Velhos novos
Pois então, é 12:27h de domingo, o almoço está quase pronto (Lasanha, frango e bacalhau) e eu tenho de, magicamente, arranjar um tema interessante o suficiente para fazer o texto que sai amanhã (“Hoje”, quando você deve estar lendo). Entre uns temas sem graça que rodopiam em minha mente e um tema legal que em breve gerará um texto, divago, chegando por fim à uma conclusão: Eu adoraria algo novo, mas que, ultimamente, me é apresentado por meio das coisas velhas.
Nota do editor: O texto foi publicado na quarta só pra foder com esse parágrafo. De nada.
Não estou afim de fazer este mais um texto do tipo “tudo é ruim hoje, antigamente era melhor”, mas ao menos no que tenho visto/lido/vivido/ouvido ultimamente, sou obrigado a dizer: Não há mais novidade no mundo. Simples assim: Nada novo surgiu nos últimos anos, nada digno de nota, nada que “ficará para a história”, nada. Sim, sei que a primeira vista parece uma conclusão muito séria baseada em nada, mas vamos por partes.
Como todos já sabemos, estamos em plena globalização, o que significa que nunca antes na história deste país as comunicações nunca foram tão rápidas e eficientes. Houve um tempo em que uma notícia levava meses para chegar de um país ao outro, sendo que hoje a notícia chega e é respondida em questão de minutos. O que rege a globalização é a velocidade da informação, e se uma coisa chega antes, “vai embora” antes, o que significa que as coisas envelhecem mais rápido. Anos atrás podia-se fazer um jornal quinzenal ou mensal, hoje, um jornal de ontem é cobertor de mendigo.
Se uma informação fica velha mais rápido, a consequência é que há menos tempo para que ela seja válida, portanto, menos tempo para que seja aproveitada até que fique “ultrapassada”. Não significa que ela deixa de ser importante ou até mesmo que “continue valendo”, mas significa que, para efeitos práticos, ela deixa de ser útil, sendo rapidamente substituida, e é aí que mora o problema: Quanto mais rápido uma informação é substituida, mas rápido as pessoas podem se aproveitar dela. E é exatamente o que vivemos atualmente.
Dizer que não há coisas boas sendo feitas atualmente é idiota, mas “o que os olhos não veem, o coração não sente”. Se alguma coisa nova surgisse anos atrás, havia tempo para que ela se tornasse conhecida, fosse analisada e, por fim, catalogada, seja como “boa”, “ruim”, “interessante”, etc. Atualmente não temos esse tempo: Basta que ela surja (Feio, eu sei) para que se torne “antiga”, e se realmente paramos para fazer um estudo de tal coisa, perde-se novas coisas que estão surgindo. Ou seja, se a primeira a ser analisada é boa, ótimo, você teve “lucro”, mas se não é boa, você pode ter perdido a chance de conhecer algo que seja bom, mas nunca saberá, porque já foi.
E aqui entra a ideia principal do texto: Por surgir tantas coisas novas o tempo todo, não ligamos para nenhuma. Em outras palavras, eu cago e ando para tudo de novo que surge, porque já me acostumei a não ver nada que seja bom. Sim, eu sei que deveria desenvolver essa questão do “tudo hoje é uma merda”, mas vocês já sabem, afinal, metade dos meus textos aqui são reclamando disso. A questão é que enquanto surgem tantas coisas, as quais eu ignoro, eu me foco nas coisas velhas e que eu ainda não conhecia.
De história “documentada” temos pouco mais de 2 mil anos, além de outros 3 mil e poucos que podemos dizer que “há boas chances de ter sido mais ou menos igual à isso”. Temos portanto 5 mil anos de história, que engloba as maiores criações da humanidade, e graças ao fato de que preferimos nos lembrar apenas do que é famoso, muitas coisas também se perdem, não por ficarem velhas rápido (Afinal, elas já são velhas), mas porque “passou batido”.
Eu poderia citar vários exemplos, mas tou naquela de “agora que trouxe o PC no técnico ele tá funcionando normal”, então farei assim: Eu não vivi os últimos 80 anos, e sei que há muita coisa que não conheço desses 80 anos, desde programas de TV até teorias filosóficas, passando pela música, cinema, jogos, descobertas científicas, teorias, livros, enfim, milhares e milhares de informações. Em 80 anos há muita coisa, então façam uma regra de 3 para ver o quanto tem em 5 mil.
Sei que nessa coisa perco muito (Senão tudo) de bom que pode sair hoje, e claro, no meio das coisas antigas também há muitas que são absurdamente ruins, mas sim, eu prefiro me arriscar em algo cujas chances de sucesso são maiores, porque “antigamente tudo era melhor do que é hoje”. Sempre haverá coisas boas e ruins, independente da época, e claro, a proporção entre ambas varia bastante, mas é inegável que a média dos últimos 80 anos é melhor do que a média dos últimos 20.
Então, voltando ao primeiro parágrafo, tudo que para mim é “novo” hoje é velho, e sim, é realmente legal conhecer essas coisas, ver como era na época em que foram feitas e tudo mais, mas devo dizer que se algo realmente novo e realmente bom surgisse hoje, daria preferência ao de hoje. Não que eu deixasse de gostar do antigo, mas tudo mudou conforme os anos passaram, e por mais legal que seja ver um filme da década de 30 ou ler um livro do século 17, não há mais a base social, política e intelectual para essas obras. Seria realmente bom ver algo surgir deste “mar de mesmice”, afinal, cedo ou tarde teremos de sair da inércia, e assim possibilitar que as coisas novas de hoje gerem as coisas novas de amanhã. Seja como for, mas coisas velhas estarão sempre aí, esperando para serem novas para alguém.
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