Supositório entrevista – João Vitor Guedes (Loading Time)
Abrindo o Supositório com um espetacular papo de boteco com João Vitor Guedes, colunista do Loading Time onde também escreve André Franco, e um dos sites mais hardcore gamer na internet brasileira. Me empolguei e acabei falando pra cacete com o cara. Deixou de ser uma entrevista e virou papo mesmo.
Entrevista
Atillah: Então cara, fala aí de onte tu tirou a idéia de fazer um site TOTALMENTE voltado pros hardcore gamers, essa raça em extinção.
João Vitor Guedes: Putz…foi um momento de revolta contra os sites porcarias que temos por aí. Vivemos com um conteúdo igual junk food, é rápido, sem graça, mal montado e tudo mais. São sites brasileiros de um bando de preguiçosos que apenas importam conteúdo estrangeiro. E idéias? Textos interessantes? Nada disso… os caras apenas colocam umas notícias que podemos ver em outros sites…umas análises e mais nada. Tudo igual, sem sabor nem tesão. O esquema da Loading Time é escrever sobre games, comentar e pensar. São interpretações de notícias e não apenas fatos relatados. Polêmicas que outros sites têm medo de fazer, como a da pirataria… enfim, fazer um blog de pensador para pensador. São mais que gamers hardcore, são entendidos e interessados em games.
Atillah: Podecrê cara, os sites “grandes” do Brasil acabam sempre caindo nessa de traduzir press release, ou de fazer essas reviews altamente esterilizadas, sem nome de quem fez, sem personalidade. Como se fosse um problema o cara colocar a opinião dele em sobre um jogo.
João Vitor Guedes: Mas é o que o público quer, certo? A maioria quer mesmo olhar a notinha, ver a notícia e sair brigando em fóruns da vida. A maioria tem até preguiça de ler um texto. Fora que normalmente os contratados desses sites são acéfalos que mais acham do que realmente entendem. Vide a Electronic Gaming Monthly.
Atillah: Isso é uma questão interessante cara. Tu acha que o gamer brasileiro ainda é um cara basicamente burro e adolescente? Porque eu QUERO acreditar que o gamer médio brasileiro está crescendo, e que é possível fazer uma crônica mais adulta e reflexiva sobre os jogos. Mas ás vezes fico na dúvida.
João Vitor Guedes: Não acho não cara. Acredito que existe uma parcela por aí que se interessa por games e estuda muito sobre o assunto. Não considero ninguém burro. Mas acho que existe sim uma grande galera que simplesmente não se interessa em ler algo ou discutir sobre. Eu acredito tanto no potencial desse público que escrevo diariamente. Num dos tópicos estávamos discutindo sobre pirataria e eu entrei no mérito de acreditar que o panorama aqui pode mudar. Acontece que nunca vi tanta reação negativa. Muitos me disseram que o Brasil não tem jeito… que tudo está uma bosta e que pirataria é a solução definitiva. Outros me falaram que tentam lutar e fortalecer o pensamento de mercado. Sempre existem os que querem e os que não fazem questão. Eu tento conversar com os crentes numa indústria brasileira, forte e competitiva acho que muitos perdem tempo brigando por marca, jogo, personagem e apenas vendo tudo superficialmente. Precisamos ir além… e por isso me dedico diariamente a escrever no blog. Já sobre a mídia… ela é o reflexo do consumidor, uma das primeiras lições na minha faculdade; se esses canais não fazem nada a mais é porque isso deve bastar para o público, entende meu ponto? Por exemplo, você vai achar muito mais conteúdo num fórum, porém terá que aturar briguinhas, egos, falta de respeito pelo gosto alheio e tudo mais. Tudo tem seus prós e contras: toda sociedade tem aqueles que lutam, os que apenas vivem e os que causam.
