Bem-vindo ao Rio de Janeiro de Daniel Og, um lugar habitado por malandros e otários, trabalhadores e gatunos, publicitários e… zumbis. Yuri, o protagonista da história, é um publicitário de saco cheio da vida que um dia decide se matar. O problema é que ele não foi exatamente bem-sucedido. Yuri acaba voltando do mundo dos mortos em pleno carnaval e pretende retornar para lá definitivamente.
No meio do caminho, ele conhece Andrei, um ladrão de carros homossexual que decide ajudá-lo em sua busca pelo descanso eterno. Acompanhe a saga dessa dupla improvável, que parte sem rumo certo pelo Rio de Janeiro, esbarrando em personagens caóticos, tipicamente cariocas, armando planos para fazer Yuri morrer de vez e tentando faturar uma grana enquanto isso não acontece.
Um publicitário que não gosta de carnaval em pleno Rio de Janeiro… No carnaval. Se isso não é o bastante, ele tá morto. Mas não tá. Zumbificado, ou algo assim, ele sai em busca da morte definitiva. O problema é que não é fácil assim morrer de novo. E eu sei que eu repeti boa parte daquilo ali em itálico. Mas porra, é uma premissa difícil de digerir. Feito um pastel. continue lendo »
Uma das áreas do Bacon onde eu menos escrevo é a de quadrinhos. Isso acontece porque eu tenho poucas HQs; aliás, raramente compro uma, devo ter uma dezena delas aqui. Para o “colecionador de quadrinhos” (Estereótipo que corresponde assustadoramente bem com a realidade) isso pode parecer heresia e gente como eu não deveria escrever debaixo da categoria de HQs do Baconfrito. Não, eu não tenho todas as revistas obscuras do Homem-Aranha e nem tenho coleções inteiras que nunca li e só compro pra juntar em pilhas pela casa. Em oposição a isso, coleciono HQs que me pareçam singulares o suficiente, ou que me reportem à realidade, ao ser humano, à história. Costumo dar bem menos valor à super-heróis, na acepção abrangente do termo (Principalmente suas versões modernas, que vivem de estórias vazias), e colocar toda a minha atenção em dramas verdadeiros, em revistas únicas, em alguns raros “heróis” que me chamam a atenção, etc, etc.
Por esses e outros motivos explicados acima que gosto tanto de Will Eisner, por exemplo; por isso que leio heróis como o Spirit, Batman, Capitão América; por isso que procuro sempre nas bancas e livrarias coisas que me surpreendam, me fascinem.
Recentemente fui surpreendido, e é isso que venho contar hoje. continue lendo »
A DC Comics, como todos aqui devem saber, é detentora dos dois dos melhores selos de HQs do mundo: Wildstorm e o fodástico Vertigo.
Há algum tempo, esses selos estavam sendo um tanto quanto negligenciados pelas editoras. A Pixel tentou, sem muito sucesso, dar continuidade a esses selos, mas não obteve muito êxito. Ao ponto de, para se conseguir volumes de grande qualidade de séries de grande sucesso, como Sandman, era necessário desembolsar quantias astronômicas de dinheiro. Um volume de “Prelúdios e Noturnos”, por exemplo, não sai da mão de um colecionador por menos de R$ 200 (os da Conrad principalmente, que eram de qualidade embasbacante).
Não mais.
Como diz o título, a Panini acabou de obter os direitos de publicação dos dois maiores selos da DC, que inclui preciosidades como Sandman, Transmetropolitan, Preacher, Ex Machina e o magnífico Fábulas, que ainda hei de resenhar aqui algum dia.
Uma das características mais marcantes da série Sandman é o fato de ela mostrar, por uma perspectiva inusitada, os acontecimentos na humanidade: eventos históricos, surgimento de imperadores e escritores, novas versões de lendas antigas… enfim, milhares de eventos conhecidos, reais ou não, são frutos das ações dos Perpétuos, sejam apostas, promessas pessoais ou até mesmo sua falta de ação diante certas coisas. Isso é mostrado claramente em Fábulas e Reflexões, uma coleção de histórias sem ligação entre si, mas que mostram como os Perpétuos supostamente influenciam em nossas vidas. continue lendo »
Jack London é um autor relativamente famoso, suas obras Caninos Brancos e O apelo da Selva são as mais conhecida do público… comum.
