Thor: Amor e Trovão (Thor: Love And Thunder)

Cinema segunda-feira, 11 de julho de 2022

Existem muitas formas de assistir um filme da Marvel. Você pode trazer uma bagagem enorme que inclua todas os filmes, séries, curtas, notícias de bastidores e, claro, o orgulho do maior fã da Marvel, os quadrinhos. Você pode ter visto só os filmes e, por não conseguir revê-los, acaba assistindo os mais novos sem pegar algumas referências e esquecendo de outras. Você pode, certamente, nunca ter visto nada do Marvel Cinematic Universe e esperar o filme todo o Super-Homem aparecer. Seja como for, duas coisas são certas: você vai ter que aceitar alguns plots sem maiores explicações, só porque o roteiro pede (o famoso “isso aconteceu porque sim”) e, exceto se você for chato pra caramba e/ou não gostar mesmo desse tipo de filme, você vai se divertir.

 Eu sou do segundo tipo, caso estejam curiosos. Não lembrava nem que o Thor estava vivo.

Thor: Amor e Trovão traz o personagem título em seu quarto filme solo, o único do MCU a ter esse privilégio até agora. É o segundo dirigido pelo neo-zelandês Taika Waititi, que segue a implantar seu marcante estilo cômico e adorável em qualquer situação. Se em O Que Fazemos nas Sombras (What We Do in the Shadows, 2014) ele fez graça com vampiros centenários que vivem juntos e enfrentam os tempos modernos e em Jojo Rabbit (2019) dirigiu e interpretou um Hitler amigo imaginário de um garotinho em plena Alemanha nazista, em Thor: Amor e Trovão ele repete a fórmula que já havia usado em Thor: Ragnarok e encontra no deus nórdico – mais uma vez interpretado por Chris Hemsworth, mais que a vontade com o personagem a essa altura – toda a doçura e tolice que teoricamente não enxergaríamos no personagem mitológico (e que outros colegas diretores também não enxergaram nos primeiros filmes).

Esse rebaixamento, por assim dizer, é, por um lado, extremamente benéfico à história porque traz lados deles que são bastante convenientes ao MCU. O espectador de um filme da Marvel, do mais dedicado ao “turista”, já espera essa leveza. Vemos, então, um Thor nu – literalmente em uma cena, obrigada Taika – e divertido do início ao fim, e essa leveza se estende a quase todos os personagens do longa, até mesmo à Jane Foster (Natalie Portman), que descobre um grave problema de saúde logo no início do filme. A exceção, naturalmente, recai sobre o vilão Gorr (Christian Bale), um Voldemort com voz de Batman.

 Colocaram um nariz de propósito no Gorr do filme pra diferenciar do Voldemort.

Por outro lado, a trama principal do filme – a decepção de Gorr com um deus, sua subsequente jornada para a destruição de todos os eles e a missão de Thor, Jane, a Rainha Valquíria (Tessa Thompson) e Korg (o diretor Taika Waititi) para impedi-lo – perde um pouco o seu brilho justamente porque os deuses que Gorr quer eliminar também não têm grandiosidade alguma. Zeus traz uma das sequências mais engraçadas de todo o filme por conta da interpretação claramente desconfortável – e, por isso mesmo, tão cômica – de Russell Crowe, um ator excelente em dramas, mas nem tanto em comédias. Zeus conversa com dezenas (ou centenas) de outros deuses sobre assuntos completamente não divinais e parece mais um chefe bêbado na festa de natal do que exatamente o deus dos deuses da mitologia grega. Os outros deuses seguem a mesma linha e, dessa forma, é difícil levar a sério a aniquilação de Gorr porque, se ele conseguir o seu intuito, dá a impressão que ninguém realmente importante vai morrer e, portanto, não vale a comoção de Thor e sua entourage. As crianças de Asgard seqüestradas por Gorr parecem muito mais importantes nesse contexto – e talvez sejam mesmo, porque, tirando a cena no lugar onde os deuses estão, é só ao resgate delas que os heróis parecem se dedicar. Essa cena entre os deuses, diga-se de passagem, serve como introdução a um novo herói de um novo braço do MCU.

Essas motivações fracas não são novidades em filmes de herói. Thor: Amor e Trovão está cheia delas (como foi mesmo que Jane virou Thor?). Contanto que não façam o filme perder o sentido completamente não chegam a ferir o propósito principal do gênero, que é o de entreter grandes plateias, e nisso a Marvel é especialista.

Thor: Amor e Trovão

Thor: Love And Thunder (118 minutos – Ação)
Lançamento: Austrália, EUA, 2022
Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi e Jennifer Kaytin Robinson, baseados nas histórias em quadrinhos de Stan Lee e Jason Aaron
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Christian Bale, Tessa Thompson, Chris Pratt, Melissa McCarthy, Karen Gillan, Matt Damon, Russell Crowe, Dave Bautista, Sean Gunn, Taika Waititi, Jaimie Alexander, Bradley Cooper, Luke Hemsworth, Matt Damon, Pom Klementieff, Sam Neill e Vin Diesel

Uiara Luana é ex-funcionária, odeia cores, alegria e os anos 1980. Mas gosta de falar de filmes, então quem sou eu pra recusar? Quer dar seu pitaco também? Vai fundo, gato[a].

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