Histórinha pra ilustrar: Há uns anos eu participei de uma promoção de um certo site de entretenimento por aí e ganhei quatro convites para ver A Liga Extraordinária no cinema. Três motivos pra me entusiasmar: Era uma adaptação de uma HQ do ALAN MOORE (Fãs de quadrinhos, uni-vos!), os personagens do filme vinham de LIVROS clássicos estrangeiros (Tom Sawyer, Mina Harker, Dr. Jekyll/Mr. Hide, etc.) e que iria com mais três amigos pra ver o filme DE GRAÇA. Vi o filme, sentado no corredor do cinema (Porque as cadeiras eram nojentas) e gostei do que vi, não ótimo, mas empolgante. E pra que dizer tudo isso? Só pra considerar que o filme, hoje, é UMA DROGA pra mim e os quadrinhos são FENOMENAIS.
Pois é… O cartaz promete… Mas o filme mesmo… Heh!
Pausa para os mooristas pararem de ovacionar… Obrigado. Se fosse para recomendar neste momento cinco quadrinhos com características literárias para quem quisesse uma boa leitura, os dois volumes de A Liga Extraordinária ocupariam duas indicações, obrigatório o primeiro. Ao contrário do filme, a graphic novel (Nome bonito para HQ´s de “grande porte”) é bem menos voltada para a ação e mais para criar toda uma mitologia de uma equipe secreta que funcionaria como uma equipe de “super-heróis”. Nesta história, porém, os heróis não são pessoas com super-poderes, mas sim personagens da literatura mundial com habilidades estranhas, maldições macabras e perfis nada heróicos. Novamente ao contrário do filme é Mina Harker, da obra Drácula, quem viaja pelo mundo recrutando homens excepcionais para formar A Liga e defender a Europa de uma conspiração.
Sente só QUEM está no meio. Viu quem manda na budega?
Se para você Tom Sawyer, o personagem mais enjoadinho do filme, era dispensável e totalmente sem graça, fique feliz que, ao lado de Dorian Grey, ele não ocupa as páginas do trabalho de Alan Moore. Aliás, praticamente todas as personalidades e trama são diferentes de uma versão para a outra, excluindo Nemo, igualmente “soberbo” nos quadrinhos. Mina Harker é contida e feminista, bem menos oferecida e poderosa. Aliás, em nenhum momento chegamos a ver ela apresentar forças das trevas como na telona. Alain Quartermann é um velho quase caduco que demora a sentir vontade de assumir o cargo e tem bem mais a condizer com a real idade que tem. Quando o encontramos nos quadrinhos ele está em uma situação bem constrangedora. A dupla Jekyll e Hyde é muito mais bizarra, sendo que o doutor faz uma participação bem menor, ficando a maior parte do tempo na pele do gigantesco monstro que parece inspirado no Hulk. Por fim, Griffin, o Homem-Invisível, é um sujeito mesquinho, que prefere ficar atrás dos panos, aproveitando das sobras e esgueirando dos combates.
“Querida! Olha o que eu trouxe pro jantar!?!”
Outro adjetivo para os quadrinhos de A Liga Extraordinária seria ousado. Durante a leitura encontramos um teor adulto, bem diferente das, em geral, alegorias e estapafúrdias de quadrinhos que tratem de uma “liga”, se é que me entende. Sexo, violência exagerada, citações complicadas da cultura inglesa e personagens extremamente profundos povoam a página de A Liga Extraordinária. O terceiro volume, inclusive, veio cheio de “easter eggs”, ovos de páscoa para os fãs, incluindo um disco anexo. Eu ainda espero para ler em português.
Essa coisa traria um caderno de pornografia dentro. Empolgou?
A Liga Extraordinária Vol. 1
The League of Extraordinary Gentlemen Lançamento: 2003 Arte: Kevin O’Neill Roteiro: Allan Moore Número de Páginas: 191 Editora:Devir
Calma, pode subir o zíper da calça, não estou falando DESSE tipo de quadrinhos para adultos, e sim de quadrinhos que abordam temas adultos. Durante esses anos como leitor, tenho percebido que algumas pessoas tem preconceito contra quadrinhos por achar que são todos infantis e previsíveis. Tudo bem, realmente existem quadrinhos voltados para o público infantil, mas generalizar nunca foi algo legal. Então, como nem todo mundo se interessa pelo ponto intermediário (formado pelo Homem-Aranha, Superman e companhia) os quadrinhos adultos se popularizaram.
