Overdose Metallica: The Black Album
Eis aí um album polêmico. Polêmico para os fãs, quero dizer. As crítica nas revistas sobre o The Black Album sempre foram muito boas, mas temos uma legião de fãs frustrados que alegam traição do movimento uma mudança ruim no estilo musical do Metallica.
Algumas opiniões sobre que já vi por aí:
– É bom, mas não é Metallica.
– Metallica acabou depois do The Black Album.
– É um dos melhores albuns da banda.
– LIXO, acabou com a carreira dos caras.
– Inaugurou um novo gênero musical: o thrash progressivo.
– Uma música pior que a outra. Cadê a velocidade e a destruição?
– Uma pérola dos anos 90.
Como sou eu que tô escrevendo essa bagaça, é a minha opinião que vai prevalecer: os outros albuns que me perdoem, mas The Black Album é meu favorito. Que reclamem os fãs do Metallica mais cru, eu creio que as mudanças de velocidade, complexidade e estilo que ocorreram do …And Justice For All pro Black foram as melhores possíveis.
De vez em quando os números falam por si (mas só de vez em quando), então vamos a eles: mais de 22 milhões de cópias vendidas no mundo todo, sendo 15 milhões de cópias vendidas só nos EUA. Ok, 22 milhões pro mundo todo perto dos… sei lá, 100 milhões de Thriller do Michael Jackson, não chega a ser tanto assim, mas estamos falando de metal, um gênero que não é normalmente muito popular. Por isso que o Michael é pop é Metallica é “trash”, apesar de que normalmente o pop é bem trash e, let’s face it, Metallica é pop. Logo, se Metallica é pop, também é trash e… oh, merda. Onde eu estava mesmo?
Ao contrário do Master Of Puppets, que não teve nenhum clipe lançado, foram lançados 5 clipes do Black: “Enter Sandman”, “Nothing Else Matters”, “Sad but True”, “Wherever I May Roam” e “The Unforgiven” (fonte: Wikipedia, sempre), dando cada vez mais popularidade à banda. Acho que eles empolgaram depois que os holofotes os viram, após o lançamento do clipe de “One” (do album …And Justice For All),
O fato é que o Metallica de Load (1996), ReLoad (1997), St. Anger (2003) e Death Magnetic (2008) não é o mesmo de Kill ‘Em All (1983), Ride the Lightning (1984), Master of Puppets (1986) e …And Justice for All (1988), e The Black Album, lançado em 1991, fica ali, dividindo as águas entre o old school e o new school. Se isso é bom ou ruim, well… vai do gosto do freguês. Como eu já mencionei, gosto de Metallica até o ReLoad. Metal comercial, mas de qualidade. Não vamos excomungar ninguém por querer um pouquinho de fama, certo?
No meu gosto, meus ouvidos são deliciosamente agraciados quando aperto o “play” prá ouvir The Black Album. “Enter Sandman” possui riffs viciantes e deliciosos, é agressiva e pesada, apesar de não tão explosiva quanto Metallica costumava ser. Ainda assim, apareceu em muito top 10 por aí. É o apelo comercial, fazer o quê… não deixa de ser uma música muito boa.
A letra fala sobre pesadelos e todos suas co-relações sinistras: escuridão, monstros, o medo de dormir e do escuro por causa desses pesadelos. Sinistro, né? Mais sinistro ainda com aquela oração no meio da música, encabeçada por um padre (?) e repetida por um garotinho. Muito foda, cara.
“Sad But True” tem uma das introduções mais violentas de todos os tempos. Aliás, essa música é um espetáculo à parte: batida arrastada mas pesada, bateria marcada e riffs que causam trancos involuntários no pescoço. Muito, mas muito bem bolada essa música, apesar de ter uma batida completamente diferente dos albuns anteriores, contrapondo-se com “Hollier Than Thou” que é mais rápida e explosiva, e cujo baixo é uma das coisas mais fodas que já ouvi.
“The Unforgiven” é quase uma balada (deixei esse título prá, obviamente, “Nothing Else Matters”), mas QUASE MESMO. Ouvir essa música não estoura seus tímpanos nem esmigalha seus miolos, e não vou negar que o solo de guitarra ficou parecendo gelatina diet, de tão sem graça. Ainda assim, a melodia é boa e a música foi -e ainda é- bastante popular… me lembro de ligar na rádio prá pedir essa música, quando era mais novinha, até.
Os vocais, misturam um violento e rasgado “New blood joins this earth / And quickly he’s subdued” com um suave, afinado e concentrado “What I’ve felt, what I’ve known / Never shined through in what I’ve shown”, e o mesmo se aplica a todo o andamento da música, que mistura agressividade e refinação: na estrofe, violenta. No refrão, uns dedilhados leves de guitarra. Bonita, mas um bocadinho frufru.
“Wherever I May Roam” começa com a porra de uma cítara. Uma cítara, véio.
