Uma homenagem à vida
Às vezes o Bacon é como o mar: Calmo na superfície mas uma bagunça por baixo, e isso significa que, às vezes, a gente não fala sobre um assunto aqui, “publicamente”, mas o fala entre nós… No resto do tempo a gente só não liga mesmo. De qualquer forma, é claro que nós não deixaríamos de notar que a tia Morte tá afim duma gandaia ultimamente… Não, isto não é uma homenagem à ninguém.
Uma daquelas grandes verdades da vida é que morre gente a todo instante no mundo, mas a gente, a humanidade, não liga à mínima pra isso. Primeiro porque morrer é natural, e cedo ou tarde todo mundo dá a mãos pro anjo da morte, e segundo porque dar a mínima pra alguém que você sequer sabe que existe existia não faz o menor sentido. A coisa toda muda um pouco quando o falecido em questão foi alguém importante ou famoso ou que simplesmente se destacou por um motivo qualquer. Não que a tal pessoa seja de fato especial, mas depois de quatro ou cinco noticiários dizendo a mesma coisa, cê meio que aceita o fato de que pra outras pessoas no mundo o falecido fez diferença.
O mais recente combo de presuntos teve início com a Marília Pêra, dia 5 de Dezembro do ano passado. Logo no dia seguinte foi a vez do Wolney de Assis, Kurt Masur, o Lemmy dia 28 e a Natalie Cole dia 31. Acontece que 2016 não poderia ficar pra trás e logo mandou Gilbert Kaplan, Gilberto Mendes, Peter Naur, David Bowie, Shaolin e o Alan Rickman atrás da galera. Isso sem falar nas várias outras pessoas importantes o suficiente pra aparecerem na lista da Wikipedia (Mas que nem eu nem você sequer ouvimos falar) e nos milhares de ilustres desconhecidos que se foram também.
Nota do editor: Glenn Frey também embarcou.
https://www.youtube.com/watch?v=cDaanAsNzvs
É um tanto desrespeitoso na real o como a gente do Bacon trata essa questão toda, tirando uma outra exceção: Quando quem morreu importava pra gente, seja como grupo trio seja individualmente. E bem, é isso aí.
Porque é mais sincero dizer que não dá a mínima que fazer homenagem.
Não que isso significa que a gente não liga pro que a pessoa fez ou deixou de fazer (Apesar de esta ser sim uma possibilidade), mas não fez um impacto real pra gente. Todos nós gostamos de Motörhead, eu sempre gostei da Marília Pêra e do Alan Rickman, eu sei que o Jo gostava do Shaolin (E o Pizurk foi o primeiro a lembrar que ele morreu) e todos nós usamos o trabalho do Peter Naur, mas não passa disso. Essa gente fez coisa importante, coisas que mudaram parâmetros anteriores no mundo, e a gente sabe disso. Mas não importa o que você tenha feito, pra gente você é um nome que nós reconhecemos, não um amigo, um familiar ou alguém que nos tenha influenciado.
Cê pode até ser importante pra minha vida, só não é importante pra mim.
Não que a gente saia por aí sacaneando morto: Sem preconceitos, morto, vivo, tanto faz. Se a gente te sacaneia na morte a gente já fazia em vida, pode acreditar. Pra gente não tem gênio, revolucionário, mestre, pioneiro e nem nada disso: Você morre (E fica morto, espero) como viveu. Tanto pra bem quanto pra mal. De nada por isso.
Se este acontece de ser o primeiro e provavelmente único texto do Bacon que você já leu, é assim que funciona a coisa: Faz por merecer, véi. Isso não quer dizer que a gente não gostaria de ver outros trabalhos dessas pessoas (E de tantas outras): Foram bons músicos, atores, cientistas, diretores e sei lá mais o que essa gente é. Gostamos do trabalho de muita gente, e o fato de que não poderemos mais ver esses trabalhos é algo real pra gente também. Mas gostando do que você fazia ou odiando o que você fazia, a falta de funcionamento nos seus órgãos não muda nada.
Se alguém conseguiu algo do Bacon foi enquanto estava vivo, depois disso no máximo uma lamentação por seja quem for não ter feito mais. Não somos amigos, não somos parentes, não somos conhecidos, sequer somos fãs incondicionais.
Se existe um outro lado, aproveite. Espero que esteja bem. Sério. Mas do lado de cá você já é passado, e estamos bem com isso.