Recomendo: Crise de Identidade
Todos os anos, as grandes editoras de quadrinhos – Marvel e DC – procuram criar uma mega saga que promete mudar o statos quo de seus respectivos universos. O problema é que essas megas sagas costumam ter centenas ou pelo menos dezenas de títulos interligados e ao fim de tudo não mudam praticamente nada.
E, é lógico, nessas mega sagas nem metade dos títulos interligados chegam aqui no Brasil, mas a verdade é que esse tipo de evento só tem um objetivo: Vender. Se não fosse esse o motivo, não teríamos títulos e mais títulos ligados a um evento que no fim não mudou coisa nenhuma.
Mas, em 2004, um evento mudou esse estado de que só grandes sagas é que mudam a forma de encarar o universo dos super-heróis. Nesse ano, com roteiro de Brad Meltzer e desenhos de Rags Morales, a DC lançou a mini-série Crise de Identidade, que abalou as estruturas do Universo de forma geral, além de mostrar que não existem personagens ruins, mas sim histórias ruins.
É verdade que a história causou um reboliço por ter inserido alguns retcons (Novas informações ao passado dos personagens) que acabaram mudando conceitos que se consideravam imutáveis nos quadrinhos, pois mostram que heróis podem ser humanos, passíveis de erro.
A mini teve só sete edições, mas a história foi tão bem elaborada e fechada em si que provocou mudanças posteriores em diversos títulos da editora. Mas o que chama a atenção, além desses fatos que mudaram o passado de certos personagens, foi a carga dramática passada a cada página numa narrativa cinematográfica. A partir desse ponto é possível conter spoiller, se é que você não leu ainda.
Meltzer (Trabalhando com personagens considerados secundários) conseguiu, principalmente, mostrar que não há personagens ruins, mas histórias mal escritas, já que Crise de Identidade tem como trama principal o assassinato de Sue Dibny, esposa do Homem-Elástico (Ralph Dibny), cuja identidade secreta é pública.
Após a descoberta do crime, os heróis procuram o(s) possível(is) responsável(is) pelo crime. E é nesse momento que descobrimos um fato que muda o statos quo do universo, já que os heróis são tido como pessoas totalmente voltadas para o bem, mas a revelação de que o vilão Dr. Luz teria estuprado Sue Dibny no próprio satélite da Liga da Justiça causa ao leitor ao mesmo tempo indignação e surpresa.
Mas é a seqüência deste crime que mostra o quanto os heróis podem não ser perfeitos e agirem como humanos. Depois de flagrarem Dr. Luz no satélite cometendo o estupro, os heróis acabam lobotomizando o vilão e essa prática acaba sendo usada em outros super-criminosos também.
É então que surge uma grande discussão sobre a ‘ética super-heróica’, e até onde um herói pode chegar para proteger aqueles que se ama, e o verdadeiro peso de se usar uma máscara. Mas não é só isso, eles acabam lobotomizando também um herói, ninguém menos que o Batman.
Além disso temos mais duas mortes: A de Jack Drake, pai de Robin (Tim Drake) e o Capitão Bumerangue, um antigo vilão do Flash, que também acabara de descobrir que tinha um filho. Os dois personagens acabam matando um ao outro. E na sequência temos uma cena em que Bruce divide a dor com Tim – na sexta edição – que é fabulosa.
Enfim, enquanto a paranóia toma conta dos super-heróis e seus familiares, uma vez que até Lois Lane é ameaçada, o assassino continua desconhecido, e só depois é que Batman e o Dr. Meia-Noite conseguem descobrir que o assassino de Sue Dibny não era um vilão, mas sim uma pessoa do próprio círculo familiar dos heróis.
De qualquer forma, a história é fantástica e o melhor de tudo é que não exige conhecimento de décadas de cronologia para entender e acompanhar. No Brasil, a obra já saiu no formato de mini e em versão encadernada e absolutamente vale a pena.
Crise de Identidade
Lançamento:2004
Arte: Rags Morales
Roteiro: Brad Meltzer
Número de Páginas: 272
Editora: Panini
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