Superman: Entre a Foice e o Martelo (DC Comics)
Na história não existe “se”, é o que dizem os historiadores. O que aconteceu, aconteceu e é desperdício tentar imaginar como seria se um detalhe ou dois fossem diferentes. Bem, pode até ser, mas a verdade é que é divertido pegar uma história consagrada e pensar nas conseqüencias de uma pequena ou uma grande mudança. E se? E se Hitler tivesse mesmo sido assassinado na Operação Valquíria? E se a crise dos mísseis de Cuba tivesse virado uma guerra nuclear em 1962? E se Stalislav Petrov não tivesse impedido outra possibilidade de apocalipse nuclear em 1983? E se a Confederação tivesse ganho a Guerra Civil Americana?
E se o Superman não fosse americano?
Todos sabem que o bebê kriptoniano que futuramente seria o Super Homem caiu em sua pequena nave numa fazenda no Kansas, Estados Unidos da América. Mas Mark Millar imaginou um dia como seria se o grande herói do estilo americano, por uma diferença de poucas horas, caísse em uma fazenda coletiva na Ucrânia, União Soviética. Por esse pequeno detalhe, toda a história da Terra e de centenas de pessoas ligadas diretamente ao Homem de Aço estaria mudada para sempre.
Tudo começa quando Stalin apresenta o mais novo defensor da pátria soviética: Um homem de uniforme azul-escuro e capa vermelha, levando no peito uma foice e um martelo estilizados, no emblema em forma de triângulo invertido; seu verdadeiro nome é um segredo bem guardado, mas ele atende pela alcunha de Super-Homem. Ele voa, ele é muito forte, dispara raios laser dos olhos e luta pela verdade, justiça e pelo comunismo (Por mais sem sentido que isso pareça). O surgimento desse alienígena super poderoso sob controle soviético causa pânico nos Estados Unidos. O equilíbrio do poder no mundo se altera para sempre. Antes de uma série de eventos que ajudam a amarrar a história da HQ aconteçam, o Super-Homem ainda conhece Diana, a princesa amazona, em uma reunião de embaixadores onde ela e sua mãe, Hipólita, participam. Eu algum tempo, a assim-chamada Mulher-Maravilha luta ao lado do Homem de Aço, espalhando a mensagem do comunismo através dos anos. Enquanto isso, nos Estados Unidos, agora uma nação decadente e cada vez mais excluída na política mundial, Lois Luthor, esposa do cientista renomado e homem mais inteligente do mundo, Lex Luthor, vive uma vida igualmente decadente. Vê seu marido uma vez por ano, já que Lex ocupa a mente com idéias para matar o herói do comunismo e para se alçar ao mesmo níver de poder político que seu nêmesis russo.
É difícil falar muito sobre Superman: Red Son sem acabar estragando algo com spoilers. O que o futuro leitor precisa saber é que a história tem alguns pontos básicos, como a própria personalidade do Super-Homem, que, apesar dos pesares, é um homem bom e até ingênuo. É acreditando em seus princípios e na idéia de que está fazendo bem ao mundo que ele eventualmente se torna chefe de estado da União Soviética após a morte de Stalin, e é com boas intenções que usa seus poderes para monitorar as ações e até mesmo os pensamentos de todos os habitantes da Terra. Há paz, mas uma dura pax romana, os crimes praticamente desaparecem e todos cumprem suas funções sem reclamar nem mesmo mentalmente. Não há liberdade. O Super-Homem vigia tudo e todos, todos os dias. Mas imaginem, ele é tão bom que tolera até a mínima resistência americana. Ao mesmo tempo, é tão ingênuo (Ou imbecil mesmo) que não nota a infelicidade reprimida de seu povo, nem o sinal dado pela figura de um homem mascarado, um certo Homem-Morcego, que é único soviético a bater de frente com o grande líder.
Enfim. Melhor terminar este texto logo. Eu poderia falar muito aqui, mas para isso precisaria de cervejas, umas seis páginas e de não precisar evitar spoilers. Infelizmente, não tenho esses três requisitos. O que eu citei aqui são partes do mundo novo e totalitário que compõe essa que talvez seja uma das melhores HQs já escritas. Tão boa que o mundo totalitário do Superman soviético se tornou um dos vários universos da DC Comics. Espero que isso que o pouco que escrevi aqui hoje tenha despertado o interesse do leitor que ainda não conhece este belo material. Pros que já leram, vocês sabem do que eu estou falando. Cês sabem a obra que têm nas mãos. E, cá entre nós, que final aquele hein? Puta merda…
Vida longa e próspera, camaradas.
Superman: Entre a Foice e o Martelo
Superman: Red Son
Lançamento: 2003
Arte: Dave Johnson & Kiliam Plunkett
Roteiro: Mark Millar
Número de Páginas: 150 (Edição encadernada)
Editora: DC Comics
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