Público não se pega, se conquista

baconfrito sexta-feira, 01 de junho de 2018

Não sei vocês, mas eu tenho um costume muito simples no que se trata de acompanhar tópicos do meu interesse: Se eu não lembro de acompanhar por mim mesmo, então é porque não é realmente importante pra mim.

Eu tenho cerca de 500 favoritos no meu navegador. Quantos eu uso realmente? Uns 20. Já cheguei a ter uns 3500. Basicamente é isso: Eu favorito a parada porque acho realmente interessante e que possa ser útil (E, de fato, às vezes é), mas por via de regra o treco fica lá até eu não ligar mais e resolver apagar a parada numa das vezes que eu pego pra limpar a coisa toda.

Ainda assim, esse pensamento do primeiro parágrafo do texto é válido: Eu não me inscrevo em newsletter alguma (Tirando as automáticas em cadastro e tal, e ainda assim, só esta semana, cancelei umas dez), não favorito e me inscrevo em canal do Youtube, não coloco nada na discagem rápida do celular, não monto planilha de coisas à checar… Em outras palavras, a menos que o que quer que seja me interesse ao ponto de manter minha atenção rotineiramente, eu não me preocupo em ir atrás. Porque, pra mim, se não é divertido e informativo e cativante o suficiente para que eu queira ir atrás, é porque não vale meu tempo pra início de conversa.

 Quem editou essa imagem tinha que ir preso.

Porque é tão fácil hoje em dia, não é? Basta clicar numa caixa de diálogo e aceitar receber o que quer que seja, segundos após o que quer que seja for disponibilizado… Isso é um avanço incrível no que se trata de tecnologia e comunicações e táticas de negócio, mas porra, vira lista de tarefas diárias, saca? Ligou o computador, abriu o navegador: Ver sites X, Y e Z de economia, checar os vídeos do Zé e do Arnaldo, ler aquelas seis webcomics, ver o resumo das notícias de ontem, e conferir se o episódio da série dessa semana já tá online e com legenda pra streaming… Não é assim que eu quero consumir meus interesses. Eu não quero tornar meu interesse numa rotina, quero que ele me guie quando vejo uma possibilidade. Quero que o que eu esteja vendo, lendo, ouvindo seja entretenimento e informação o suficiente pra me fazer voltar porque eu quero mais.

Quero poder redescobrir as coisas que eu segui por um tempo e depois larguei, quero criar uma memória afetiva baseada na antecipação e não na certeza de que vai estar na minha caixa de entrada… E depois, esse monte de notificações e mensagens e e-mails, isso tem um nome: Spam. Isso é spam que você aceita receber, é a legitimação da encheção de saco voluntária. Liguem pra La Boétie e digam que ele tava certo, só errou em que parte da sociedade o treco seria aplicado.

É por isso que, pra mim, parece tão estranho essa história de “se inscreva no canal”: Pra mim é muito mais interessante voltar à um conteúdo porque esse conteúdo é bom o suficiente pra me fazer querer voltar, do que simplesmente porque um sistema automático fez meu celular apitar e piscar luzinha até eu ir ver o que é. Como eu disse, eu tenho bookmarks e favoritos e tudo mais, têm coisas aqui no meu navegador e no meu celular que estão salvas, e que eu checo quase que diariamente, e caramba, como cansa.

 kkk essas imagens sao mt tosca o computador não tem nem fio ligado

É um dos motivos que me fazem largar mão de conteúdo: Essa “necessidade” artificial de ter o mais atual a todo instante. Se algo atualiza uma vez por semana você está checando duas a três vezes por dia, se atualiza a página fica aberta e é só F5… Coisa boa leva tempo pra ser feita. E se é notícia que você quer, por que caralhos cê tá fissurado na coisa? Se for realmente importante você vai saber de qualquer jeito, não é como se tivesse um 11 de setembro a cada vinte minutos. Porra, nem subcelebridade vai à praia com o affair a cada vinte minutos. Eu sei que isso tudo faz parte de um debate maior de como nós nos relacionamos com a tecnologia e em como a internet estando mais e mais disponível afeta nosso comportamento, mas enquanto a tecnologia avançou, nós não avançamos: Você é a mesma pessoa de três gerações de processadores atrás.

Dar-se o tempo de aproveitar as coisas é importante, quase tanto quanto dar tempo para que essas coisas cheguem até você. É algo que eu tenho que me lembrar de tempos em tempos: Há mais coisas no mundo do que eu jamais poderia conhecer, mesmo que superficialmente, e me prender à coisas só porque elas estão alí não é nem um pouco benéfico. Ir procurar é importante, principalmente numa sociedade como a nossa em que ter algo entregue nas nossas mãos não só é uma possibilidade, mas uma realidade, e uma realidade em que isso é um serviço, uma tática de comércio: Você pode ter qualquer coisa na frente dos seus olhos, mesmo sem querer nenhuma delas, mesmo sem precisar de nenhuma delas, e mesmo sem pedir por nenhuma delas. Só o conteúdo que te faz ir atrás dele é imprescindível.

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