Este livro aqui, o A praga escarlate, foi lançado em 1912, e foi um dos primeiros livros a tratar sobre um futuro destruído, em que o mundo conhecido fica sem identidade nenhuma com o atual.
Um velho e seu neto andam por onde a muito tempo atrás passou uma estrada de ferro, agora toda destruída. Na memória, apenas a lembrança de o que passou por lá e que agora não tem chance nenhuma de retornar. O garoto, atento a tudo e um velho, considerado por seus descendentes alguém louco, que fala de maneira difícil para o tempo atual, o único sobrevivente de um tempo que não existe mais.
“Conte para nós sobre a morte vermelha, Vô“, pede um dos netos, atento para ouvir mais uma história, que com elementos conhecidos de todos nós, como as doenças e sobre um futuro que não aconteceu, mas nunca se sabe quanto tempo pode demorar para que ele se realize.
O livro é curto, poucas páginas, mas apesar de seus poucos capítulos, eles são mais do que o suficiente para traçar um bom cenário, completo em todos os seus detalhes, focando no periodo antes da doença,que mostrava as pessoas mortas pela rua, agonizando por pouco tempo, as tentativas de sobreviventes de fugir da infecção e a maneira de como os sobreviventes se organizaram em um futuro destruido por uma doença que não teve tempo de ser arranjada uma cura.
A praga escarlate
The Scarlet plague Ano de Edição: 2003 Autor: Jack London Número de Páginas:103 Editora:Editora Conrad
Este texto faz parte de uma lista que, definitivamente, não é um top 10. Veja o índice aqui.
Eu menti para vocês.
Menti quando disse que seriam sete livros. Essa obra maravilhosa, meus amigos, é uma revista em quadrinhos. Isso mesmo, eu vou falar de uma “Graphic Novel” no Primeiro Lugar dessa lista. E, podem apostar, esse negócio Merece.
Já falei aqui anteriormente sobre o que penso de quadrinhos e como os considero Literatura também. Não só isso, trata-se de uma nova possibilidade de literatura, já que trabalha as imagens em conjunto com a Palavra. Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro não é diferente. É uma incrível demonstração do poder artístico dos Quadrinhos e, podem acreditar, é a obra perfeita para nosso Primeiro Lugar.
Clay é um fracassado. Desde que sua última namorada o deixou sem nenhuma explicação, ele fica se arrastando por aí como um depressivo babaca. Resolve até ir num daqueles Cinemas de Filme Pornô (se você mora em São Paulo e já passou pelo centro, sabe exatamente que tipo de cinema é). Entre os vários curtas nojentos e mal-feitos que são exibidos, um deles chama sua atenção: “Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro”. Não há sexo, não há nudez. Há somente uma mulher com roupa e máscara de couro, espancando um homem, e dois outros velhos Bizarros. No fim do curta a cabeça dos velhos surge decepada em cima de um tapete e a mulher tira a máscara de couro. Para surpresa de Clay, é sua ex-namorada.
A partir daí você pode esquecer a realidade. Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro é quase um totem de Adoração ao Caos e ao Non Sense. Daniel Clowes mistura Lendas Urbanas americanas, partes da filosofia do serial killer Charles Manson e mais uma porrada de Imagens Chocantes vindas de sua Mente Doentia. Enquanto Clay viaja para a cidadezinha de Gooseneck Hollow (após ter se consultado com um guru que atende dentro do banheiro do cinema pornô e pedido o carro emprestado ao seu amigo, que agora possui lagostas no lugar dos olhos), em busca de pistas sobre a produtora do filme e o paradeiro de sua ex-namorada, ele passará por: Cães sem Orifícios; Putas com Três Olhos; Teorias da Conspiração envolvendo carismáticos bonequinhos de chapéu e narigão; Policiais Corruptos que espancam seus prisioneiros e lhes tatuam, com um canivete, a silhueta do mesmo bonequinho estranho; Seitas Terroristas de religiosos fanáticos; Deficientes Físicos no formato de Batatas Gigantes; e, pode acreditar, coisas bem piores…
Escrito e desenhado pelo promissor Daniel Clowes em 2000, Como uma Luva… impressiona em todos os aspectos. Cada frase, cada diálogo, cada quadro, tudo é feito de modo a esconder uma referência, um ironia ou uma brincadeira nas entrelinhas. Daniel Clowes, através de um verdadeiro Pesadelo em Quadrinhos, traduz todo o vazio existencial do final do século XX, começo do século XXI.