Apesar de serem originalmente voltadas para o público juvenil, a Marvel e a DC (principalmente a DC) mantém investimentos na área adulta. A Marvel, com seu selo “MAX”, onde publica histórias recomendadas para maiores de 18. A DC, com seu selos “Vertigo” e “Wildstorm”. Por fora correm editoras como a Image, a Dark Horse e a Dynamite, com Spawn, Conan e Army of Darkness, respectivamente, entre outras. E se você se deu ao trabalho de clicar no link da matéria e ler o texto até aqui, deve estar esperando que eu dê detalhes quanto a essas publicações. E é exatamente isso que eu farei.
Marvel MAX
Quem é leitor da Marvel sabe que alguns personagens da editora dão abertura para a criação de arcos mais pesados e a abordagem de temas mais sérios. Criado em 2001 quando a Marvel decidiu cuspir na cara da CCA (Comics Code Authority), e criar sua própria classificação etária. Não existem assinaturas para os selos MAX, e as revistas só são vendidas em lojas especializadas, para leitores maiores de 18 anos. Obviamente isso é só em países que se importam com essas coisas, aqui no Brasil você encontra em qualquer banca de revistas. Essa não é a primeira vez que a Marvel publica histórias com conteúdo explícito. Essa idéia começou na década de 80, com o selo “Epic Comics” (responsável pela primeira publicação de Akira nos Estados Unidos), e em algumas edições do extinto selo “Marvel Knights”.
Personagens famosos, como Thor, Nick Fury e Luke Cage, marcaram presença no selo com ótimas séries limitadas, assim como personagens mais obscuros, como Howard the Duck, Shag-Chi e o ultra-violento Foolkiller. De todos os títulos do selo, dois destacam-se com facilidade: Supreme Power e Punisher. O primeiro é a obra prima de J. Michael Straczynski, o segundo é a melhor fase do Justiceiro. Sob a liberdade do selo MAX, Garth Ennis lida com o Justiceiro de uma forma bem diferente de quando assumiu a franquia, há nove anos atrás. The Punisher MAX não tem posicionamento exato na cronologia, e se isola completamente das outras revistas (não há aparições nem referências a super-heróis/vilões). Garth mostra um Justiceiro depressivo e sombrio, que acabou tomando gosto pela matança de criminosos. Recomendada para quem gosta de histórias de clima pesado.
Aqui no Brasil, essas revistas são publicadas em uma compilação chamada “Marvel MAX” (bem óbvio), que publica também outras histórias que compartilhem da mesma proposta do selo. A revista custa exatos seis reais e noventa centavos (R$6,90), e como dito antes, é vendida para qualquer um que tenha essa quantia em mãos.
Vertigo (DC)
Por menor que seja seu conhecimento na área de quadrinhos, você já ouviu falar desse selo. Alguns dos maiores clássicos dos quadrinhos foram publicados aqui. A proposta da Vertigo é a seguinte: Quadrinhos mais cults. Isso quer dizer menos ação e mais diálogo, com páginas entupidas de referências a diversas culturas, bandas, filmes, enfim, podendo ter ou não relação com o universo principal da DC. Pode parecer chato, mas a idéia fez sucesso absoluto. Tanto que alguns dos principais títulos ganharam adaptações para o cinema. Quais? A primeira foi “From Hell” (Do Inferno), de Alan Moore, que “soluciona” o mistério de Jack o Estripador. Caso não lembre, o filme foi estrelado por Johnny Depp. Depois foi a vez do inglês John Constatine ir para a tela dos cinemas, com a adaptação de Hellblazer, estrelado por Keanu Reeves. Antes de ganhar sua própria revista em 1988, Constantine fazia aparições em “Swamp Thing”, de Alan Moore. Hellblazer é publicada até hoje, e já passou por diversas equipes criativas. A última adaptação da Vertigo a ser feita foi “V for Vendetta”, de autoria de, pasmem, Alan Moore. Não é a toa que ele é o roteirista mais hypado de todos os tempos. E não acaba por aí. Já está sendo produzida uma adaptação do clássico “Watchmen” (adivinha quem escreveu?), com a direção de Zack Snyder, e já foi anunciada a adaptação de Y – The Last Man.
