Versão “teen”

Nona Arte quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O fato é velho, mas não deixa de ser verdadeiro: Maurício de Souza está publicando a Turma da Mônica Jovem, uma versão dos bons e velhos quadrinhos da Turma em estilo mangá. Até alguns dias atrás, eu não havia sequer tocado uma dessas revistas, por mera falta de interesse. No entanto, mês passado, fui ao dentista, e me encontrei num dilema: Eu só seria atendido em uma hora (Aparentemente, o puto que estava sendo atendido tinha um bueiro no lugar da boca); a bateria do celular estava prestes a descarregar, portanto, nada de Tetris ou outro jogo qualquer; não estava com minha mochila, o que significava nada de livros/material de estudo/palavras cruzadas. Minhas opções se resumiam a uma pilha de revistas (Quem, Caras, Claudia e um punhado de revistas em quadrinhos) do ano passado, e TV aberta num final de tarde. Escolhi as revistas, e, entre elas, havia uma da Turma da Mônica Jovem. Colocando meu dever profissional como colunista acima do orgulho social (Uma coisa é ser visto lendo Guerra ao Sol, de Preacher; outra coisa é ser visto lendo Turma da Mônica Jovem), agarrei a revista e a li.

Meu veredito? Nada ou pouco mudou.

Ok, a afirmação acima é um tanto exagerada; os conhecidos personagens agora são adolescentes/pré-adolescentes, o estilo de desenho é em mangá (Provavelmente para atrair otakus de armário), abundam gírias “descoladas”, e, devido ao politicamente correto, os personagens mudaram um pouco sua essência. “Cebola” tem cabelo e não troca mais as letras; Magali tem uma alimentação balanceada; Mônica controla os impulsos violentos e diminuiu os dentes com ajuda de aparelhos, e Cascão toma banhos, apesar de ainda não ser muito chegado em água. E as mudanças se resumem somente a isso.

E, nesse momento, você se pergunta: “Como assim só isso? Mudaram quase tudo dos originais! Cê ainda tá de ressaca do feriado, puto?”. E é nesse momento que eu rio de suas caras indignadas: Não mudaram o essencial, a alma mater da coisa toda: O roteiro. Se esperava que, com o crescimento físico dos personagens, também houvesse um crescimento intelectual/mental. Eu esperava, quando abri aquelas páginas com cheiro de pasta mentolada e catarro de guri chorão, encontrar algo novo.

O que eu vi me surpreendeu, e não de um jeito bom.

Depois de décadas desenvolvendo aqueles personagens, e alguns anos trabalhando com a versão mais velha deles, o modus operandi das histórias continua o mesmo. Não temos assuntos como sexo ou drogas em pauta, discutidos de modo atrativo, para que moleques saibam o que devem e não devem fazer da vida. Não temos personagens crescidos engajados em mostrar de forma clara os perigos e vicissitudes do mundo. Diabos, não temos nem mesmo histórias minimamente crescidas! A Turma da Mônica Jovem não possui nada de novo. São as mesmas velhas histórias, contadas do mesmo velho jeito, com os mesmo velhos personagens, com nova roupagem. De que adianta envelhecer os personagens se as histórias continuam as mesmas de 15 anos atrás? De que adianta trocar o antigo mythos da Turma da Mônica por um quase igual?

Dinheiro? Claro que sim, o Maurício é um empresário no final das contas, ninguém ali tá trabalhando por caridade, inferno. A mesma coisa vale para quem publica as revistas Luluzinha/Bolinha Teen. Se for para alardear uma grande mudança, que a mudança seja algo importante, e não uma mera mudança de estilo. É como um produto da Apple: Se alardeia “UMA NOVA REVOLUÇÃO NA [Escolha sua área revolucionária de sua preferência]: iBlargh 2 – EM BREVE NAS LOJAS”, mas, na hora da compra, as únicas diferenças são a posição da logomarca, menos 0,0003mm de espessura e US$ 100,00 a mais no preço.

Steve, saia deste corpo que não te pertence.

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