Sobre 3D
Por muito tempo – e não levem tão a sério o “muito”, claro, considerando que é uma coisa relativamente nova – pensei que tivesse dores de cabeça ao ver filmes em 3D simplesmente por odiar não gostar tanto de efeitos especiais em demasia. Não era uma dor de cabeça comum. Me sentia enjoada e com uma súbita vontade de enfiar aqueles óculos malditos no orifício anal do diretor, do produtor e, principalmente, do primeiro vesgo que viu uma imagem em 3D.
No entanto, relatos de amigos comprovaram que era comum gostar de filmes lotados de efeitos especiais e, ainda assim, ter que tirar os óculos e respirar um pouco com a cabeça entre os joelhos durante o espetáculo. Além de ter a certeza que só tenho amigo maluco, percebi que não era a única e arrisquei dizer em voz alta que a tecnologia conhecida como 3D não estava pronta para nossas retinas despreparadas. Ou, em resumo, disse que filme em 3D é uma merda. Na estreia do Avatar. Numa fila cheia de pessoas vestidas com camisetas de “I coração Cameron”. Acordei 3 dias depois num hospital, com meus entes queridos em… Ok, viajo. Mas eu disse mesmo há tempos que o 3D não estava pronto. E ao ler uma reportagem dia desses, vi que tava certa. RÁ.
Comecemos pelo princípio: O que é uma imagem em 3D? Sim, a resposta parece óbvia. É uma parada com 3 Dimensões. ERRADO. Wikipédia esclarece.
Imagens 3D são imagens de duas dimensões elaboradas de forma a proporcionar a ilusão de terem três dimensões.
Sim, minhas bestas amadas, são só duas dimensões – altura e largura. Então como é que vemos o mundo inteiro em 3D? Afinal, se você for normal (O que é um conceito relativo), não deve ter problemas para enxergar a parede atrás do seu computador e ter noção da profundidade em que ela está. Nossos olhos se acomodam a essa diferença de foco. Cada retina manda uma infinidade de informação (Altura/largura/profundidade/luz – e daí cor/sombra etc.) e o cérebro junta tudo pra fazer com que você, por exemplo, não caia num bueiro. Você tem duas câmeras perfeitas aí na sua cara, que vão e voltam a fim de focar o mundo sem que cê nem tenha que dar o comando. Que maravilha.
Só que um dia apareceu um puto que, ao invés de se manter agradecido, resolveu que não era o bastante usar nossas sublimes máquinas de foco pra ver o que, pra mim, é a melhor arte. Era preciso ver MAIS. Era preciso profundidade. “COMOFAS”, ele pensou. “Já sei, vou MULTIPLICAR çaporra horizontalmente e botar cada olho pra focar em uma imagem e enganar o cérebro. Rapaz, eu sou espertão mesmo!”. Assim foram inventados tanto a imagem tosca quanto aqueles oclinhos do demo que você tanto gostaria de roubar do cinema Eu tenho um, façam ofertas pelo e-mail. Mesmo que as cores não sejam mais diferentes como aqueles das antigas, cada lente é feita pra focar parte das multiplicações. E de uma forma mágica você consegue ver uma bolha saindo da tela. Viva.
Viva o cacete, cê não tem noção da zona que isso faz. Seus olhos têm que trabalhar o triplo pra entender que garrancho é aquele na tela. Afinal, ali só tem 2 dimensões, não se engane. “Os espectadores têm de focar a uma distância (Aquela entre a tela e os olhos), mas convergir a outra (Aquela em que os objetos 3D parecem estar). Isso deve ser a causa do desconforto. No 3D, a ligação natural entre convergência e acomodação está quebrada”, disse o professor de optometria da Universidade da Califórnia, Martin Banks, numa reportagem da Galileu. Por conta desse esforço extra, os olhos de algumas pessoas mandam a seguinte mensagem pro cérebro “Q”, o que o cérebro responde com dor de cabeça e náusea.
Como eu disse, a tecnologia não tá pronta, mas há esperança. O professor Martin Banks e sua equipe trabalham no desenvolvimento de um tipo novo de óculos que focaria os objetos multiplicados na tela antes que eles chegassem à retina. Por hora só resta avaliar se vale a pena o incômodo todo só pra ver meia dúzia, quando muito, de cenas em que realmente se perceba a profundidade das figuras na tela. Convenhamos, paga-se muito mais caro por um filme em 3D só pra ver A LEGENDA um tantinho mais pra frente. Eu, por mim, particularmente, ainda prefiro o bom e velho 2D.
Créditos mais que merecidos pra essa reportagem da Revista Galileu, que mudou minha vida por me dar o direito de dizer “RÁ, NÃO FALEI?”.
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