Sou teu fã, você me ama?
Resolvi baixar meu eu de 15 anos aqui: Sabe o que me deixa puto? Artista falando que ama fã.
Infelizmente vivemos num mundo em que chafurdar na breguice do século XVIII não só é aceitável, como desejável (Valendo lembrar que mesmo naquela época já era reaproveitado da Idade Média) e efetivo, logo, o amor é um saco. Isso não é novidade alguma, é claro: Só aqui no Beico acho que já foi tema de quatro ou cinco textos antes, e este aqui é o mais recente nesta saga pra tentar botar um pouco de vergonha na cara da galera (Não que eu ache que vai funcionar).
A questão é que “amor” é um bagulho tão banal que as pessoas dão como troco: Nem mais da desculpa de estar bêbado precisa mais. Daria pra culpar o movimento hippie, as drogas, essa gente politizada com musiquinha tema de enrolar beque alguém ainda fala beque? e até mesmo o projeto de educação no mundo, que ao invés de explicar porque escolas literárias morrem preferem te dar texto como tema de dissertação. MAAAAAAAAAAAAAS a verdade mesmo é que amor é um discurso tão mela cueca que todo mundo aceita só pra não ter que pensar em boleto vencido: É isso mesmo, quem paga conta não ama ninguém.
No meio disso tudo, entre marketing e papagaismos, convencionou-se usar o amor como vírgula autopromocional no mundo do entretenimento. Qualquer bosta que alguém faça por um artista (Seja este da música, cinema, teatro, pintura, desenho…) é retribuído com uma resposta mais fajuta e manjada que depoimento no Orkut: “Muito obrigado pelo apoio, amamos você!”.
Meu pau de chinelo, FDP.
Eu juro que este aqui não é mais um discurso de “artista nenhum gosta de fã, só quer dinheiro”: A real é que sem fã não existe artista nesse mundo mesmo e nego tem sim que mostrar gratidão e respeito, mas puta que pariu, custa fazer isso com um pouco de dignidade e dizer “obrigado”? Imagina se o mundo inteiro fosse assim?
– Filho, leva o lixo lá pra fora que o caminhão já vai passar
– Nossa mãe se num fosse a sinhora eu não taria aqui nem pra levar o lixo, eu te amo muitão
Eu não quero que ninguém me ame. Cês não me conhecem, não sabem meu nome, minha comida favorita, o que eu fiz no final de semana. Porra, o que cês sabem de mim é o número do meu cartão de crédito e, no máximo, meu endereço pra enviar essas bostas de caneca que cês insistem em vender.
Aliás, se você é o tipo de gente que compra caneca você tem mais é que ir tomar no seu cu. Camiseta até passa, mas caneca é sacanagem.
Mas voltando ao assunto, foda-se o amor, eu quero é um aperto de mão e um muito obrigado. Quero uma newsletter com próxima data de show na minha cidade e promoção relâmpago de box de DVD pela metade do preço. É isso que eu assino quando eu consumo algo de alguém, seu produto, sua arte, não a porra do teu discurso fajuto de consideração e falsa proximidade. A menos que cê esteja me chamando prum churrasco na tua casa cê não me ama: Me chama pra gastar mais dinheiro com o que cê faz, eu já mostrei que gosto, mas não vem querer perguntar da porra da minha vida só pra tentar vender livro.
Sabe qual o resultado disso? É que os tais “ídolos” tratam seus fãs do jeito que pais ruins criam seus filhos: Mimando, dando tudo que quer, respondendo à birra e choro falso. Porque qualquer merda que os fãs fazem tá lá o artista pronto pra passar a mão na cabeça só pra fazer aquela moral, só pra não botar o deles na reta. O fim do soneto é que fã vira um adulto insuportável: O tipo de fã que imediatamente ao abrir a boca sobre a tal obra já a estragou permanentemente pra quem acabou de conhecer. É o mesmo tipo de gente que acha que obra e autor são a mesma coisa, e que se a obra é boa artista é uma boa pessoa. É o tipo de gente que invariavelmente vai se desiludir no futuro e aí vai fazer textão em rede social dizendo como fulano “já não é como era antes e que não faz mas as coisas do jeito que fazia”.
Fã que é amado é um otário de marca maior e um pé no saco de quem tem a infelicidade de estar do lado.
Aí, caso o tal artista seja daqueles que acorda de lua, alterna entre fazer merda só porque é revolts olá, 2010 e ser todo paz e amor. Eu tô olhando pra ti, Tico Santa Cruz (Eu juro que eu não presto atenção no Tico Santa Cruz). Aí sim, o bagulho fica loco: Num dia tá falando que o mundo é uma merda e que tem que tacar fogo mesmo, no outro tá fazendo discursinho de #paz, #união, #liberdade, #alegria, #companheirismo, #luz, #energiaspositivas e pia limpa que é bom, nada.
É esse tipo de gente que tem que se foder: Quem acha que só por falar em amor tá livre de tudo nesse mundo e já pode dar palestra motivacional (E pode mesmo, porque palestra motivacional de cu é rola) e quem acha que só porque alguém pregou o amor já é um exemplo de vida. De um lado quem não tem culhões pra admitir que fã é importante sem ser permissivo, do outro quem aceita qualquer falta de caráter só pra ganhar um afago sem valor: Vocês merecem comprar caneca.
Daqui há 20 anos, quando eu já tiver estragado a minha vida e arranjado uns filhos, eu não vou deixar nenhum deles no parquinho junto com vocês, porque eu prefiro filho meu fumando pedra e sendo sequestrado por pedófilo à ouvindo um bando de gente que ele nem conhece dizendo que o ama. Pra amar filho meu só dentro de casa, na rua é pra ser assaltado.