Resumão: UFC Fight Week
Semana passada rolou o que foi chamado de UFC Fight Week, três dias de paz, amor e música muita luta: Na quinta, rolou a disputa pelo cinturão dos Leves entre Rafael dos Anjos e Eddie Alvarez; na sexta, a final do The Ultimate Fighter 23, com o combate entre as Peso-palha Joanna Jedrzejczyk e Claudia Gadelha e, no sábado, a edição comemorativa mais importante do ano, o UFC 200, que já começou cagada. Com dois dias de antecedência, Jon Jones foi pego no exame antidoping não por uma, mas duas substâncias proibidas, sendo defenestrado do card, deixando o campeão interino, Daniel Cormier, desolado, pensando sobre o prejuízo financeiro e emocional de segurar essa barra que é ter Bones como principal oponente. Quem entrou para salvar o dia foi Anderson Silva, que não tinha nada a perder. Muito pelo contrário. Só vi vantagens. Engordou a conta bancária e lutou sem a menor obrigação de vencer. Só na brisa. Sobrou zica até para Bruce Buffer, o apresentador, que também quase desfalcou a semana mais importante da organização ao lesionar a perna numa batalha… de lip sync. Tem como ser mais maravilhoso? Não tem. Apesar da dor e das dificuldades, ele conseguiu comparecer. Estimamos melhoras.
Mas vamos por partes, porque rolou muita coisa nessa que foi uma espécie de festa estranha com gente esquisita. Chega mais!
UFC Fight Night: dos Anjos vs. Alvarez
Como toda enxurrada de eventos que precedem uma boa batalha, esse UFC Fight Night foi meio opcional. Muitas finalizações e nocautes em um card recheado por desconhecidos loucos para mostrar serviço, entregando bons combates. Então o saldo foi positivo. Menos para o Brasil, que perdeu seu (Até então), último cinturão, quando o (agora ex) campeão levou uma saraivada de socos do underdog americano.
Parece que o MMA brasileiro está futebolizando. Em vez de investirem em jovens talentos que ralam pra pagar a mensalidade da academia, continuam insistindo nos veteranos, sem renovar a fornada. Enquanto isso, o jiu-jitsu e demais artes marciais expandem em grandes academias nos Estados Unidos. Não é o caso específico de Rafael dos Anjos, que está em seu auge e teve cinco importantes vitórias antes da derrota da última quinta. Mas, em 2012, das 8 divisões, quatro dos campeões eram brasileiros. Há de se refletir os por quês e melhorar. Não por patriotismo, nem nada, mas pelo bem do esporte.
Menção honrosa à Roy Nelson, que tomou muita, mas muita pancada mesmo de Derrick Lewis e, ainda assim, levou o embate para a decisão dos juízes. You go, fattie.
The Ultimate Fighter: Team Joanna vs. Team Cláudia
Esse TUF foi marcado pela rivalidade e o desrespeito entre as oponentes Cláudia Gadelha e Joanna Jedrzejczyk. Em 2014, quando lutaram pela primeira vez, a decisão dividida ficou entalada na garganta da brasileira, que não aceitou ou admitiu a derrota. O sucesso, por outro lado, parece ter subido a cabeça da polonesa, que provocava tanto Gadelha quanto os membros de seu time ao longo das gravações, tirando de Ronda Rousey o posto de treinadora mais insuportável do programa.
Gray Maynard, Ross Pearson e John Moraga eram os nomes mais conhecidos, ao lado das treinadoras do programa, claro. O que não significou muita coisa, já que os dois últimos foram derrotados por Matheus Nicolau e Will Brooks em boas lutas. O evento foi bem longo, já que apenas cinco das 12 lutas não foram para decisão dos juízes. Mais do que um programão, foi um teste de resistência me manter acordada. Mas rolou e valeu a pena, porque as últimas lutas renderam. Se o combate entre as minas foi pura selvageria e técnica, o co-main event, que definiu o vencedor do reality show, rendeu um momento inusitado.
