Stallone Cobra (Cobra) (2)
Cobra é um tira que sabe tudo sobre o submundo da cidade grande, e, também, é um especialista nas tarefas impossíveis que ninguém mais quer ou ousa fazer. Seu nome faz estremecer de medo a sociedade marginal. Seu propósito fixo e seus métodos pouco ortodoxos criam uma paranóia extrema, mesmo entre seus colegas policiais. Agora, um terror igualmente mortal acelerou o pulso da cidade, e Cobra foi escolhido: Ele tem total liberdade de ação para encontrar o assassino que vem matando a esmo, de forma impiedosa e selvagem, como uma besta que escapou do inferno. Mas este monstro não age sozinho. Ele é o líder de um bando de assassinos psicopatas, auto denominados Nova Ordem, determinados a eliminar a única testemunha que pode ameaçar o anonimato do grupo: Uma bela modelo (Brigitte Nielsen) que felizmente está sob a custódia protetora de Cobra. Se o crime é uma doença, conheça a cura… Cobra!
Stallone Cobra, na minha opinião, sempre foi “O” filme de Sylvester Stallone. O filme conta a história de um policial da cidade grande que faz parte do temido Esquadrão Zumbi, equipe que se especializa em encontrar e eliminar assassinos psicopatas e outros casos que ninguém mais quer pegar. Clichê sobre clichê, este é um filme perturbador sob vários pontos de vista: Perturbador pela violência que retrata, as idéias que ela representa e o grande número de pessoas que, sem dúvida, ao vê-lo torcerá pelo anti-herói perigoso interpretado por Stallone.
Muito se falou, até mesmo aqui no Bacon, sobre o filme ser raso, mediano pra ruim, ter um pessima cotação em sites especializados e etc. Por isso mesmo, estou aqui pra fazer essa critica, levando o filme a sério como se deve. Então vamos lá. Stallone Cobra, pra mim, sempre será um clássico dos filmes de ação oitentistas, pois é um dos raros filmes americanos que finge ser contra a violência gratuita de uma sociedade em desintegração, mas na verdade é a apoteose dessa violência. Imaginem o Rambo em Los Angeles, rodeado por edifícios altos em vez da selva de territórios em conflito. É a selva urbana, e o inimigo não são os distantes vietnamitas, mas uma gangue de psicopatas que querem criar um novo mundo onde os fracos são destruídos e os fortes sobrevivem. Não satisfeito com o ritmo natural da violência, os assassinos decidem intervir. Eles cruzam a cidade a bordo de vans, cortando com suas facas afiadas qualquer pessoa que descobrirem sozinhas.
Então surge o nosso herói, Marion Cobretti, ou simplesmente Cobra. Como em todo clichê, defensor dos fracos e, o filme quer nos fazer pensar, do american way. Cobra é chamado para deter os assassinos. Seus métodos são pouco ortodoxos. O próprio departamento de polícia só o tolera a contragosto. Mas ele não se importa. Ele ainda é um exército de um homem só, e sozinho, ele parte para derrotar o inimigo e fazer do mundo um lugar seguro novamente. Mas seguro para quê? Certamente não para a democracia.
Na verdade, este filme mostra tal desprezo pelos valores americanos mais básicos incorporados ao conceito de um julgamento justo que Stallone não representa (Ao menos não nominalmente) nem tenta representar. Uma ideologia que é reconhecidamente americana. O clichê quebrado pelo filme é sensacional, um ponto que foi repetido muitas e muitas vezes, aquele em que o mocinho não ganha do vilão se ele não jogar pela regra. Não satisfeito com apenas representar essa idéia, como fez em Rambo, Stallone agora realmente tenta desarticulá-la, ainda que de uma forma bruta. “Nós prendemos e a justiça solta”, diz Cobra a Ingrid, a modelo que está sendo perseguido pelos assassinos e está sob sua proteção. Em uma das cenas, Cobra derrama gasolina sobre seu inimigo. “Você tem o direito de permanecer em silêncio”, zomba ele com desdém, pouco antes de jogar um fósforo aceso, ateando fogo ao vilão. Mais tarde, o arqui-vilão (Um personagem que é um cruzamento entre o Jaws dos filmes do James Bond com Jason, de Sexta-Feria 13) diz ironicamente a Cobra: “Me prenda. Os tribunais são civilizados. Quero ser julgado”. “Eu não sou civilizado”, responde Cobra, indo direto ao ponto. “Este é o lugar onde a lei pára e eu começo”. Um dialogo que diz tudo sobre o filme.
