Um verniz de realidade
De cara amarrada, ele caminha pelas ruas sem se importar com o que acontece em sua volta, já que não o interessa mesmo. Uma criança pede esmola a ele e como se fosse nada, é ignorada. Seu telefone toca e é a mãe dele do outro lado, apesar de não a ver desde a formatura, ele a dispensa, já que ela não é nada de importante para ele.
Coisa estranha isso, não? Personagens sem sentimento, frios e que não tem uma maneira de se mostrar para os outros são muito simples de se fazer. Por isso que eles não tem a graça, o charme e os atrativos que a maioria dos outros possuem.
Mas mesmo assim, como alguém que nunca conseguiu sentir medo pode passar a sensação de medo para seus leitores? Aquele que nunca sentiu raiva, amor e outros sentimentos, de onde que ele pode tirar bases para colocar em seus personagens o que ele pretende que seja demonstrado?
Escrever sobre coisas que não se conhece é quase como escrever sobre como o chão de Marte é propício ao plantio de inhame. Não importa o quanto você tente parecer convincente, se você não tem bases para se apoiar naquele argumento, a chance de que ele seja mal recebido ou mal interpretado é muito grande.
Estive esses tempos aí escrevendo uma história besta, mais uma para entrar na galeria de histórias que nunca completarei. E é exatamente por esse motivo aí de cima.
Passar a sensação de raiva extrema, que levaria uma pessoa a matar outra, é complicado. Eu nunca senti raiva e/ou ódio o suficiente de algo para ser capaz de destruir. Mas é claro, isso pode mudar. Sentimentos assim são ruins e às vezes é melhor não ter sentido mesmo.
Mas às vezes eles simplesmente são jogados em seu colo e você fica assim, sem saber como reagir. Por exemplo, o ciúme.
Numa busca simples, feita no oráculo, a definição que nos surge de ciúme é basicamente essa:
A reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade.
Tirado da wikipédia
Agora… como fazer um personagem demonstrar ciúmes se o autor é alguém que nunca sentiu isso? Digo que esse é um sentimento bem complexo, envolve muitos outros sentimentos e pode por acabar com tudo o que uma pessoa considera certo. Então um ciúme pode facilmente passar para ódio e daí partir pra destruição é um pulo.
Talvez isso explique o tanto de mortes ocasionadas por ciúmes e tudo o mais. Mas não é isso o que eu quero dizer.
Personagens que SENTEM, que são construídos de maneira a se parecerem o mais possível com a realidade são os melhores. Você pode gostar daquele soldado que atira sem pensar antes, que pensa que todos os que ele mata são gado, mas com toda certeza o melhor personagem com uma história assim é o médico, alguém que se preocupa com os outros, ou a garota que espera o soldado fodão, revelando que isso no fundo é só uma capa para proteger/esconder o que ele sente dos outros.
E isso foi um pouco depressivo, mas acho que dei minha mensagem.
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