Mas também existem revistas que não foram escritas por Alan Moore. Como “Y”, por exemplo, que é a minha hq predileta. Porém, a revista mais famosa do selo, é Sandman, de Neil Gaiman. As aventuras de Morpheus, o mestre do reino dos sonhos, é a melhor representação da proposta da Vertigo. Seu clima gótico, diálogos criativos e bem elaborados e o grande número de referências a diversas mitologias e alguns ícones da cultura inglesa (como Edgar Allan Poe) fazem de Sandman a obra-prima de Neil Gaiman, e uma das revistas mais cultuadas de todos os tempos, se não for a mais cultuada.
Outra revista interessante é “100 Balas”, onde o misterioso Agente Graves dá a certas pessoas uma oferta aparentemente irrecusável: A chance de se vingar sem sofrer consequências. O Agente presenteia as pessoas com uma maleta contendo uma pistola, cem balas, a identidade da pessoa que arruiunou sua vida e provas irrefutáveis disso. As balas não podem ser rastreadas, e qualquer agência de polícia que as encontrar irá ignorar o caso. 100 Balas explora a dúvida moral de aceitar ou não se vingar e sair ileso. Aqui no Brasil as revistas da Vertigo são publicadas em TPBs (Trade Paper Backs, encadernados) e na revista Pixel Magazine, da… Pixel. Custa R$ 9,90, e a publicação é de excelente qualidade.
Wildstorm (DC)
Enquanto no universo principal da DC os heróis são tratados como deuses, na Wildstorm eles são tradados como o que eles realmente são: Pessoas com poderes e responsabilidades. Os títulos possuem roteiros cinematográficos, repletos de sequências devastadoras, linguagem chula, insinuações a sexo e violência. Principalmente violência. Como exemplo temos os WildC.A.T.S, criados por Jim Lee, um grupo de super-humanos recrutados pelos Kherubins, uma raça alienígina que há tempos morava na Terra, para enfrentar os Daemonites, uma raça rival e perigosa. Ao final da série um novo volume foi lançado, focado nas relações dos ex-membros da equipe. O terceiro volume mostrava um roteiro mais político, e uma equipe que tinha a pretensão de mudar o mundo. Um quarto volume está em andamento.
Outras duas revistas de sucesso na editora são Planetary e The Authority, ambas de Warren Ellis. Na primeira, uma organização comandada por um homem misterioso se encarrega de investigar acontecimentos paranormais ao redor do mundo. Desenhada pelo talentoso John Cassaday, a revista está atualmente “congelada”, e espera pela conclusão. Na segunda, um grupo de super-heróis se reúne para criar uma polícia internacional e proteger o planeta de ameaças super-poderosas. A revista é uma versão alternativa da Liga da Justiça (sendo Midnighter e Apollo as versões homosexuais de Batman e Superman), com algumas referências a personagens da Marvel. Coma saída de Warren Ellis e Bryan Hitch do título, The Authority esteve nas mãos de outras equipes criativas de nome, como Mark Millar e Fran Quitely, e Grant Morrison e Gene Ha. É o título mais vendido do selo.
A Wildstorm também é a atual detentora dos direitos de publicação da franquia New Line Cinema, e eventualmente publica novos capítulos dos famosos Friday the 13th, A Nightmare on Elm Street e The Texas Chainsaw Massacre. Fãs da série de TV “Supernatural”, também encontrarão histórias da mesma no selo, estas mostrando os anos de caçador de John Winchester, pai dos irmãos Dean e Sam. No Brasil, as revistas da Wildstorm são encontradas no mix da Pixel Magazine.
Image Comics
Se você já era nascido nos anos 90, deve conhecer essa editora. Ou já ouviu falar de Spawn, o soldado do inferno. Fundada por roteiristas e desenhistas insatisfeitos com a burocracia dos direitos autorais, entre eles Todd McFarlane e Rob Liefeld, a Image Comics alcançou em tempo recorde seu espaço nas bancas americanas. Em grande parte graças a Spawn, o agente da CIA que após ser assassinado em trabalho, faz um pacto com o demônio e volta á vida com um traje sobrenatural feito de tecido vivo. Spawn já teve 178 edições, e continua firme e forte, assim como Savage Dragon, que desde a primeira edição ainda não trocou de equipe criativa (está na edição 135). Seguindo a popular idéia de se fazer versões alternativas de seus personagens, a Image lançou Spawn: Godslayer, onde protagoniza um soldado do inferno que a mando de uma entidade desconhecida, deve matar os deuses de um mundo medieval.
