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Música sexta-feira, 07 de setembro de 2018

Tava eu, agora há pouco, pensando em como exatamente a vida é uma desgraça. E, claro, falando em desgraça, lembrei da adolescência. Que que a minha atualidade e minha adolescência tem em comum? Isso mesmo, o transporte público.

 Quem dera.

O que eu, como todo pirralho revoltado com a burrice generalizada do mundo, fazia durante o transporte público? Ouvia música. Porque tem duas coisas que aplacam a babaquisse da juventude: A primeira é música que representa o quão genial e incompreendido você é, e a segunda é tomar no cu. Como tomar no cu tava fora da minha lista de afazeres na vida, eu me virei pra música. Aquela época veio, ficou um tempo, minguou e enfim, pela graça do Senhor-Pai e a alegria de Nosso Salvador Eterno, morreu, já não sem tempo.

Não muito tempo atrás passei rapidamente pela questão toda, mas falando justamente do ponto de vista contrário: O quão desimportante, e ao mesmo tempo mais especial, “ouvir música” estava pra mim. Em resumo, música virou comida, e ar, e água: Sustento, não motivo de apreciação. Tudo muito bem, tudo muito bom, até hoje, quando me pego pensando em quão exatamente aqueles anos são diferentes da atualidade.

Agora que eu tenho uma noção muito mais específica de quão bosta eu sou, dá pra parar pra pensar com maior exatidão nas coisas que me rodeiam: Enquanto que há anos atrás a música era uma válvula de escape para frustração, um meio de abstrair o mundo ao redor e entender melhor a vida, hoje esta válvula não existe. Não tenho como apontar um (Ou até mesmo mais) fator que aja como alavanca pro dia a dia, que esteja presente em vários momentos, que tenha o mesmo peso e a mesma importância.

 2006 mandou lembranças (Nota: se você pesquisa “i feel empty” no Google o primeiro resultado é a linha de prevenção ao suicídio)

E velho, meio merda isso aí, né? Porra, o mundo é muito mais fácil quando cê ainda não se deu conta de que você não é especial.

Claro que eu sei que isso não é exemplo algum de uma população, afinal de contas tem gente que literalmente tem a música como a coisa mais importante em suas vidas por suas vidas inteiras… Dá meio que uma invejinha isso aí, conseguir gostar de algo por tanto tempo, com tanta intensidade, através das mais variadas mudanças em suas vidas.

Eu ia fazer um trocadilho com o refrão, mas essa jogada badboy no pirulito me pegou desprevenido.

Pra mim é um treco muito alheio, e eu sei que, de certa forma, a “culpa” é minha, mas essa coisa de ter um foco não funciona. Pra mim a mudança é um treco tão natural que só o pensamento de manter o interesse em um único tópico, e não pulando de um pra outro com cada coisa que chame a atenção, me dá ao mesmo tempo um certo cansaço e uma certa admiração… Legitimamente não sei se tem um “jeito” melhor que o outro, até porque eu nunca vivi o outro jeito, mas até onde dá pra notar é mais uma questão de aceitação consigo mesmo que qualquer outra coisa.

Ainda assim, a reflexão de agora há pouco fez mais um desserviço que qualquer outra coisa, afinal, à bem da verdade, eu tenho e tive muito mais acesso e oportunidades que a gigantesca maioria da população não só do Brasil mas do mundo: Deve ser muito bosta passar a vida inteira sem a tal válvula de escape… Independente do que ela seja. Porque porra, tem gente que nasce se fodendo, vive tomando no cu e morre mais arrombado que a sua mãe, aquela puta. E olha que eu nem tô falando de gente que é escravizada, vendida pro tráfico ou qualquer dessas outras merdas mais pesadas… Claro que também tem gente cujas válvulas de escape sejam ter escravos, vender crianças e preferir 7 Belo à Yogurte 100, mas essa gente tem mais é que se foder mesmo.

O grande ponto é, como os gringos dizem, “you can’t catch a breakporque tudo fica melhor em inglês: Tem um limite pro quê churrasco e futebol no fim de semana conseguem compensar, saca? Milagre não acontece o tempo todo assim não principalmente se você tá numa igreja que só ganha milagre quem paga dízimo, e Copa só de quatro em quatro anos… E olha que já tem 16 que nem com isso o brasileiro pode contar.

O que eu tô tentando dizer é que tem muita gente que precisa ter quinze anos e um fone de ouvidos nesse mundo. E fazer cara feia pra quem não tem fone de ouvido. E pra quem não tem quinze anos. E pra quem não tem dezessete e é gostosa. Nem tô falando que o mundo seria um lugar melhor, até porque o mundo tem adolescente babaca o suficiente há decadas e nada mudou, mas que seria legal dar um alívio pra galera, isso seria. Só pela camaradagem mesmo. Contanto que a galera não decidisse realmente se comportar como adolescente de novo, acho que daria certo.

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