Sobre não criar expectativas: População 436

Primeira Fila segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Sempre que o app da Netflix me envia notificações, são más notícias. Geralmente avisando que algo que eu to acompanhando e curtindo muito sai de cartaz em um mês e, em vez de prazer, preciso correr em um ritmo de dor e sofrimento atrás do lucro. Porque de sofrimento basta a vida. Mas, quinta-feira passada, na contramão de seus costumes, o aviso era de que um filme estava chegando: População 436, lançado originalmente em 2006, dirigido por Michelle MacLaren. O elenco se destaca pelo faz tudo Jeremy Sisto, como o protagonista Steve Kady, e pela ilustre presença de Fred Durst, que dispensa comentários e mostra que é mais do que um vocalista decadente de nu metal.

O filme conta a história de Steve Kady, funcionário do censo que é enviado a pequena cidade de Rockford Falls para atualizar as informações e acaba se deparando com uma situação inusitada. Recebido com desconfiança pelos residentes, acaba se aproximando do policial Bobby (Fred Durst) e da bela Courtney (Charlotte Sullivan), que parece se destacar entre os moradores do povoado.

E tem essa vibe gótico milharal rural que eu amo tanto.

Inicialmente sua amizade com Good Guy Bobby (Porque sério, ele é muito legal) e sua paixonite por Courtney o cegam para o fato de que ele é tratado como um novo morador pela cidade inteira, e não um visitante. Também passa, quase de forma despercebida, que o número de habitantes de Rockford Falls se mantém inalterado por cem anos ou mais. Quando se dá conta desse dado curioso já é meio tarde, pois se vê enredado em uma cultura com crenças bizarras, onde o questionamento ou a simples vontade de ir embora são considerados uma doença a ser tratada e controlada.

Apesar do baixo orçamento e da canastrice de Jeremy Sisto, o longa não é de todo ruim. Na verdade, é bem melhor do que eu esperava. A trama não é uma obra-prima, mas tampouco é vazia. Explora a fixação dos dogmas e como nos deixamos dominar por eles, o que é interessante diante do panorama. As referências são interessantes e bem evidentes para o público, indo desde Wicker Man original, e não o remake vagabundo protagonizado pelo ícone Nicolas Cage, até o bom episódio da segunda versão de Além da Imaginação, chamado The Beacon. Ao contrário de Sisto, que está sempre sorrindo – mesmo em situações de extremo estresse – Fred Durst se destaca positivamente. Além de ser o cara mais legal do povoado, dá conta do recado como um importante coadjuvante. Also: Eu já falei como o personagem dele é legal?

Me sinto seriamente apaixonada agora.

O final, apesar de um pouco previsível, é ao mesmo tempo meio tricky, porque se choca com tudo o que se acreditava que a narrativa pregava até então. Ou eu não entendi o ponto, algo que me envergonharia tremendamente, já que em momento algum busca profundidade nos assuntos que aborda. É um thriller mediano, produzido puramente para entreter. Porém, mesmo com toda a perenidade, é impossível ignorar a incongruência. A bem da verdade, parece que uma pessoa escreveu todo o roteiro e outra desenvolveu apenas o desfecho.

População 436 é a síntese do senso comum: Quanto maior a expectativa, pior é a decepção. Como eu estava neutra em relação a ele, talvez preparada para achar tudo um grande circo coberto de bosta, acabei me divertindo mais do que poderia prever e aproveitei o que o suspense tinha de melhor a oferecer. Não que seja muito, mas já é alguma coisa. A dica é: AMIGUINHOS, NÃO CRIEM EXPECTATIVAS.

Leia mais em: , ,

Antes de comentar, tenha em mente que...

...os comentários são de responsabilidade de seus autores, e o Bacon Frito não se responsabiliza por nenhum deles. Se fode ae.

confira

quem?

baconfrito