Ted (2)
Ah, falemos do Ted então. Que não parecia ser nada de especial, tirando o fato de ter o trailer mais irritante dos últimos tempos. E mesmo assim, conseguiu virar motivo de polêmica, depois de ter sido ameaçado de censura (Por uma única pessoa, mas enfim), situação que outra vez testa os limites da babaquice humana.
Certo, vamos retomar a história, rapidamente. No Natal, o garoto John Bennett deseja que o seu urso de brinquedo ganhe vida. O pedido é atendido e a partir daí os dois viram melhores amigos. Então, filme pula pra o 35° ano da vida de John, agora interpretado pelo Mark Wahlberg. Ele continua vivendo com o urso (Que também cresceu), mas agora precisa escolher entre manter a amizade ou continuar o namoro com Lori Collins. Que é a Mila Kunis, o que deveria facilitar bastante a decisão.
Se isso soou original, você provavelmente nunca viu Wilfred. Tudo bem, no filme do Seth MacFarlane o urso ganha vida de verdade, enquanto na série do Frodo só o personagem vê o cachorro como humano. Mas a dinâmica é idêntica, os dois protagonistas ficam divididos entre tocar a vida ou seguir no sofá fumando maconha com os respectivos animais.
E antes de mais nada, vamos parar com a palhaçada: Humor negro é o caralho. Da última vez que eu chequei, não bastavam algumas referências a sexo, drogas e muitos palavrões no meio pra enquadrar um filme nesse subgênero. Abordar temas de alguma relevância social ou provocar algum questionamento também não é essencial, mas ajuda. Outro detalhe, as piadas precisam ser engraçadas. Ok, o Ted até brinca um pouco com o racismo, 11 de setembro e essas coisas, mas é pautado principalmente no humor referencial do Family Guy. E no xingamento de celebridades.
O que funciona muito bem, no Family Guy. Mas não dá pra sustentar um filme só com isso. Por exemplo, tem coisas que até passam batidas num episódio de TV, como uma frase engraçadinha sobre o Twitter, ou um comentário sobre a aparência das mulheres de Boston. Tudo vai ser esquecido até a próxima semana mesmo. Mas no cinema, essas coisas específicas são um saco. Sem contar que as referências precisam ter alguma relevância pra funcionar. A participação do Flash Gordon, herói de infância dos protagonistas, é genial. Mas aí vem a cena onde o Ted vê o filme do Adam Sandler com umas prostitutas, que é sem graça pra caralho. Tipo, todo mundo sabe que o filme é ruim. E daqui há um ano ninguém mais vai saber do que se trata. Não serve nem pra ser ofensivo.
E o roteiro trabalha exclusivamente a serviço desse esquema. A certa altura, John participa de um show da Norah Jones (Quem?) e canta uma música pra reconquistar a namorada, só pra o Ted conseguir encaixar a frase Ainda é melhor que a Katy Perry. Porra, foda-se. Toda a cena é inútil. Dá pra aguentar uns 30 minutos de boa (Um pouco mais que a duração de um episódio), e aí tudo vai repetindo, repetindo… E incrivelmente, o filme piora muito quando tenta criar uma história, com um vilão e tudo o mais. A conclusão, com direito a drama, casamento e final feliz, vai ficando inacreditavelmente insuportável. Sério, é realmente inacreditável o quanto tudo piora até a fatídica cena final.
Ah, olha só, tinha uma criança na sessão em que eu assisti. Inicialmente, eu me perguntei, Porra, porque os pais trouxeram ela pra isso aqui?. Mas no fim, não há dúvidas, é um filme pra crianças. No sentido pejorativo da expressão. Bom, tem algumas (Muitas) coisas que elas não vão entender, claro. Mas a estrutura é totalmente Sessão da Tarde. Pra se ter uma ideia, a parte mais pesada da coisa tá justamente no trailer.
Agora, ignorando o último terço, dá pra rir de meia dúzia de piadas (E eu tou sendo generoso), entre as milhares presentes. E a maioria são as que saem do estilo do MacFarlane, tipo toda a dinâmica entre Ted e o chefe dele, quando ele arruma um emprego. Apesar de a situação não ser nada nova, também. A briga entre o urso e Jonh também lembra alguns grandes momentos do Family Guy, como Peter Griffin X Galinha, Peter X Brian, Stewie X Brian e Peter X Galinha de novo e de novo. Mas tudo se perde ao lembrarmos do flashback do John, ao estilo Embalos de Sábado à Noite com efeitos sonoros de desenho animado.
Mas sei lá, é irrelevante demais pra eu continuar escrevendo. Só pra incluir mais alguns pontos positivos, a computação gráfica é bacana e todo o elenco tá de boa. Destaque pra o Joel McHale (De Community) como chefe da Lori. E a Mila Kunis, que bem, é a Mila Kunis. Voltando a criança no cinema, perto do final ela não aguentou e soltou um Esse filme não acaba nunca!. O que boa parte da plateia achou mais engraçado que todo o resto.
Pois é, eu sei que vivemos em tempos difíceis. Mas antes da completa descaracterização do termo, lembrei aqui de dois filmes dos últimos dois anos, que mantem a tradição e representam a nata do humor negro: O Guarda e o Four Lions. Procurem, nem precisa agradecer.
Ted
Ted (106 minutos – Comédia)
Lançamento: Estados Unidos, 2012
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Seth MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild
Elenco: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Giovanni Ribisi, Seth MacFarlane, Patrick Warburton, Laura Vandervoort, Jessica Stroup, Joel McHale e Seth MacFarlane fazendo a voz de Ted
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