Mas é só prá causar aquela sensação de “RÁ! Aposto que você achou que a música ia ser uma merda esquisitona! TE-PE-GUE-EI! Olha como ela é brava, pesada e deliciosa!”
Eu gosto muito da letra, que expõe uma liberdade meio subversiva e rebelde, algo tipo “nômade, vagabundo, me chame do que quiser. Mas eu faço o que quero e falo o que quero na hora que quero… seu babaca de merda… vem cá pr’eu chutar essa sua bunda ridícula, vem”
E acabei de descobrir que essa música é citada em Warcraft 3:
Bandit: Roamer, wanderer, nomad, vagabond… call me what you will.
Beastmaster: Where I lay my head is home. See that rock? That’s my pillow.
MASSA, eu nem sabia disso.
“Don’t Tread on Me” era o lema dos colonos durante a Independência dos EUA (acho que era isso), e nota-se um satírico tom militar logo nos primeiros riffs da música. A harmonia toda da música -vocais meio secos, bateria marchada- tem um quê de marcha militar. É uma boa música com um bom teor de destruição. E a destruição segue com “Through The Never”, que é mais explosiva. Apesar do próprio James Hetfield ter admitido não gostar tanto assim dessa música, vamos pensar que prá calmaria comercial que é The Black Album, “Through The Never” é uma surpresa boa, muito bem localizada antes da droga da balada que é “Nothing Else Matters”. Falando em números, ficou em 11° lugar no Mainstream Rock Tracks Charts de 1992. Mãããs, falando em cabeças rolando e pescoços se deslocando, deixa muito a desejar. Confesso que eu tolero “Nothing Else Matters” no Black só por causa do valor sentimental que esse album tem prá mim, mas se eu tivesse o poder, discretamente varreria essa baladinha causadora de impotência sexual prá debaixo do tapete. Mas aê, o povo gostou, né…
Depois de uma leve monotonia causada pelo monte de “never cared for what they” blablabla, começam os riffs e a batida DELICIOSA de “Of Wolf And Man”, uma d’As Músicas do Black (juntamente com “Sad But True”, “Hollier Than Thou” e “Don’t Tread on Me”, o quarteto malvado do album). Arrisco a dizer que essa é a minha favorita do album todo, que fala sobre… ser lobisomem? Sei lá. SO SEEK THE WOLF IN THYSEEEEELF!!
Após a obra-prima que é “Of Wolf and Man”, vem o melodioso baixo da introdução de “The God That Failed”. Dizem que Hetfield escreveu essa música baseado em sua mãe, que morreu de câncer por recusar tratamento médico, crendo solenemente que Deus ia curá-la magicamente, assim como cura todos os crentes do mundo que possuem câncer, distribuindo milagres a torto e a direito. Mas que puta véia estúpida, viu… A música fala sobre a superficialidade da fé cega num geral, incluindo aí as promessas quebradas pelo nosso suposto salvador. Lenta, pesada, descrente e uma guitarra empolgante, não tinha como ser ruim.
“My Friend Of Misery” também não é tão destrutiva, mas continua PESO. Aliás, como já notaram, poucas músicas do The Black Album são alucinantes, frenéticas e esmagadoras, mas quase todas são PESO. Ainda assim, sabe aquele último solo da música, que ocupa o último minuto? Então, ducaraio. Outro solinho de encerramento que faz a música inteira valer a pena. E, finalizando o album, que venham os tambores de marcha de “The Struggle Within”! Uma ótima porrada na cabeça, só prá você não desligar o CD achando que Metallica virou banda de fruta por causa do “Nothing Else Matters” enfiado ali no meio.
No geral? É um dos albuns que mais agradou a galera -incluo-me nessa- apesar de ter gerado uma certa polêmica entre os fãs. São hits inegáveis e músicas BOAS que se distanciam do Metallica dos anos 80, mas que não significa que sejam músicas ruins. Diferente, mas bom, muito bom.
Acho que fez sucesso porque havia um apelo comercial por terem abrandado a pancadaria, mas o estilo da banda ainda era bem marcante e destacado. Uma pena que o sucesso ofuscou e o estilo foi solenemente ignorado prá dar ênfase apenas ao lado comercial da coisa. Fazer o quê? É até compreensível.
Mas atenhamo-nos às coisas boas! Com apelo comercial ou não, The Black Album é uma pérola dos anos 90 (eu coloquei essa opinião lá em cima, né? Pois é, é minha).
The Black Album – Metallica
Lançamento: 1991
Gênero musical: Thrash/heavy metal
Faixas:
1. Enter Sandman
2. Sad But True
3. Holier Than Thou
4. The Unforgiven
5. Wherever I May Roam
6. Don’t Tread on Me
7. Through the Never
8. Nothing Else Matters
9. Of Wolf and Man
10. The God That Failed
11. My Friend of Misery
12. The Struggle Within
Bônus:
Edição asiática:
1. So What?