Caótico, Brilhante, Doentio, Surreal e Amedrontador, foi trazido ao Brasil pela Conrad em 2002 e ainda pode ser encontrado nas melhores livrarias.
Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro
Título original Like a Velvet Glove Cast in Iron Ano de Edição: 2002 Arte: Daniel Clowes Roteiro: Daniel Clowes Número de Páginas: 144 Editora:Conrad
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Funciona da seguinte forma: você é chamado de Los Angeles para cobrir uma das mais famosas corridas de motos em Las Vegas. E você, como jornalista respeitável que é, Aceita. O que você faz?
Obviamente, pega seu advogado, Todo o dinheiro fornecido pela revista que te contratou e gasta da seguinte forma: um gigantesco conversível vermelho & alugado, gentilmente apelidado de Tubarão, e as mais variadas Drogas & Entorpecentes possíveis. Ácido, Pó, Haxixe, Éter, Mescalina, Adrenocromo e o que mais sua mente Doentia pensar.
A corrida de motos? Foda-se, é poeira no deserto. A grande caçada é O Sonho Americano.
É essa a proposta de Medo & Delírio em Las Vegas, um dos livros mais famosos de Hunter S. Thompson, o jornalista criador do estilo gonzo. Porque, sim, isso Ainda é jornalismo, e dos mais assustadores.
Entre viagens especialmente fortes com as drogas, cenas bizarras dentro de luxuosos cassinos (yeah! credenciais de imprensa!), fugas espetaculares de hotéis luxuosos e o constante medo da polícia (sim, Las Vegas pode parecer o paraíso de tudo que é ilegal e degradante, mas você pode ser preso por anos simplesmente por fumar maconha); Hunter discorre sobre a grande decadência do século americano, o fim do sonho de liberdade de uma geração inteira de beatniks e hippies, e a entrada em uma espécie de “torpor nihil” por parte de toda uma nação.
Não há mais futuro para a Grande América. Woodstock acabou. Nas palavras do Grande Gonzo, “ainda dá pra ver a marca de arrebentação da grande Onda em que viajamos”. Mas a onda arrebentou…
No entanto, a mensagem é clara: o Sonho pode ter morrido, mas Drogas ainda podem ser legais. Especialmente misturadas com cassinos, macacos, toranjas, reuniões policiais sobre narcóticos, conversíveis, credenciais, facas de caça, samoanos, desertos, fotógrafos portugueses, menores de idade parecidas com buldogues e ataques de morcegos gigantes.
Medo & Delírio em Las Vegas, bem como grande parte de toda a obra de Hunter S. Thompson, foi publicado pela Conrad no Brasil e ainda pode ser encontrado nas melhores livrarias (nossa última edição é de 2007). Além disso, o livro ganhou uma adaptação para cinema na década de 90, com ninguém menos do que Johnny Depp no papel de nosso querido gonzo. Com certeza, vale a pena dar uma espiada naquela loucura visual.
Pois bem, até agora foi divertido. Você aprendeu que meninos de 12 anos nus e se masturbando podem ser lindos, e que Mescalina é uma ótima forma de fritar seu cérebro.
Mas…que tal começar a ficar um pouco mais sério? Daqui pra frente, é o Pavor, meu amigo.