O grande sucesso da editora na atualidade é The Walking Dead, cuja resenha pode ser lida aqui ou aqui. Spawn é publicado pela Pixel, que faz algum tempo lançou uns TPBs bacanas da saga Armageddon, que reformulou a revista (vale a pena procurar os encadernados).
Avatar Comics
Para ser sincero, eu nem estaria falando desta editora se não fosse por “Black Summer”, escrita por meu roteirista predileto, Warren Ellis. Sete pessoas são escolhidas para fazer parte de uma força-tarefa especial, e para isso sofrem aprimoramentos que os tornam super-poderosos. Tudo vai bem até que John Noir perde uma perna, e vê sua esposa morrer num acidente. Noir abandona a equipe. Meses depois, John Horus, que tinha ido além no aprimoramentos e se tornado virtualmente invencível, invade a Casa Branca e mata o presidente, indo falar em rede nacional logo sem seguida. Horus afirma que as ações do presidente, entre elas a Guerra do Iraque, eram ilegais e ofendiam o povo americano. Agora ele era o novo protetor da América, e as pessoas teriam que andar na linha ou seriam aniquiladas. O desenrolar dos fatos é extremamente envolvente, o que não poderia ser diferente, já que falamos de Warren Ellis. A revista espera sua conclusão, na edição número sete. Outras revistas de Ellis podem ser encontradas entre as da editora. Garth Ennis também tem títulos na Avatar.
A Avatar era a antiga detentora dos direitos de publicação da linha New Line Cinema, e publicou algumas mini-séries interessantes, como Jason versus Jason X (tenha medo). O artista responsável pela linha New Line era Juan Jose Ryp, desenhista de Black Summer, cujo traço grosso e agressivo dava um toque extra de violência as histórias. Não faço idéia quanto á publicação aqui no Brasil, mas conheci Black Summer a partir de um artigo publicado na Wizmania, da Panini.
Mangás
Decidi adicionar essa seção de última hora, até porque não sou de ler mangás. Mas me recordei de alguns que eu achei bem atrativos:
Battle Royale – A trama se passa num futuro indefinido, onde o Japão (renomeado para República do Grande Leste Asiático) está em conflito ideológico com o Império Americano, uma espécie de Guerra Fria II. Coisas relacionadas a cultura yankee, rock ‘n’ roll por exemplo, são terminantementes proibidas. Bom, até ai tudo bem. Mas a merda vem agora: Como uma forma de fazer pesquisas militares e controle populacional (o Japão precisa de controle populacional?), o “Programa” foi criado. No que ele consiste? Simples. A cada dois anos, uma sala de primeiro do colégial é escolhida para participar dele e lutar entre si numa ilha até que reste apenas um vivo. E se não houverem mortes a cada 24h, TODOS MORREM. Cada “competidor” é presenteado com uma mochila contendo água, comida e uma arma aleatória (de uma Shotgun até um alto-falante) e a putaria começa. O andamento da batalha é mostrada na televisão periodicamente. No livro, é revelado que o Programa não é um experimento, mas uma forma de aterrorizar a população e despertar desconfiança, evitando rebeliões que possam ameaçar a ditadura. E é sobre essas condições que o protagonista Nanahara Shuya deve sobreviver. Mas terá ele a coragem para matar seus companheiros de turma? E o oposto? O jogo se inicia, e apenas o mais forte sobreviverá… Battle Royale é um épico das amarelices, contendo tudo que de impróprio que se pdoe imaginar. Sexo explícito? Sim. Estupro? Sim. Multilações? Sim. Palavrões? Sim. Você vai ler? Sim. Publicação da Conrad.
Berserk – Passado na Europa medieval, o mangá conta a história de Gatts, um habilidoso espadachim, e seu envolvimento (no sentido não-homosexual) com Griffith, o líder de um bando mercenário. O mangá começa mostrando um cenário sombrio, onde Gatts mata demônios e procura vingar-se de Griffith, e logo em seguida destrincha o passado e os acontecimentos que resultaram naquela situação. Conheci o mangá através do anime de mesmo nome, que adaptou os capítulos passados… no passado. Ainda hei de ler o resto. Recheado de violência, desmembramento e sexo no estilo medieval que tanto amamos. Publicação da Panini.