Atillah: Cara, gostei da sua visão radical sobre games, acho que a gente precisa mais disso e de mostrar que jogos são basicamente entretenimento, mas que também podem ser uma forma de arte tão válida como cinema ou livros. Pra mim parece que a gente ainda vive num paradigma onde coisas que envolvem diversão precisam necessariamente ser ligadas a uma mentalidade infantil, e isso sempre me irritou.
João Vitor Guedes: Eu te pergunto: cinema é arte?
Atillah: Eu acho cara. Eu acho que alguns filmes são arte sim.
João Vitor Guedes: Pois bem, a indústria de games fatura atualmente bem mais que a idustria cinematográfica. Tudo bem, sao mídias diferentes, mas o ponto é: temos Okami e HALO 3. Temos Lumines e Gears of War. Cara… nós temos blockbusters e games inovadores. Recentemente meu pai estava escutando a trilha do Final Fantasy 7 e me disse: “nossa que trilha boa, qual orquestra e de onde é?” Eu disse que tratava-se de um game e ele ficou impressionado: são game designers, programadores, desenhistas, concepts, enfim, é uma sinfonia de beleza. É um produto belo, interativo… um filme que controlamos. Enfim, é preciso mudar essa imagem infantil de games urgentemente. Mesmo porque games treinam exércitos, ajudam deficientes, simulam situações, enfim, é muito mais do que um simples “joguinho”. Pega a história de Mass Effect (tô jogando) e compara com um Transformers (o filme).
Atillah: Concordo cara. Eu escrevi um material aí, basicamente humorístico, sobre “os próximos 25 anos nos games”, e acabei me tocando sobre o potencial dos jogos para basicamente englobarem TODAS as outras formas de mídia, tornando-se a principal forma de entretenimento em um futuro próximo.
João Vitor Guedes: Eu li…ninja seu artigo.
Atillah: Eu achei que era viagem minha, mas acho que isso está bem próximo de acontecer. Como você disse, os jogos já incorporam hoje o que há de melhor em termos de música, textos e imagens. Me parece inevitável que ele acabe unificando as coisas.
João Vitor Guedes: Acho que vale a pena assistir “13o Andar” ou outros filmes similares. Apesar da visão pessimista algumas vezes eles percebem e mostram o potencial do game. Acho foda o sensasionalismo brutal e irracional da mídia brazuca para com os games. É coisa de nerda babão… só mostram negos alienados e coisas terríveis. Não mostram pensadores discutindo a nova geração como Wii ou o 360 e PS3 que são mais que simples games, são centro de entretenimento, TV e tudo mais.
Atillah: É verdade cara, a visão que a mídia passa é bem bitolada. Mas ao mesmo tempo, eu me assusto PRA CARALHO ao ver que os jogos ainda nem chegaram em experiência de imersão total, mas que já tem um monte de coreano louco MORRENDO de tanto jogar, porque basicamente transferiram suas vidas para o mundo virtual. Lógico que eles são desajustados, mas são coisas que não aconteciam há alguns anos atrás. Os jogos estão ficando sedutores DEMAIS como uma forma de vida alternativa. Vide World of Warcraft e Second Life. E fico achando que a mídia não tem outra alternativa além de focar realmente nos nerds babões.
João Vitor Guedes: Cara, o jogo é sedutor… é a promessa de uma vida melhor. Nele você pode ser um mago level 99, respeitado e ser o que quiser no jogo, salvar o mundo e tudo mais. A vida real é chata, fria. O game, assim como o anime, assim como o comics, assim como qualquer coisa, pode viciar. Tenho um amigo que é um deus no Ragnarok: ele é O CARA. No mundo todo respeitam ele. Mas na vida real ele tem poucos amigos, se sente feio, nunca saiu com uma menina. Ele é quieto e inseguro. No game ele tem personagens level 99 e o caralho. Quem não se sente seduzido por isso? Mas tudo vicia. Jogo, bebida, esporte e até religião. Tudo deve ser medido, certo?
Atillah: Sim, como eu já disse em um outro artigo meu, o que você joga, e como você joga, são reflexos da sua personalidade. Com certeza.