Nada novo sob o sol na luta entre Andrew Sanchez e Khalil Rountree. Mas mandar a mãe calar a boca pro mundo inteiro ver é novidade. Fica provado que não dá certo mesmo levar a progenitora para te assistir sendo amassado por outro cara. Eis o momento mais sick da noite:
https://youtu.be/iEVJYFGVkmE?t=6s
Na luta principal Joanna Jedrzejczyk mostrou porque é a Peso-palha feminino #1. Gadelha esteve muito bem nos dois primeiros rounds, mostrando grandes chances de ganhar mas, no terceiro, perdeu todo o gás. De uma vez. Deu para perceber o momento em que a lutadora entrou no automático, administrando os rounds, enquanto a polonesa mostrou cardio e estratégias excelentes. Por decisão unânime, vitória da atual campeã. Ao ser entrevistada, Gadelha solta: Se não fosse o condicionamento, eu poderia ter vencido. Sim, querida, por isso você perdeu. Guarda as desculpas na mochila e leva como aprendizado. Se eu fosse magra, alta e bonita, poderia ser Miss Brasil, mas não sou. Não importa se poderia ter acontecido, mas sim o que aconteceu. Resumindo: A madrugada de sexta para sábado foi mais uma que passamos sem um cinturão BR. Mal pude dormir com essa informação.
UFC 200
A arena, de tão dourada (Amarela, na verdade, mas vamos fingir que era dourada), cegava. O card, cheio de possíveis lutas principais para eventos menores, mas não para a maior do ano, que comemorava o 200º UFC. Foi incrível ver lutadores bem rankeados, candidatos ao título, entre as lutas preliminares. Mas não poderia deixar de ser assim, porque foi estelar. Mesmo sem Jon Jones, que deve ficar dois anos suspenso após seu julgamento pela Comissão de Nevada e pela USADA. Pouco se falou ou pensou nele. Afinal, o retorno de Brock Lesnar — que recebeu o equivalente a 4 milhões de reais para voltar ao octógono — e do também ex-campeão Cain Velasquez eram atração suficiente para o público. Estavam presentes na arena mais de 18 mil pessoas.
O card preliminar especial do UFC Fight Pass, que é uma espécie de Netflix do UFC, apostou em lutadores já bastante conhecidos dos fãs. A abertura ficou por conta do ídolo do Pride, Takanori Gomi, que foi nocauteado por Jim Miller no primeiro round. Em seguida, Gegard Mousasi marretou o brasileiro Thiago Marreta. Joe Lauzon, vencedor do The Ultimate Fighter 5, também nocauteou seu adversário, Diego Sanchez, participante da primeira edição do reality show de lutas. A noite, que parecia promissora, foi pisando no freio e ficando mais devagar. As cinco lutas seguintes foram para decisão, com destaque para o desempenho de Julianna Peña contra Cat Zingano e a soberania inesperada de Kelvin Gastelum sobre o ex-campeão Johny Hendricks, que parecia estar há 10 dias no deserto sem se alimentar. E talvez estivesse, afinal perdeu 20% da bolsa por não conseguir bater o peso e parecia bem mais debilitado que o oponente.
Cain Velasquez e Travis ‘The woman beater’ Browne abriram o main card, onde o mexicano mostrou que voltou 100% após uma série de lesões e deu um baile em Browne, conhecido pelo jeito sujo de lutar e suas cotoveladas ilegais. O namorado de Ronda Rousey foi nocauteado no primeiro round, faltando 3 segundos para o sino tocar. Achei desnecessário parar naquele ponto, afinal, faltavam LITERALMENTE 3 segundos. Mas quem se importa? Velasquez é o nome mais forte da categoria dos pesados e vai ter, mais uma vez, a chance de lutar pelo cinturão.
