Top 3 Autores – Alan Moore – John Constantine
Ao ler John Constantine, você provavelmente se lembrou daquele filme baseado no arco Hábitos Perigosos, assombrado por tensão sexual, com um Constantine apático, baseado em Los Angeles, moreno e representado pelo Escolhido-Sem-Expressões-Faciais, Keanu Reeves. Por favor, não faça isso; Alan Moore faz uma prece a Glycon pela destruição da humanidade toda vez que alguém menciona esse filme.
Constantine é um mago. Mas, ao contrário daquela imagem estereotípica marcada a ferro e fogo em nossas mentes (O “velho de barba branca com roupão e chapéu pontudo, com um cajado numa mão e uma bola de cristal na outra”), Constantine não se parece em nada com o que estamos acostumados. A aparência dele é a de uma pessoa comum, um Zé-Qualquer da vida: sobretudo (Lembrem-se, ele é inglês), camisa, calça social, sapatos e um cigarro no canto da boca. Suas feições não são dignas de destaque, assim como altura, peso ou cor dos cabelos. John é o personagem que, na minha concepção, se aproxima mais do “homem mediano”: Não é extraordinariamente rico, não tem superpoderes, não possui uma vida secreta que deve ser mantida secreta a todo custo. Ele é John Constantine: Desempregado, ocultista a soldo, vigarista, beberrão, mulherengo, viciado em adrenalina e encrenqueiro. Eu tenho certeza que todos vocês têm pelo menos um amigo que se encaixa nessa descrição.
O diferencial de Constantine é só um: Ele sabe lidar com magia, o que, ele mesmo admite, qualquer um consegue com um pouco de esforço. Alan Moore diz que certa vez se encontrou com Constantine (O que Moore não diz é o que ele havia consumido antes); este o puxou para um canto e disse, antes de desaparecer nas sombras: “Vou lhe contar o segredo definitivo da magia. Qualquer imbecil pode fazê-la.”. Apesar de tudo isso, John é considerado por muitos como um dos maiores magos da Terra (Rivalizando até mesmo a amiga Zatanna, considerada a pessoa mais poderosa da Liga da Justiça).
Segundo o próprio John Constantine, ele é um “ímã de confusão viciado em adrenalina”, o que explicaria todas as atitudes dele, incluindo vender a alma para os senhores do inferno para ser curado de um câncer de pulmão, enganar repetidamente o Diabo (Que não deve ser confundido com Lúcifer), mijar na cara do rei dos vampiros enquanto este morre torrando ao sol (Viu isso, Stephanie Meyer?), humilhar e se aproveitar de deuses, elementais, criaturas fantásticas, pessoas normais e amigos. A parte mais atraente de Hellblazer, talvez, seja o uso em si da magia.
Círculos com pentagramas inscritos? Velas? Baphomets? Bonecos voodoo, sangue de virgem, bodes pretos, asas de morcego, farofa e cachaça? Rituais realizados à meia-noite durante um eclipse lunar? Nada disso. Em Hellblazer, a magia se apresenta de maneira sutil; na maior parte dos casos, é tão sutil, aplicada, às vezes, de modo tão mundano, que pode-se confundir com mera malandragem. Isto, é claro, se alguém resolver usar magia. Para uma HQ cuja base é a magia, esta é, na melhor das hipóteses, posta em segundo plano. Constantine, quase sempre, resolve os problemas na base do papo e da astúcia, usando um mínimo de magia. Dê a ele um terno branco, um chapéu palheta e fluência em carioquês, e teremos um perfeito malandro da Lapa.
Alan Moore sempre foi bom em criar personagens realistas e com profundidade. John Constantine é o único personagem que eu conheço que lida com magia constantemente e não é chamativo (Zatanna é uma gostosa de cartola e maiô-fraque, Vingador Fantasma parece uma cruza de Batman com Spirit) ou fugido de um circo (Sim, estou olhando para você, Madame Xanadu). Por tudo isso, e por recorrer à inteligência para resolver os problemas da vida, John Constantine merece um lugar entre os melhores personagens de Moore (Mesmo tendo nascido como coadjuvante para o Monstro do Pântano).
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