Gantz – Esse eu comecei a ler recentemente, com a publicação da Panini. Kei Kurono vivia uma vida normal (para os padrões japoneses), até que ele e um amigo de infância foram atropelados por um trem, assim morrendo. Ou não? Os dois são transportados para uma sala junto com um grupo de estranhos, para participar de um jogo onde o objetivo é matar alienígenas. Quem mata alieníginas acumula pontos. Quem acumula 100 pontos supostamente voltará a vida, assim diz a esfera negra “Gantz”. Misterioso e perturbador, esse mangá é ótimo para se ler nas horas vagas, e possui as mesmas características impróprias dos citados acima (não tanto quanto Battle Royale e Berserk, porém). Um anie foi feito e encerrado, mas o mangá continua sendo publicado.
Caso queria recomendar outros comics ou mangás de conteúdo maduro, vá em frente, pois eu estou interessado.
Provavelmente a obra-prima de Grant Morrison, Os Invisíveis age como uma pedrada na nuca, estilhaçando sua cabeça como uma vidraça velha. Infestada de contra-cultura e rebeldia por todos os lados, a HQ ataca a falta de vida da sociedade morna dos dias de hoje. Agora, oito anos após o fim de sua publicação, a idéia parece fazer ainda mais sentido do que quando essa maravilha foi lançada.
Pois bem, vamos á sinopse. Começamos conhecendo a vida de Dane McGowan (isso simplesmente não pode ser coincidência), um hooligan de liverpool com o espírito cheio da genuína rebeldia adolescente. Após incendiar sua escola e espancar seu professor, o garoto é levado para a Casa da Harmonia, uma instituição de correção de menores, preocupada em transformar garotos rebeldes em verdadeiros zumbis sociais que aceitam a ordem sem graça do mundo. A coisa toda soa como uma bela referência á Laranja Mecânica de Anthony Burgess, aliás. Especialmente a sala da “realidade virtual”.
É King Mob quem salva Dane da cruel transformação em “zumbi”. E é aí que a HQ começa a mostrar suas garras, e vemos que a coisa toda é muito maior que uma simples ode á rebeldia. É uma ode do caralho á rebeldia, ao Caos e á sensação de se estar realmente vivo. Aos poucos, somos libertos das amarras do mundo cinza, junto com o próprio Dane, que descobre um mundo completamente novo, acima desse mundo de prédios e fumaça e cidades. Um mundo de simbolismos e mitologias. De Loucura e de magia. E, mesmo assim, um mundo Verdadeiro. Idéias sobre a realidade, sonhos, metafísica e aquele bla bla bla todo são lançadas através da revista como tiros tentando destruir a casca que criamos e deixar o nosso “self” escapar. Ou qualquer porcaria assim.
Provavelmente a coisa toda vai te soar quase como Matrix lá pelo terceiro ou quarto volume, com todo aquele negócio do Tom sobre abrir os olhos e ver o mundo e pular de prédios. Bom, surpresa, você acaba de encontrar uma das grandes “inspirações” pros irmãos Wachowski. A idéia tá toda lá. Pelo menos a idéia interessante, a do primeiro filme, antes da coisa virar só aquela porcaria de robôs atirando em robôs. E… bom, deixa Matrix pra lá.
Ce tá de olho na loiraça carioca ali do meio, né? Bichona!
O centro das atenções é uma célula da Universidade Invisível formada por Dane McGowan (que ganha o apelido de Jack Frost ao ingressar na bagaça); King Mob, o líder careca, sarcástico e bon-vivant da equipe; Lord Fanny, um xamã transsexual carioca; Menino, uma ex-policial do departamento de polícia de Nova York e Ragged Robin, uma feiticeira. Se você esperava os X-Men, talvez se desaponte.
Definir os Invisíveis seria um bocado complicado. Eles estão por aí, invisíveis para todos aqueles que não querem ver, participando de uma longa e secreta guerra contra a opressão, não só física quanto mental. Você vai ver cabeças proféticas decepadas, a vida através dos olhos de pombos, conversas entre deuses mortos e deuses inventados, granadas, perversão sexual e a mais pura violência. Acho que o próprio Morrison ficou realmente puto quando começaram a censurar alguns pedaços da HQ. E, claro, do outro lado estão… não, melhor deixar você descobrir sozinho.
