Praticando a arte do desapego
Adoro cuidar dos meus livros. Organizá-los na estante e catar algum pra ler um ou dois parágrafos marcantes são coisas prazerosas, e sei que quase todos vocês concordam comigo. Meus livros – incluindo também as revistas, quadrinhos e mangás – são como filhos. Filhos cujo custo-benefício vale a pena, claro.
Mas às vezes dá pena ver alguns volumes abandonados na estante, criando poeira, principalmente quando eles significaram tanto pra mim em algum momento. Pensando nisso, será que não é melhor… Doá-los?
Comparando com a música, que é algo feito pra ser aproveitado várias vezes, livros exigem uma, no máximo duas lidas. Por exemplo, os melhores álbuns são aqueles que te exigem inúmeras “escutadas” pra desvendar tudo o que foi feito ali dentro. Cada vez que cê põe o CD pra tocar, a emoção vai ser diferente. Música instrumental então, nem se fala.
Com livros, a parada é mais complicada. Por mais que uma história tenha te marcado de alguma maneira e você ainda se emocione relendo, o impacto nunca vai ser tão grande como da primeira vez. Sacumé, você sabe o final, conhece cada plot twist e coisas assim. E aí, o que acontece? A porcaria do livro vai pra estante acumular poeira quando poderia ser lido e mexer com outra pessoa assim como mexeu com você.
É daí que surge um movimento bem famoso na internet: O Bookcrossing, a arte de largar livros na rua pra que outros peguem, levem pra casa, leiam e larguem novamente em outro lugar. Existem sites especializados cheios de nhénhénhéns, mas você pode simplesmente escolher um livro pra despachar, escrever uma dedicatória bonitinha nele e tacar em algum banco de praça. Tudo na esperança de que alguma boa alma faça o mesmo contigo um dia, claro, mas não custa sonhar, não? Vai que cê dá origem a algum moda de doação de livros?
A maioria dos locais onde cê pode registrar seu “livro viajante” é gringa, mas você não precisa passar por processos tão burocráticos. Simplesmente cate seus livros e distribua por aí. Leva na biblioteca pública do seu bairro ou na casa do seu primo playsson semi-analfabeto pra ver se o babuíno aprende a ler. Coisas assim. Simplesmente ponha na sua cabeça que livros foram feitos pra ser lidos. Pra correr o mundo, conectar as pessoas e afins.
É difícil, vai doer no início e você pode até vir a se arrepender de um ou outro. Mesmo assim, como já disse acima, compartilhe. Seu livro não vai fazer nenhum bem ao mundo ao ficar aí na estante acumulando poeira. Mas pode fazer uma puta diferença no futuro de alguém.
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