Robocop
O ano é 2028 e o conglomerado multinacional OmniCorp está no centro da tecnologia robótica. No exterior, seus drones têm sido usados para fins militares há anos, mas na América, seu uso foi proibido para a aplicação da lei. Agora a OmniCorp quer trazer sua controversa tecnologia para casa, e buscam uma oportunidade de ouro para fazer isso. Quando Alex Murphy (Joel Kinnaman) – um marido e pai amoroso, e um bom policial que faz seu melhor para conter a onda de crime e corrupção em Detroit – é gravemente ferido no cumprimento do dever, a OmniCorp vê sua chance para criar um oficial de polícia parte homem, parte robô. A OmniCorp prevê a implantação de um Robocop em cada cidade para assim gerar ainda mais bilhões para seus acionistas, mas eles não contavam com um fator: ainda há um homem dentro da máquina.
Morder a língua: Do verbo “se foder por ficar criando expectativa negativa sobre as coisas”. Mas esse tipo de porrada é até bom, porque é mais negócio ter uma grata surpresa do que uma decepção do caralho [Estou olhando pra você, Homem-Aranha skatista].
Admito, eu estava com medo, tal qual o nosso querido amapense descreveu. O problema é: Assim como o original, esse Robocop não é um filme massavéio. Se você for acéfalo e tal, dá pra aproveitar bastante as cenas de ação, as traquitanas tecnológicas e tudo mais que é realmente feito pra encher olhos [E ouvidos]. Mas se você tem um mínimo de conhecimento de como o mundo funciona, a parada fica muito mais interessante. As referências, sejam veladas ou não, vão te deixar de boca aberta. Ou ao menos vai brotar um sorriso no canto dela. Como por exemplo o personagem do Samuel L. Jackson, que é uma síntese da grande mídia, esteja ela apoiando direita, esquerda, oposição ou governo.
Mas, pelo que eu pesquisei, quem merece os parabéns é o José Padilha mesmo, que foi chamado pra fazer um outro filme, não quis, e ainda mandou um “mas eu quero aquele ali”, apontando pra um pôster do Robocop crássico. E que peitou produtor, executivo e estúdio pra ter a versão que ele queria no cinema. E que botou o Joel Kinnaman pra suar naquela roupa lazarenta [Não, não é efeito especial na maior parte do filme]. Aliás, mesmo sendo um filme com uma base tecnológica muito forte, o que é apresentado acaba sendo a superação do “analógico”, que no caso é o humano. Um pequeno aparte aqui: Antigamente, analógico era o que seguia uma analogia, uma lógica racional, algo que fazia sentido, e digital era o que era feito nos dedos. Ou seja, houve uma inversão de valores ao considerar a peãozagem é mais avançado que a racionalidade. Massavéio.
Dá pra se dizer que cada um dos filmes é fruto de seu tempo: O primeiro Robocop é muito mais direto, é o fruto de uma época em que a tecnologia não estava tão entranhada na sociedade, e talvez por isso havia o medo de que a tecnologia poderia ser corrompida por fatores aleatórios e se voltar contra os seres humanos. Este, no entanto, já se encontra num ambiente impregnado de tecnologia, em que temos como grande questão o que é feito com a informação obtida através da tecnologia, ou, em outras palavras: O problema atualmente não é a tecnologia, são as pessoas por trás do controle, que nem deveria existir, buscando um lucro cada vez maior indiscriminadamente. E eu me sinto até vermelho de escrever essas coisas. Vermelho comunista, não que eu esteja envergonhado. Já escrevi coisa muito pior.
Sem contar todo o imbróglio envolvendo ética, tanto científica quanto policial, tendo em vista que as pessoas podem ter reações inesperadas quando pressionadas além da conta. Tem que ver também que o papel da família foi muito menos coadjuvantal do que eu esperava. Mostra que o Robocop é vulnerável, e não é só a munição calibre .50 ou muitos tiros no mesmo ponto, como qualquer blindagem. No fim das contas, é uma história de esperança. Esperança de que o ser humano nunca seja sobrepujado pela máquina.
Conto de fadas, todo mundo sabe que no final a Skynet vai dominar geral.
Robocop
Robocop (117 minutos – Ação)
Lançamento: EUA, 2014
Direção: José Padilha
Roteiro: Joshua Zetumer, baseado no roteiro do filme de 1987 de Edward Neumeier e Michael Miner
Elenco: Joel Kinnaman, Abbie Cornish, Gary Oldman, Samuel L. Jackson, Jackie Earle Haley, Michael Kenneth Williams, Jay Baruchel, Jennifer Ehle, Aimee Garcia, Miguel Ferrer e Melanie Scrofano
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