmas atuais, tanto dos videogames como mídia quanto através da história do jogo. Não levem à mal: Eu quero jogar isso, e sei que será uma das coisas mais divertidas pra se jogar, mas se eu não conseguir por as mãos neste jogo, por mim tudo bem.

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