Quadrinhos para adultos

Nona Arte quinta-feira, 05 de junho de 2008 – 15 comentários

Calma, pode subir o zíper da calça, não estou falando DESSE tipo de quadrinhos para adultos, e sim de quadrinhos que abordam temas adultos. Durante esses anos como leitor, tenho percebido que algumas pessoas tem preconceito contra quadrinhos por achar que são todos infantis e previsíveis. Tudo bem, realmente existem quadrinhos voltados para o público infantil, mas generalizar nunca foi algo legal. Então, como nem todo mundo se interessa pelo ponto intermediário (formado pelo Homem-Aranha, Superman e companhia) os quadrinhos adultos se popularizaram.

Apesar de serem originalmente voltadas para o público juvenil, a Marvel e a DC (principalmente a DC) mantém investimentos na área adulta. A Marvel, com seu selo “MAX”, onde publica histórias recomendadas para maiores de 18. A DC, com seu selos “Vertigo” e “Wildstorm”. Por fora correm editoras como a Image, a Dark Horse e a Dynamite, com Spawn, Conan e Army of Darkness, respectivamente, entre outras. E se você se deu ao trabalho de clicar no link da matéria e ler o texto até aqui, deve estar esperando que eu dê detalhes quanto a essas publicações. E é exatamente isso que eu farei.

Marvel MAX

Quem é leitor da Marvel sabe que alguns personagens da editora dão abertura para a criação de arcos mais pesados e a abordagem de temas mais sérios. Criado em 2001 quando a Marvel decidiu cuspir na cara da CCA (Comics Code Authority), e criar sua própria classificação etária. Não existem assinaturas para os selos MAX, e as revistas só são vendidas em lojas especializadas, para leitores maiores de 18 anos. Obviamente isso é só em países que se importam com essas coisas, aqui no Brasil você encontra em qualquer banca de revistas. Essa não é a primeira vez que a Marvel publica histórias com conteúdo explícito. Essa idéia começou na década de 80, com o selo “Epic Comics” (responsável pela primeira publicação de Akira nos Estados Unidos), e em algumas edições do extinto selo “Marvel Knights”.

Personagens famosos, como Thor, Nick Fury e Luke Cage, marcaram presença no selo com ótimas séries limitadas, assim como personagens mais obscuros, como Howard the Duck, Shag-Chi e o ultra-violento Foolkiller. De todos os títulos do selo, dois destacam-se com facilidade: Supreme Power e Punisher. O primeiro é a obra prima de J. Michael Straczynski, o segundo é a melhor fase do Justiceiro. Sob a liberdade do selo MAX, Garth Ennis lida com o Justiceiro de uma forma bem diferente de quando assumiu a franquia, há nove anos atrás. The Punisher MAX não tem posicionamento exato na cronologia, e se isola completamente das outras revistas (não há aparições nem referências a super-heróis/vilões). Garth mostra um Justiceiro depressivo e sombrio, que acabou tomando gosto pela matança de criminosos. Recomendada para quem gosta de histórias de clima pesado.

Aqui no Brasil, essas revistas são publicadas em uma compilação chamada “Marvel MAX” (bem óbvio), que publica também outras histórias que compartilhem da mesma proposta do selo. A revista custa exatos seis reais e noventa centavos (R$6,90), e como dito antes, é vendida para qualquer um que tenha essa quantia em mãos.

Vertigo (DC)

Por menor que seja seu conhecimento na área de quadrinhos, você já ouviu falar desse selo. Alguns dos maiores clássicos dos quadrinhos foram publicados aqui. A proposta da Vertigo é a seguinte: Quadrinhos mais cults. Isso quer dizer menos ação e mais diálogo, com páginas entupidas de referências a diversas culturas, bandas, filmes, enfim, podendo ter ou não relação com o universo principal da DC. Pode parecer chato, mas a idéia fez sucesso absoluto. Tanto que alguns dos principais títulos ganharam adaptações para o cinema. Quais? A primeira foi “From Hell” (Do Inferno), de Alan Moore, que “soluciona” o mistério de Jack o Estripador. Caso não lembre, o filme foi estrelado por Johnny Depp. Depois foi a vez do inglês John Constatine ir para a tela dos cinemas, com a adaptação de Hellblazer, estrelado por Keanu Reeves. Antes de ganhar sua própria revista em 1988, Constantine fazia aparições em “Swamp Thing”, de Alan Moore. Hellblazer é publicada até hoje, e já passou por diversas equipes criativas. A última adaptação da Vertigo a ser feita foi “V for Vendetta”, de autoria de, pasmem, Alan Moore. Não é a toa que ele é o roteirista mais hypado de todos os tempos. E não acaba por aí. Já está sendo produzida uma adaptação do clássico “Watchmen” (adivinha quem escreveu?), com a direção de Zack Snyder, e já foi anunciada a adaptação de Y – The Last Man.