José Aldo e Frankie Edgar disputaram o cinturão interino dos Penas quicando pelo octógono, o que me deixou tão incomodada, quanto tonta. Não teve muita ação, mas o brasileiro desferiu a maior quantidade de golpes significativos, enquanto o americano ficava pulando, dando uns jabs no ar, sem muita efetividade. Em uma decisão nada tensa, Aldo venceu e, finalmente, a equipe do Canal Combate pôde parar de repetir que o Brasil não tinha mais nenhum cinturão. Tudo bem que é interino, mas ainda é nosso. Quem estava vendo tudo de perto era o campeão *de verdade* da categoria, Conor McGregor, que resolveu passear pelas divisões acima, e já tem revanche marcada com Nate Diaz, após ter sido finalizado pelo Meio-médio em março, no segundo round da luta principal do UFC 196.
Anderson Silva, que entrou como franca zebra, confirmou a expectativa da galera, se deixando levar pelo jogo de wrestling do campeão dos Meio-pesados. Foram três rounds de muito ground and pound mas, para alguém que aceitou o combate com 48 horas de antecedência, estava bom demais já. O público parecia estar feliz apenas por vê-lo lutar. Os lutadores pareciam felizes em receber uma bolada. O UFC 200 foi muito sobre felicidade, então so far, so good. A obrigação de vencer era toda de Cormier, que, além de ser dono do cinturão interino, treinou durante meses para vencer o cara mais duro da categoria, quiçá da organização. Com dever de casa feito e vitória garantida, agora é só olhar pra frente e varrer a divisão, já que o maior inimigo de seu principal oponente, é ele mesmo.
O encontro mais esperado da noite era contra os Pesados Mark Hunt e Brock Lesnar, aposentado do UFC desde 2011 e considerado o azarão. Eu não sei de onde as pessoas tiraram que Lesnar iria “com certeza” perder para o Super Samoan. Ele pode ter se aposentado do MMA, mas continuou ativo no circuito de werstling e agora, livre da diverticulite, estava preparado para um bom combate. O que eu sei é que a luta se desenrolou exatamente como eu esperava: O havaiano sendo massacrado por aquele monte de músculos sem pescoço. O nocaute que o público esperava não veio, mas certamente valeu a pena ficar acordada pelo gostinho de nostalgia na boca. Se o ex-campeão resolver cancelar a aposentadoria, vai bagunçar a divisão. Ele provou para todos que ainda é um dos Pesos-pesados mais perigosos na ativa.
O main event da noite ficou por conta da luta feminina pelo título dos Galos. Miesha Tate enfrentou Amanda Nunes, outra que foi subestimada pelas bolsas de apostas e surpreendeu ao quase nocautear a favorita e, de quebra, aplicar uma guilhotina, só pra tirar onda. Apesar de ter vencido por finalização, foi meio que uma combinação dos dois, porque Tate não aguentava mais meio segundo de porrada, o que fez da vitória muito mais emocionante e eletrizante. Amanda é a primeira campeã brasileira da divisão, cujo cinturão também passou por Ronda Rousey, Holly Holm e Miesha, além de ser a primeira campeã do UFC declaradamente LGBT. Vitória histórica, de todos os lados.
Apesar do hype envolvido, o melhor evento do ano, até agora, foi o UFC 199. Além de ter contado com lutas melhores e um plot twist de arrepiar os pelos da bunda, com Michael Bisping se coroando campeão, muita adrenalina transbordou da TV, algo que a edição comemorativa não foi capaz de transmitir. Mas valeu a pena ficar praticamente três dias virada. Sempre vale, quando o assunto é MMA.
Reflexos do sucesso
No próprio sábado, dia 9, a venda do UFC, que vinha sendo especulada desde maio, foi fechada pela bagatela de 4 bilhões de Obamas, transformando a transação na maior venda de uma organização esportiva. Os irmãos Fertitta permanecem como sócios minoritários e Dana White prossegue como CEO. Portanto, além da conta bancária inflacionada dos envolvidos, nada deve mudar. Especialmente para os lutadores, que devem continuar recebendo uma miséria, à exceção de uma ou outra estrela.
Os próximos grandes eventos já estão marcados. Robbie Lawler enfrenta Tyron Woodley pelo cinturão dos Meio-médios em 30 de julho e a edição 202 marca o reencontro entre Nate Diaz e Conor McGregor, que visa devolver a reputação e autoestima do irlandês. Isso se ele não perder de novo. Segue o barco.