Medo e Delírio em Las Vegas
Título original: Fear and Loathing in Las Vegas Ano de Edição: 2007 Autor: Thompson, Hunter S. Número de Páginas: 224 Editora: Conrad
Este texto faz parte de uma lista que, definitivamente, não é um top 10. Veja o índice aqui.
Ok. O nome é Hakim Bey, uma das maiores incógnitas do fim do século XX.
Nunca fotografado, nunca entrevistado, o Profeta do Anarquismo Ontológico ataca violentamente as bases da sociedade moderna.
Este livro não vai te deixar louco – este livro vai te deixar com Vontade de ser louco. De Conhecer a loucura de perto. De ir mais além, de transgredir, de subverter. Porque, sim, CAOS é um livro Subversivo.
Considerado um “estudo sociológico” (falicitação na catalogação, claro), CAOS – Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares discorre sobre o Levante. Inventado por Hakim Bey, o Anarquismo Ontológico não procura soluções “salvacionistas” para a “Ordem Mundial”, não se trata de “política revolucionária”. Nada de “Morte á Burguesia”. É o Presente em si mesmo. A busca pela Liberdade Individual & Instantânea através de Ações que desafiam a Ordem.
O livro começa com uma série de “Lendas” a respeito de Caos. Não como um sinônimo de desordem, mas como um conceito que engloba tudo. “Caos são todas as Ordens ao mesmo tempo”. É o começo dos tempos. O Uno. A Divindade.
Afinal de contas, “Caos é Hun Tun, Imperador do Centro. Um dia, O Mar do Sul, Imperador Shu, & o Mar do Norte, Imperador Hu (shu hu = relâmpago), visitaram Hun Tun, que sempre os recebeu bem. Desejando retribuir sua gentileza, eles disseram: ‘Todos os seres têm sete orifícios para ver, ouvir, comer cagar etc. – mas o pobre velho Hun Tun não tem nenhum! Vamos perfurar alguns nele!’ E assim fizeram – um orifício por dia – até que, no sétimo dia, o Caos morreu.”
Só aí, a mistura de lendas orientais, conceitos islâmicos e muita droga na cabeça do Hakim Bey já é incrível.
Mas ele vai além.
Algumas idéias Poético-Terroristas que ainda Continuam em Triste Languidez no Reino da “Arte Conceitual”:
1. Entre na área dos caixas eletrônicos do Citibank ou do Chembank numa hora de muito movimento, cague no chão & vá embora.
(…)
3. Cole em lugares públicos um cartaz xerocado com a foto de um lindo garoto de 12 anos, nu & se masturbando, com o título bem á vista: A FACE DE DEUS.
Claro, isso sem esquecer de sugerir o envio de macumbas e magias negras muçulmanas (que invocam o Djim Negro, de acordo com o autor) a “instituições malignas”, como o New York Times e afins. Ou por que não uma ameaça falsa de Antrax dentro da Bolsa de Valores ás seis da tarde? O importante é a desordem, quebrar o fluxo, instituir o Caos novamente como situação primordial. Uma volta ao início do universo na figura de um Morteiro sendo lançado contra a vitrine das Casas Bahia.
E o melhor: Dá Vontade!
CAOS – Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares foi novamente publicado no Brasil pela Conrad em 2003 e continua em constante impressão. É considerado, junto com TAZ – Zona Autônoma Temporária, o marco de uma nova forma de revolta. Sem esperanças á revolução, sem heroísmos, sem exaltação da pobreza ou demonização do dinheiro – pura Desordem, Liberdade e, principalmente, Diversão. Sem Leis.
“Se a rebelião provar-se impossível, pelo menos algum tipo de guerra santa clandestina deve ser iniciada. Que ela siga as bandeiras de guerra do dragão negro anarquista, Tiamat, Hun Tun.
O Caos nunca morreu.”
E, claro, começamos trabalhando seu espírito de rebeldia. O próximo passo é desenvolver seu gosto pela Alucinação. Drogas Pesadas, meu caro, na sexta posição.
CAOS – Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares
Título original Chaos Ano de Edição: 2003 Autor: Bey, Hakim Número de Páginas: 117 Editora:Conrad