Aliás, o filme se destaca em muito por isso. Seus diálogos são únicos. Eu não diria que são bem ou mal escritos. Não diria também que são toscos. Diria que eles dizem tudo de uma maneira mais cru do que estamos acostumados. E pra quem não sabe, cada linha do roteiro foi escrita pelo próprio Stallone. Talvez por isso a crítica especializada tenha caído em cima. Stallone durante os anos 70 era uma estrela de verdade, tendo sido indicado ao Oscar por Rocky, tanto como ator principal como pelo roteiro, escrito por ele. Mas o tempo passou e a critica especializada não tem a memoria tão boa assim. A nós, fãs, fica a graça e a beleza de dialogos muito bem escritos, como esse aqui:
Cada cena do Stallone nesse filme me faz cair na risada, não importa quantas vezes eu veja e reveja as cenas. Algumas, graças a dublagem brasileira da Herbert Richards, melhor do que Hermes e Renato. Outras, pelo teor reaça que Stallone tentar impor ao personagem, criando tiradas inimagináveis de tão bem pensadas. Uma rápida olhada no apartamento de Cobra revela um enorme retrato do presidente Reagan em sua parede. Este toque provavelmente era pra mostrar a associação entre Cobra e o presidente, mas o filme acaba fazendo oposto. Os únicos lugares em que normalmente têm retratos exagerados dos chefes de governo são os países do leste europeu ou das antigas ditaduras comunistas no resto do mundo, os tipicos países onde os funcionários do governo zombam da idéia de que todo mundo merece um julgamento justo, assim como Cobra faz. Como eu disse antes, reacionário é pouco. Como por exemplo, isso aqui:
O diretor George P. Cosmatos, que também dirigiu Rambo 2, usa a câmera de uma forma obsessiva. O foco é sempre sobre as armas. A pistola automática Colt .45 com cabo de marfim e o desenho de uma cobra, a granada, a borda afiada da lâmina curva especial usada pelos psicopatas, a arma com mira a laser. Nós vemos o brilho de aço enquanto a câmera retorna novamente para facas, machados ou punhais. O único erro do filme é a escolha da Brigitte Nielsen como Ingrid. Nunca entendi o que os caras dos anos 80 viam nela. Colocaram a muié pra fazer Red Sonja. E foi uma merda. Colocaram essa mina em Rocky 4. Ivan Drago salvou o filme. Aqui, ela tem poucas falas, mas quando fala, usa um tom monótono, mudando o tom apenas quando grita, o que dadas as circunstâncias, ela faz muitas vezes. E irritantemente. Talvez esteja aí o grande problema do filme. No meio de tantos acertos, um erro justificou o apedrejamento que o filme passou e passa até hoje. Stallone, que neste filme mostra um mistura dos olhos fundos e inocentes de Rocky com os olhos tristes e sinceros do Rambo, aqui se mostra um pouco mais sincero do que de costume. E piegas como o filme precisa, encontrando assim o tom certo que devia ter imposto a toda sua carreira. Um verdadeiro clássico do SBT.
Stallone Cobra
Cobra (87 minutos – Policial / Ação)
Lançamento: EUA, 1986
Direção: George P. Cosmatos
Roteiro: Sylvester Stallone, baseado em livro de Paula Gosling
Elenco: Sylvester Stallone, Brigitte Nielsen, Reni Santoni, Andrew Robinson e Brian Thompson
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