Só lendo essa pérola das HQs você pode ter uma noção da grandiosidade da coisa toda. Infelizmente, nosso editor-chefe e resmungão oficial nos proíbe de passar links ilegais por aqui. Assim sendo, eu espero que vocês acabem encontrando o caminho. Vocês saberão que seguem a trilha certa se passarem por um bocado de Vertigem. Sobre a HQ, acho que a única coisa que eu posso realmente dizer é bota pra foder!
Título da HQ
Título original: The Invisibles Lançamento: 1994 Arte: Vários, um para cada arco da HQ Roteiro: Grant Morrison Número de Páginas: 24 Editora:Vertigo
Título original Y – The Last Man Lançamento: 2002 Arte: Pia Guerra Roteiro: Brian K.Vaughan Número de páginas: varia Editora:Vertigo
Y é um título da Vertigo, mas meu primeiro contato com o trabalho de Brian K.Vaughan foi durante sua estada em Ultimate X-Men, da Marvel. Em “Tormenta”, seu primeiro arco na série, ele mostrou a versão Ultimate do Sr. Sinistro como sendo um psicótico assassino de mutantes. O arco termina com uma aparição de uma página só do vilão Apocalypse, mas não havia como saber se ele era real ou não. Seus outros arcos também não deixaram a desejar. Um pouco depois (ou antes, não faz diferença, na verdade) eu conheci uma criação sua para a Marvel, Runaways. Runaways conta, em 18 edições, a história de um grupo de adolescentes de Los Angeles que mantinha uma vida normal até descobrir que seus pais eram super-vilões. Eles então resolvem fugir e usar os poderes e apetrechos que herdaram (roubaram, na verdade) para combater o crime. Divertida e única, Runaways acabou ganhando uma série contínua em 2005, e o Harvey Awards de melhor série contínua um ano depois.
Nascido no ano de 1976 em Cleveland, Ohio, e se formou em cinema pela Universidade de New York. Seu talento como roteirista de quadrinhos foi descoberto quando entrou para o “Stanhattan Project” da Marvel, uma oficina de quadrinhos. Seu primeiro crédito como roteirista foi em 1997, com a edição 43 de Cable, pela Marvel. Seu estilo único e equilíbrio perfeito entre humor e seriedade fez com que ganhasse diversos prêmios, e entrasse para o “top 10 de melhores roteiristas de todos os tempos” da Comic Book Resources. E não para por aí. O trabalho de Vaughan já foi comentado ou apresentado em várias formas de mídia, como o New York Times, MTV, rádio e a revista feminina “Bust”, que o fotografou para a edição “Homens que Amamos”. Também estou intrigado quanto a este último.
Nestes 10 anos como roteirista, Vaughan fez excelentes contribuições para os principais personagens da Marvel/DC, mas nada se compara ás suas criações próprias, como é o caso de Y, revista que ele criou junto á premiada desenhista Pia Guerra.
Brian K.Vaughan
A trama se inicia em 2002, quando um vírus desconhecido mata todos os homens da Terra. Desculpem-me. Todos os machos da Terra. Todo e qualquer mamífero portador do cromossomo Y sofreu uma terrível – e simultânea – morte. Bom, todos menos Yorick Brown e seu capuchin (uma espécie de macaco), Ampersand. Neste exato momento você deve estar acessando seus sonhos eróticos e pensando “Que cara sortudo, eu ia tocar terror!”. Sinto em dizer que a situação em que Yorick se encontra é muito mais complicada.
Vamos apelar para as estatísticas. 48% da população humana da Terra, ou aproximadamente 29 bilhões de homens, foram exterminados. 85% dos políticos está morto, assim como 100% dos bispos católicos, líderes muçulmanos e rabinos judeus ortodoxos. 99% dos mecânicos, eletricistas e construtores também se perdeu. Nos Estados Unidos, onde Yorick se encontra, 95% dos pilotos comerciais, caminhoneiros e capitães de navio morreram, assim como 92% dos criminosos. Nenhuma das tropas femininas do exército americano têm experiência de combate. Não podemos dizer o mesmo de países como a Espanha ou a Alemanha. Austrália, Noruega e Suécia são os únicos países que possuem mulheres servindo em submarinos. Em Israel, todas as mulheres entre 18 e 26 anos serviram obrgiatóriamente no IDF por pelo menos 1 ano e 9 meses. Antes da praga, pelo menos 3 “homens-bomba” palestinos foram mulheres.
