Quem sabe faz ao vivo

Música quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Faustão é um panaca, mas pelo menos numa frase ele acertou. Uma banda ou um artista só pode ser chamada de competente se conseguir acender alguns milhares de pessoas. E claro, nada melhor do que gravar um disco ou DVD ao vivo e ganhar muito dinheiro sem precisar escrever nada novo.

Existem algumas espécies de show, cada uma relacionada ao objetivo que o artista busca com a apresentação. Aqui vai uma lista com os principais jeitos de se apresentar.

#01 – A gente gosta de tocar, não importa para quem.

“Banda de garagem” é um termo bastante usado, mas está perdendo um pouco seu significado. Hoje é fácil alugar um estúdio merrequento e só precisar tocar com aquele grupo de pessoas por algumas horas. Principalmente porque muitas bandas são montadas pelas próprias gravadoras com gente que nem se conhece.

Mas ainda existem bandas onde os componentes se amam. Certo, não necessariamente se amam, mas se divertem ao fazer música juntos. Exemplos claros são bandas mais antigas, como Rolling Stones e AC/DC, com integrantes que se conhecem há tempos e com um respeito enorme, entre si e pela música.

Exemplo: It’s Alive!, do Ramones. O disco é produzido até demais, tirando um pouco da graça, mas os caras se curtem e parecem ter feito uma aposta para ver quantas músicas de 2 minutos cabem num álbum.

#02 – Gostamos de música e somos bons nisso, mas você deveria ter ficado em casa escutando um CD.

Shows são arriscados. Sempre tem aquele fã que reclama de alterações. O fã de Led Zeppelin que não consegue tocar air guitar com Stairway to Heaven no DVD, ou o revoltado que ouve Pearl Jam e não se conforma como Eddie Vedder consegue inventar uma letra diferente para Yellow Ledbetter para cada noite da turnê.

Por isso existem bandas seguras, hoje representadas pelo Kings of Leon. A banda é sensacional, as guitarras são na maioria das vezes sutis e em camadas, e os caras realmente conseguem reproduzir esse efeito nos shows. Pena que é tão bem reproduzido que daria na mesma você dar algumas voltas no quarteirão ouvindo a discografia da banda. Afinal, para que pagar muito dinheiro se a única diferença são os “are you having fun?” do Caleb Followill?

 Igualzinho em estúdio

Foi isso que a gente viu no show deles no SWU, e o DVD Live at O2 também deve ser assim.

#03 – Eu sou foda. A minha música é foda. Me amem.

Axl. Rose. Ele sabia que as músicas eram boas (Provavelmente ele ache que são ainda melhores, mas isso não vem ao caso). Ele sabia que seus fãs eram loucos. Ele sabia que iria ser notícia no dia seguinte, seja pelo som ou pela briga com a seção VIP. Ele sabia, e por isso os shows do Guns N’ Roses eram, no início dos anos 90, o maior espetáculo da terra.

Mas por mais ególatra que Axl fosse, o foco era a música. Sempre. Claro, ele saía correndo feito um louco e estragava a voz ao gritar as músicas para quem quisesse ouvir. Mas era tudo parte do espetáculo, todo mundo estava lá para ver a sua banda, mas principalmente para ouvi-la.

O exemplo óbvio é o DVD Use Your Illusion, gravado no Japão. Quem sabe o disco Live Era ’87-’93 fosse ainda melhor, mas a produção exagerada acabou com a graça de uma das bandas que mais empolgava em cima do palco.

 Barulhentos, arrogantes e ótimos

#04 – Entendemos que o ingresso foi caro, então a experiência será completa. Aproveitem.

Megalomania. Sim, num nível ainda maior do que a de Guns N’ Roses. Na banda que melhor representa a “experiência completa”, esta poderia vir na forma de um muro de alguns metros de altura , ou num porco voador, ou nem esquemas de luzes perfeitamente sincronizados com o áudio. Áudio de primeira por sinal, com efeitos de profundidade e, ocasionalmente, efeitos quadrifônicos.

Sim, estou falando de Pink Floyd. Não me levem a mal, nem considero a turma de David Gilmour a minha banda favorita, mas não há show melhor que o desses velhinhos. É inevitável se arrepiar ouvindo a introdução de Wish You Were Here, ou de Coming Back to Life, ou de Sorrow.

Assista o DVD Pulse. Você já deveria ter visto. De preferência, esteja chapado. Se permita ser carregado por Time ou The Great Gig In The Sky.

#05 – Se curvem. Me louvem. Eu sou seu Deus.

Qualquer brasileiro que goste de música se lembra de fevereiro de 2006. Num domingo, Rolling Stones na praia de Copacabana, 1 milhão de pessoas vendo uma banda que não fazia aquilo por dinheiro, que tocava porque é o que eles fazem. Um grupo de velhinhos magricelas e acabados que fez quem gosta de funk dançar Brown Sugar. Um show sensacional.

 Vai se foder, Bono

Na segunda-feira, U2 no Morumbi. Admito, nunca gostei deles. Mas era uma semana especial, com dois shows históricos sendo transmitidos pela maior rede de TV do país. Assisti ao show e fiquei com nojo. Queria saber o que tanto falavam sobre o disco Vertigo, descobri que é péssimo. Fiquei curioso com o guitarrista, The Edge, mas só o que vi foi uma troca interminável de equipamento, até começar a contar quantas guitarras diferentes o cara de touca usava (Tipo, marcando no caderno. Deus do céu, que “show” tedioso).

E claro, tem o Bono. O Bono da ONU, o Bono dos óculos escuros à noite em lugares fechados. O Bono que vai salvar o mundo. O Bono que enche o saco, que irrita, que acha que é o Messias. O Bono que, em One, a única música do U2 que eu poderia aturar, tem uma atuação desastrosa que acaba com aquilo que poderia ser ótimo (Por sinal, a versão da Mary J. Blige é 90 vezes melhor. [?] Até o Bono cantou melhor com ela).

O que lembro daquele show é: Bono com bandana, a introdução ecumênica de One, 28 guitarras e a Katilce. É pouco. É exatamente o que eu esperava.

Só sei que shows de rock são foda. Sabe o que mais é foda? O Bacon no Twitter, Last.fm e Orkut. Sério.

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