Uma Crença Silenciosa em Anjos (R. J. Ellory)
Tá aí um livro que nunca recebeu o destaque que merecia. Foi uma publicação bem flopada, uma história que nunca foi muito além de meia dúzia de fãs na internet. E olha que foi lançado numa época em que o mercado literário tava ainda pior que hoje em dia, recheado de purpurina e vampirinhos boiolas. O autor nunca mais se arriscou em outra obra, pelo menos não no mesmo gênero.
Se bem que até faz sentido um livro tão carregado de testosterona não ter feito sucesso.
A história começa lá em mil novecentos e guaraná de rolha, num condado feliz, ululante e contente. Naquele clima de interior, em um lugar em que todo mundo se conhece, o xerife é parceirão da galera e a expressão damas grátis até meia noite não existia por que a quermesse terminava no máximo às dez.
Um dia, uma amiguinha de escola por quem nosso protagonista Joseph sentia uma quedinha é brutalmente assassinada. A partir daí, muita merda acontece na vizinhança por que outras crianças somem e acontece aquele clássico jogo de um pôr a culpa no outro. Tipo “Você matou!”, “Ela só sumiu por que você não tava olhando!” e afins.
Pra piorar, mais crimes vão ocorrendo e é descoberto que os crimes do serial killer se espalharam pelo resto do país, sempre atacando um local diferente. E é nesse ponto que a história fica pesada: O protagonista, por se sentir sufocado pelas mortes das crianças, resolve investigar os crimes ele mesmo. E, como sempre está perto da cena do crime e por ter ligação com as primeiras vítimas, é nele que as autoridades põem a culpa.
Como eu disse, é um livro incrivelmente pesado. Apesar de se encaixar no estilo policial, o autor liga muito pouco pras investigações. Ele se foca muito mais no sofrimento. Na agonia de um personagem que sofreu a vida toda por se sentir culpado (Afinal, ele não impediu nenhuma das mortes) e cuja obsessão pelo assunto fez com que perdesse amores, oportunidades, enfim, a vida praticamente. Às vezes, a história se perde um pouco e fica desgastante, mas desconfio seriamente que o R. J. Ellory fez isso de propósito.
Recomendo fortemente pra quem tiver a fim de um drama que não seja mela cueca e sim que te faça tremer feito vara verde. E que, no fim, te deixe agoniado, com vontade de reparar todas as injustiças do mundo. Sim, por que o pior do livro são os sentimentos de impotência e vazio que te dão quando você termina de ler. Quem nunca se sentiu mal por não conseguir impedir que alguém que você ama sofra? Ou quem nunca se sentiu um pedaço de bosta por ser incapaz de mudar o mundo?
Só não recomendo muito pra galerinha meio suicida. Na escala The Cure de depressão, esse livro leva onze e meio de nota, sendo dez o máximo. Perfeito pros dias chuvosos e cinzentos.
Uma Crença Silenciosa Em Anjos
A Quiet Belief in Angels
Ano de Edição: 2007
Autor: R. J. Ellory
Número de Páginas: 448
Editora: Intrínseca
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