De fato, parte das mulheres sente falta de “companhia masculina”, e tenta compensar a mesma. O número de mulheres travestidas, lésbicas e vibradores em uso nunca foi tão grande. As militares, em maior parte autoritárias e frias, se tornaram as “donas do mundo”. Sobreviver se tornou algo difícil para as civis, e muitas delas morrem de fome ou passam dias sem comer. Por fim temos as “amazonas”, mulheres alienadas que acreditam que o extermínio de todos os homens foi uma forma que Deus encontrou de eliminar o mal da Terra. Como na mitologia, as amazonas arrancam um de seus seios para facilitar a arquearia. Bem-vindos á um mundo sem homens.
Após três meses de sobrevivência (Yorick esconde seu rosto com uma máscara de gás, e seu corpo com um manto), Yorick recebe a maior missão de sua vida: Ajudar no repovoamento do Planeta. Mas não do jeito que você pensa e, muito provavelmente, sonha. Antes de qualquer coisa, é preciso descobrir por quê Yorick e Ampersand estão vivos, e confeccionar uma cura para os futuros bebês. É aí que entra a doutora Allison Mann, que havia chegado perto de conceber um clone antes da Praga, e a única mulher qualificada o suficiente para a missão. A segurança da dupla (ou trio, se contarmos com Ampersand) ficou sob a responsabilidade da agente 355, uma mulher tão misteriosa quanto o suposto vírus que matou os homens.
Yorick definitivamente não faz o perfil de messias. Ele é um jovem de vinte e poucos anos, formado em inglês e membro da Irmandade Internacional de Mágicos. É totalmente relevante mencionar que sua especialidade é a “arte da fuga”, o que envolve escapar de camisas de força, se soltar de algemas e abrir portas trancandas. Yorick também não tem nenhuma noção de briga, e é surrado em várias ocasiões durante as 60 edições. E o maior motivo: Ele não está nem aí. Yorick não se vê como salvador do mundo, e está mais interessado em encontrar sua namorada Beth, que se encontrava na Austrália na hora do extermínio.
Tudo se complica ainda mais quando as amazonas, entre elas Hero Brown, irmã de Yorick, e o exército israelense descobrem que os boatos sobre um último homem são verdadeiros… Como eu disse antes, esqueça seus sonhos. Yorick está prestes a viver um pesadelo.
E isto é apenas uma visão superficial do que te espera na revista. Y é tão envolvente que chega a ser leitura compulsória em alguns momentos. A maioria deles. Sem exagero algum, Y deve ser a melhor revista em quadrinhos que já li nesses meus 16 anos de vida. Sim, eu já li Sandman e Watchmen.
Os personagens são simpáticos e bem trabalhados. Vaughan os apresenta aos poucos, mostrando flashbacks da infância deles em alguns pontos estratégicos da revista. A caracterização de Guerra ajuda bastante neste processo. Com o tempo, o fraco e covarde Yorick vai amadaruecendo e se tornando um homem de verdade. Uma de minhas partes prediletas da revista resulta deste amadurecimento. Mas não espere terminar as 60 edições sabendo tudo sobre todos os personagens. Apesar de “destrinchar” a personagem durante os últimos arcos da revista, Vaughan encerra a história sem revelar o nome verdadeiro da agente 355, por exemplo. Ele afirmou, porém, que espalhou uma série de dicas pelas 60 edições, gerando algumas boas teorias em fóruns de hqs.
Uma das coisas que mais gostei na revista é a relação irônica entre os fatos. Novamente apelando para flashbacks, Vaughan e Guerra mostram como alguns fatos poderiam ser evitados a partir da mudança de escolhas simples feitas no passado. Devo dizer que estas estão entre as páginas mais engraçadas de Y. Os que não são explicados na revista, são explicados fora desta. Como o título da última edição, por exemplo. Descubram por vocês mesmos.
Não é por pouco mérito que Y tomou a liderança da minha lista de hqs prediletas. Ainda não consegui pensar no porque de eu não ter dado 10 para a revista. Fica a dúvida.
Eu acompanhei a revista em publicação americana, mas já foi confirmada a publicação aqui no Brasil, pela Pixel Media. As 60 edições serão publicadas em 10 TPBs (encadernados). Não sei quanto ao preço, mas você pode dar uma olhada na comunidade oficial da Pixel no Orkut.