Mas também existem revistas que não foram escritas por Alan Moore. Como “Y”, por exemplo, que é a minha hq predileta. Porém, a revista mais famosa do selo, é Sandman, de Neil Gaiman. As aventuras de Morpheus, o mestre do reino dos sonhos, é a melhor representação da proposta da Vertigo. Seu clima gótico, diálogos criativos e bem elaborados e o grande número de referências a diversas mitologias e alguns ícones da cultura inglesa (como Edgar Allan Poe) fazem de Sandman a obra-prima de Neil Gaiman, e uma das revistas mais cultuadas de todos os tempos, se não for a mais cultuada.

Outra revista interessante é “100 Balas”, onde o misterioso Agente Graves dá a certas pessoas uma oferta aparentemente irrecusável: A chance de se vingar sem sofrer consequências. O Agente presenteia as pessoas com uma maleta contendo uma pistola, cem balas, a identidade da pessoa que arruiunou sua vida e provas irrefutáveis disso. As balas não podem ser rastreadas, e qualquer agência de polícia que as encontrar irá ignorar o caso. 100 Balas explora a dúvida moral de aceitar ou não se vingar e sair ileso. Aqui no Brasil as revistas da Vertigo são publicadas em TPBs (Trade Paper Backs, encadernados) e na revista Pixel Magazine, da… Pixel. Custa R$ 9,90, e a publicação é de excelente qualidade.

Wildstorm (DC)

Enquanto no universo principal da DC os heróis são tratados como deuses, na Wildstorm eles são tradados como o que eles realmente são: Pessoas com poderes e responsabilidades. Os títulos possuem roteiros cinematográficos, repletos de sequências devastadoras, linguagem chula, insinuações a sexo e violência. Principalmente violência. Como exemplo temos os WildC.A.T.S, criados por Jim Lee, um grupo de super-humanos recrutados pelos Kherubins, uma raça alienígina que há tempos morava na Terra, para enfrentar os Daemonites, uma raça rival e perigosa. Ao final da série um novo volume foi lançado, focado nas relações dos ex-membros da equipe. O terceiro volume mostrava um roteiro mais político, e uma equipe que tinha a pretensão de mudar o mundo. Um quarto volume está em andamento.

Outras duas revistas de sucesso na editora são Planetary e The Authority, ambas de Warren Ellis. Na primeira, uma organização comandada por um homem misterioso se encarrega de investigar acontecimentos paranormais ao redor do mundo. Desenhada pelo talentoso John Cassaday, a revista está atualmente “congelada”, e espera pela conclusão. Na segunda, um grupo de super-heróis se reúne para criar uma polícia internacional e proteger o planeta de ameaças super-poderosas. A revista é uma versão alternativa da Liga da Justiça (sendo Midnighter e Apollo as versões homosexuais de Batman e Superman), com algumas referências a personagens da Marvel. Coma saída de Warren Ellis e Bryan Hitch do título, The Authority esteve nas mãos de outras equipes criativas de nome, como Mark Millar e Fran Quitely, e Grant Morrison e Gene Ha. É o título mais vendido do selo.

A Wildstorm também é a atual detentora dos direitos de publicação da franquia New Line Cinema, e eventualmente publica novos capítulos dos famosos Friday the 13th, A Nightmare on Elm Street e The Texas Chainsaw Massacre. Fãs da série de TV “Supernatural”, também encontrarão histórias da mesma no selo, estas mostrando os anos de caçador de John Winchester, pai dos irmãos Dean e Sam. No Brasil, as revistas da Wildstorm são encontradas no mix da Pixel Magazine.

Image Comics

Se você já era nascido nos anos 90, deve conhecer essa editora. Ou já ouviu falar de Spawn, o soldado do inferno. Fundada por roteiristas e desenhistas insatisfeitos com a burocracia dos direitos autorais, entre eles Todd McFarlane e Rob Liefeld, a Image Comics alcançou em tempo recorde seu espaço nas bancas americanas. Em grande parte graças a Spawn, o agente da CIA que após ser assassinado em trabalho, faz um pacto com o demônio e volta á vida com um traje sobrenatural feito de tecido vivo. Spawn já teve 178 edições, e continua firme e forte, assim como Savage Dragon, que desde a primeira edição ainda não trocou de equipe criativa (está na edição 135). Seguindo a popular idéia de se fazer versões alternativas de seus personagens, a Image lançou Spawn: Godslayer, onde protagoniza um soldado do inferno que a mando de uma entidade desconhecida, deve matar os deuses de um mundo medieval.

O grande sucesso da editora na atualidade é The Walking Dead, cuja resenha pode ser lida aqui ou aqui. Spawn é publicado pela Pixel, que faz algum tempo lançou uns TPBs bacanas da saga Armageddon, que reformulou a revista (vale a pena procurar os encadernados).