Atillah: Mas vamos falar da geração atual de consoles cara. Qual dos três consoles aí está te seduzindo mais no momento? E por quê?
João Vitor Guedes: Comprei um Wii. Cara…tesão. Gostei do DS (tenho) e do Wii. Ambos seguindo a filosofia nova da Nintendo (depois de tanto tomar naquele lugar e ficar sem grana, resolveu usar a criatividade). Porém achei intrigante o abandono das empresas para com o Wii. Parecem que estão todos enfatizando os gráficos totemicos e tudo mais. Depois comprei um XBox 360 e, como eu mesmo já esperava, o Wii ficou de lado. Não por desprezo meu, mas não consigo ter dois consoles. Como estava faltando jogos eu acabei vendendo ele (o que foi uma boa, já que meu avô comprou o Wii e eu ainda posso jogar quando quiser). O X360 eu adoro. Tenho Gears of War, Halo 3, Overlord e Mass Effect. Está chegando o Assassin’s Creed. Eu tenho o Puzzle Quest, Lumines… eu jogo de tudo. O esquema no XBox é que eu gosto de games de FPS e tudo mais, e meus outros amigos também compraram: foi legal terminar Halo 3 juntos. Ficou em família. Já o PS3? Não… pode passar. Sem jogo… sem perspectiva… somente repetições. PS3 é um déja vu maldito. Nada inovador, com jogos em suas sexta, sétima ou décima terceira versão. Já encheu, saca? Até o TOP 10 da Gametrailers só tinha 5 jogos. Ainda por cima o mesmo controle (sendo que ele fôra criado pela nintendo…adoro essa parte porque os sonistas ficam putos)… mesma filosofia… somente gráficos..nada de novo. Fora que o que tem de “novo” nele são idéias copiadas dos outros. Talvez emplaque, mas enquanto viver na sombra dos seus antepassados eu prefiro esquecer dele. A Sony precisa mudar a filosofia. Mas o PS3 tem uma jóia chamada Little Big Planet…esse eu queria ver.
Atillah: O quente do PS3 é a capacidade tecnológica bruta da parada. Eu AINDA boto fé no PS3, cara. Se fosse pra comprar ações, eu compraria da Sony.
João Vitor Guedes: Eu esperaria. Quero ver se o Blu Ray vence…caso sim, aí é esquema.
Atillah: Porém, estou muito seduzido pelo Wii ultimamente. Metroid Prime é revolucionário, cara. Zelda também é revolucionário, e dentro da própria franquia.
João Vitor Guedes: Metroid do Wii é, desculpe o termo, fodástico. Disse inumeras vezes no Halo 3 que queria o Wii remote pra jogar aquilo. É outro esquema de jogo né cara… também quero ver a “nova” jogabilidade do futebolzinho no Wii. Winning Eleven do Wii promete ser inovador eu não duvido. Aliás, já era mais do que hora do gênero ser reformulado.
Atillah: Eu me impressiono com a nossa capacidade, como gamers, de absorver tão rápido o Wii, cara. Porque faz um ano desde que eu joguei pela primeira vez essa porra, e ainda me impressiono com o potencial do wiimote. Alguém usou drogas pesadas pra desenvolver esses controles. E eu tenho certeza de que eles ainda não foram totalmente aproveitados.
João Vitor Guedes: Cara, o Miyamoto criou um encanador que come cogumelo e usa flores pra soltar fogo. Tudo isso para salvar uma princesa que vive sendo sequestrada por um dragão-tartaruga e tendo filhos do nada. E você ainda acha que alguém usou drogas? Hahahaha.
Atillah: Sério cara, eu não esperava esse salto qualitativo que a Nintendo deu com o DS e o Wii. Dois consoles podres em termos de capacidade gráfica, mas completamente espetaculares na capacidade de inovar e FORÇAR as porras dos desenvolvedores a inventarem formas novas de jogar.
