Refletindo sobre a Dominação
Tem já uns dias que o Jo resolveu sair da vida de operário e entrar na classe média, essa grande e alegre família que, segundo o governo, soma 99% da população brasileira (E os outros 1% são classe alta): Carro financiado, casa pópria própria financiada, férias pra família agendada e, claro, TV à cabo por assinatura. Acontece que o bom gordo, depois de anos na sarjeta, se surpreendeu com o entretenimento da elite: Os reality shows.
E sim, este é o texto sobre o texto dele, ao invés de ser um comentário, como deveria ser. Beijo, Pizurk.
Ao contrário do Jo tive (E tenho) TV por assinatura há vários anos: Não tinha quando criança, que era quando fazia mais falta, e agora que mal assisto TV, taí o troço. Acontece que é impossível não estar à par do que rola na TV de forma geral, não só pelo contato com outras pessoas e pela constante repetição dos mesmos programas e episódios, mas porque como o Jo disse, uma boa parte da programação toda é dedicada aos reality shows.
Como também apontado pelo Jo, há realities sobre um monte de coisa, com os de sobrevivência, comida, negócios de família, tatuagem e simplesmente sobre gente esquisita com lugar de destaque. Como já dizia o poeta, a vida imita a arte, e cada programa avança mais em nichos específicos, estratificando a programação: Aposta-se muito mais em pequenos grupos do que em grandes massas. Basta notar que programas como BBB, A Fazenda e semelhantes já vem decaindo há vários anos, mesmo sendo os reality shows “originais”.
Acontece que eu nunca tinha notado o quanto a TV estava cheia dos reality shows, e o motivo é óbvio: Eles nunca foram sobre a realidade. Claro, o tipo de programa tem esse nome, mas todos sabemos que nenhum deles retrata realmente a vida real: Se retratassem realmente seria um saco e ninguém assistiria. Não creio que tenha alguém no mundo que realmente assista TV para ver na tela algo que “está acontecendo de verdade” por aí. Quero dizer, pensem em quando a TV foi inventada: Tava uma galera reunida na frente de uma caixa que mostrava outras pessoas, num lugar longe, cantando, dançando e apresentando programas de verdade. O que se via na TV eram pessoas reais, fazendo realmente o que se podia ver: Não só era revolucionário, era novidade.
Não estou dizendo que a TV daquela época era uma coisa inocente e linda; não sou tão hipster assim. Mas a magia da TV era justamente a transmissão de algo que estava acontecendo (Ou já tinha acontecido): Se você saísse de casa e fosse no lugar retratado encontraria a mesma coisa que tinha acabado de ver naquela caixa. A TV evoluiu, claro, e assim chegamos aos reality shows e sua premissa básica de mostrar algo “de verdade”, mas de forma que se encaixe nos interesses do canal, dos produtores, dos telespectadores e até mesmo que quem é retratado no programa (Porque essa ladainha que várias pessoas fazem depois de acabado o programa sobre como não gostavam de fazer o programa é pura filha da putice).
Assim como o Jo, eu não tenho nada contra os reality shows; eu também assisto vários: Gosto dos de sobrevivência (Os bons, esses aí com gente pelada são uma merda mesmo), de alguns de culinária, alguns sobre gente esquisita até que passam também, pra não falar nos sobre transportes de cargas complicadas, construções de grandes obras arquitetônicas, novas máquinas e indústrias, os dos construtores de aquários, tatuadores, alguns dos que salvam bares e ainda não assisti, mas tenho certeza que o da Tati Quebra Barraco é melhor que vários e vários outros. Eu até mesmo gosto de alguns sobre mágica, tanto o com o Mister M (Mesmo que ele não use esse nome lá nas gringas) quanto os com jogo de câmera (E que nem são mágica mesmo).
A minha diferença em relação ao Jo é que só fui me dar conta da dominação da TV por esse tipo de programa quando li o texto dele. Pra mim sempre foi TV como qualquer outra: Ficção. Ainda que o plano de fundo seja de retratar a realidade (E de certa forma o faz, já que essa gente toda realmente tatua, cozinha, briga com crocodilos e mais sei lá que caralhos essa gente faz), sempre foi um produto cheio de edições, idealizado e realizado desde o começo pensando em como conseguir audiência, mesmo que às custas da “verdade”.
Mas agora que o Jo chamou minha atenção pro problema, sou obrigado à concordar novamente com ele: Essa dominação já está levando à uma exaustão que a TV não tem sequer como aguentar. A TV já está em crise, e a solução dá resultados mas não prepara o solo para o novo plantio: É um tiro no pé no meio de uma maratona. E a TV já está em último.
E não, não vou dar pro Jo. E Dance Moms é uma merda.
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