Avatar Comics

Para ser sincero, eu nem estaria falando desta editora se não fosse por “Black Summer”, escrita por meu roteirista predileto, Warren Ellis. Sete pessoas são escolhidas para fazer parte de uma força-tarefa especial, e para isso sofrem aprimoramentos que os tornam super-poderosos. Tudo vai bem até que John Noir perde uma perna, e vê sua esposa morrer num acidente. Noir abandona a equipe. Meses depois, John Horus, que tinha ido além no aprimoramentos e se tornado virtualmente invencível, invade a Casa Branca e mata o presidente, indo falar em rede nacional logo sem seguida. Horus afirma que as ações do presidente, entre elas a Guerra do Iraque, eram ilegais e ofendiam o povo americano. Agora ele era o novo protetor da América, e as pessoas teriam que andar na linha ou seriam aniquiladas. O desenrolar dos fatos é extremamente envolvente, o que não poderia ser diferente, já que falamos de Warren Ellis. A revista espera sua conclusão, na edição número sete. Outras revistas de Ellis podem ser encontradas entre as da editora. Garth Ennis também tem títulos na Avatar.

A Avatar era a antiga detentora dos direitos de publicação da linha New Line Cinema, e publicou algumas mini-séries interessantes, como Jason versus Jason X (tenha medo). O artista responsável pela linha New Line era Juan Jose Ryp, desenhista de Black Summer, cujo traço grosso e agressivo dava um toque extra de violência as histórias. Não faço idéia quanto á publicação aqui no Brasil, mas conheci Black Summer a partir de um artigo publicado na Wizmania, da Panini.

Mangás

Decidi adicionar essa seção de última hora, até porque não sou de ler mangás. Mas me recordei de alguns que eu achei bem atrativos:

Battle Royale – A trama se passa num futuro indefinido, onde o Japão (renomeado para República do Grande Leste Asiático) está em conflito ideológico com o Império Americano, uma espécie de Guerra Fria II. Coisas relacionadas a cultura yankee, rock ‘n’ roll por exemplo, são terminantementes proibidas. Bom, até ai tudo bem. Mas a merda vem agora: Como uma forma de fazer pesquisas militares e controle populacional (o Japão precisa de controle populacional?), o “Programa” foi criado. No que ele consiste? Simples. A cada dois anos, uma sala de primeiro do colégial é escolhida para participar dele e lutar entre si numa ilha até que reste apenas um vivo. E se não houverem mortes a cada 24h, TODOS MORREM. Cada “competidor” é presenteado com uma mochila contendo água, comida e uma arma aleatória (de uma Shotgun até um alto-falante) e a putaria começa. O andamento da batalha é mostrada na televisão periodicamente. No livro, é revelado que o Programa não é um experimento, mas uma forma de aterrorizar a população e despertar desconfiança, evitando rebeliões que possam ameaçar a ditadura. E é sobre essas condições que o protagonista Nanahara Shuya deve sobreviver. Mas terá ele a coragem para matar seus companheiros de turma? E o oposto? O jogo se inicia, e apenas o mais forte sobreviverá… Battle Royale é um épico das amarelices, contendo tudo que de impróprio que se pdoe imaginar. Sexo explícito? Sim. Estupro? Sim. Multilações? Sim. Palavrões? Sim. Você vai ler? Sim. Publicação da Conrad.

Berserk – Passado na Europa medieval, o mangá conta a história de Gatts, um habilidoso espadachim, e seu envolvimento (no sentido não-homosexual) com Griffith, o líder de um bando mercenário. O mangá começa mostrando um cenário sombrio, onde Gatts mata demônios e procura vingar-se de Griffith, e logo em seguida destrincha o passado e os acontecimentos que resultaram naquela situação. Conheci o mangá através do anime de mesmo nome, que adaptou os capítulos passados… no passado. Ainda hei de ler o resto. Recheado de violência, desmembramento e sexo no estilo medieval que tanto amamos. Publicação da Panini.

Gantz – Esse eu comecei a ler recentemente, com a publicação da Panini. Kei Kurono vivia uma vida normal (para os padrões japoneses), até que ele e um amigo de infância foram atropelados por um trem, assim morrendo. Ou não? Os dois são transportados para uma sala junto com um grupo de estranhos, para participar de um jogo onde o objetivo é matar alienígenas. Quem mata alieníginas acumula pontos. Quem acumula 100 pontos supostamente voltará a vida, assim diz a esfera negra “Gantz”. Misterioso e perturbador, esse mangá é ótimo para se ler nas horas vagas, e possui as mesmas características impróprias dos citados acima (não tanto quanto Battle Royale e Berserk, porém). Um anie foi feito e encerrado, mas o mangá continua sendo publicado.

Caso queria recomendar outros comics ou mangás de conteúdo maduro, vá em frente, pois eu estou interessado.

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