João Vitor Guedes: Conhece o ditado? Com grana = pouca criatividade. Sem grana = precisamos inovar. Quando se tem grana você vai pro caminho dos efeitos, cenas de ação e tudo mais. Sem grana você começa a se preocupar com história, câmera e atuação. Esse é o esquema, a Nintendo tava zicada depois do Nintendo 64 e do GameCube e o que ela fez? Pensou. E mandou muito bem. O NDS eu acho foda. Aliás, tive um PSP e gostava muito dele… mas o DS com o Mario Kart já me seduziu. E confesso que eu gosto de… de… pokemon! Sim eu gosto!
Atillah: O que eu me pego pensando mesmo ás vezes… é como o mercado estaria se a SEGA ainda estivesse na área.
João Vitor Guedes: A SEGa não aguentou tanta bosta seguida. Começou com o Sega CD e foi afundando… falta de organização e outras coisas.
Atillah: Porra, mas o Dreamcast era um puta console cara.
João Vitor Guedes: Eu tive um, era tesão.
Atillah: Eu também. Aliás, ainda tenho.
João Vitor Guedes: Mas não tinha jogo cara… aí morreu.
Atillah: Todos os jogos dele eram bons meu. Todos os… 12 ou 13 jogos, hehehe.
João Vitor Guedes: E quando o Dreamcast foi lançado, a Sony anunciou o PS2…foi treta.
Atillah: Sim, foi um timing péssimo o que acabou com a SEGA, eu acredito nisso também.
João Vitor Guedes: Space Channel, Jet Grind Radio, Chu Chu Rocket…esses eram especiais.
Atillah: Porra, a gente fala pra caralho. Deixa eu pensar numa forma boa de fechar a entrevista e te liberar, cara.
João Vitor Guedes: A melhor maneira é falando mau de alguém ou de alguma coisa.
Atillah: Vou fazer a pergunta que é padrão para todos os entrevistados: qual é a grande revolução nos games que ainda NÃO aconteceu, pra você?
João Vitor Guedes: O dia que passarmos de jogadores para produtores da informação. Um game 100% interativo. Modificadores do canal e informação. Produtores do conteúdo. O Wii é um grande passo e o Little Big Planet também, apesar de escolhas pré determinadas. É outro desta que acho que quando isso acontecer… o resto é consequencia.
Atillah: Cara, eu vivo pra ver esses jogos que revolucionam. Essas paradas muito diferentes que surpreendem a gente.
João Vitor Guedes: Pois é. Quero ver quebrarem o limite da escolha; não sermos mais obrigados a escolher uma entre 90 escolhas, e sim escolher a opção que realmente queremos, saca? Seria do caralho um Rock Band em que você cria sua música, faz do seu jeito.
Atillah: Outra pergunta obrigatória: faz aí teu top 5 de jogos cara. Vale qualquer época e qualquer console. Esses Top 5 sempre mudam, mas é divertido saber o que cada um considera os melhores no momento.
João Vitor Guedes:
5 – Final Fantasy 7 (escolhi esse porque acho o mais foda mesmo.)
4 – Wii Sports (não pelo jogo, mas foi ele que nos apresentou o Wii, e ver meu avó jogar é uma quebra gigante de tabu que durou anos.)
3 – Street Fighter 2
2 – Tetris
1 – Mario 3
Atillah: Porra, só crássico.
João Vitor Guedes: Mario 3 é o Mario melhorado. Mario é o pai da Nintendo e o boom da indústria. Tetris é o pai dos puzzles e jogo mais jogado. Street Fighter 2 é a luta que conhecemos até hoje. Final Fantasy 7 é o melhor da série e ponto.
Atillah: E da safra nova cara? Quais te deixaram uma impressão mais forte?
João Vitor Guedes:
1 – Mario Galaxy
2 – Metroid do Wii
3 – Rock Band
4 – Bioshock
5 – Gears of War
Atillah: Show cara. Obrigado aí pela entrevista e saiba que foi uma satisfação falar com quem entende do assunto.
João Vitor Guedes: A recíproca é verdadeira.