Viagens temporais em Exterminador do Futuro
Tempos atrás escrevi este texto sobre viagens temporais na ficção cientítica. Mas recentemente – hoje, pra falar a verdade – lembrei de uma grande franquia onde as viagens temporais são muito importantes também e que eu esqueci de mencionar anteriormente. Até que foi bom, ela merece um texto específico. Vamos falar de Exterminador do Futuro. Vem comigo, baby.
Primeiro, vamos deixar claro que o homo sapiens é um bicho por demais astuto. A viagem no tempo não passa de uma idéia, mas autores de ficção científica nunca cansam de incluí-la em seus livros e scripts. A relatividade de Eistein indica uma possível maneira de “viajar” pelo tempo, mas envolve voar na velocidade da luz, voltar e ver todo mundo que você conhece mais velho. Nada de DeLoreans, Enterprises e orbes temporais. Nada de entrar em uma máquina, selecionar uma data e tranquilamente testemunhar fatos históricos, retornando depois pra casa pra escrever sobre e lucrar. Nah. A vida real pode ser chata.
Acontece que o fato de ser impossível até hoje não impediu ninguém de fantasiar sobre, como eu disse ali atrás. Então além de imaginar centenas de maneiras distorcer o espaço e o tempo, também pensamos no que aconteceria depois. E é aí que as teorias temporais entram. Por exemplo, se você fosse pra 1932 e matasse Hitler antes dele se tornar chanceler da Alemanha, o que aconteceria?
a) O holocausto não existiria, você teria impedido a morte de milhões de pessoas e voltaria pra um mundo completamente mudado e com muito mais judeus;
b) Você criaria uma nova linha do tempo onde Hitler morreu em 1932 e tudo mudou, mas a linha de onde você veio ainda estaria intacta. Cê ia voltar pra casa e tudo estar na mesma;
c) Nada aconteceria por que você simplesmente não conseguiu matar Hitler. Toda vez que você tentava, alguma coisa impedia, quase como uma conspiração do universo;
d) Você vai pra 1932 e a sua tentativa de assassinato na verdade acaba ajudando Adolfinho a se tornar chanceler;
e) Você voltou, matou Hitler e meio que implodiu o universo com um paradoxo, já que você não sabia que na verdade Hitler era seu bisavô.
A resposta? Bem, não tem uma. Aí é que está a graça: Ninguém sabe o que aconteceria se alguém viajasse pro passado e tentasse mudar as coisas. Alguns cientistas chegam a dizer que só o fato de uma pessoa do futuro estar presente em qualquer ponto do passado já poderia mudar tudo, uma coisa meio efeito borboleta, só que sem o Ashton Kutcher (Eu espero). Mas claro, não teria graça se aos vinte minutos de filme o Marty McFly descobrisse que fodeu a própria vida pra sempre. Agora, tudo que eu já escrevi aqui no Bacon sobre viagem no tempo é um mero apanhado, tem muito mais. Tem sempre uma coisa nova pra descobrir no mundo dos paradoxos e teorias que não podem ser provadas, YAY!
Mas o leitor deve estar perguntando: “Caralho Kirk, eu vim aqui por que não tinha mais nada pra fazer e o título falava de Terminator, que é um filme fodão. KD O SHUAZINÉGUER?”
Calma jovem cadete da frota estelar, estamos chegando onde eu quero.
Como vocês devem se lembrar, Terminator, o primeiro e clássico, é sobre um ciborgue maldito que é mandado 40 anos pro passado pela Skynet, com a simples missão de exterminar Sarah Connor, uma garçonete aparentemente sem futuro, mas que será mãe de John Connor, que por sua vez será o inimigo número um das máquinas assassinas e líder da Resistência depois do Dia do Julgamento Final. Bom, tudo seria perfeito para as máquinas se essa Resistência não descobrisse o plano e mandasse um dos seus próprios homens pra impedir a tragédia, Kyle Reese. E é nesse ponto que as coisas começam a ficar esquisitas. E com isso eu quero dizer temporal-paradoxalmente esquisitas.
Acontece que Kyle Reese, que veio salvar a futura mãe de seu comandante, também é meio que apaixonado por ela, e/ou por sua figura guerreira (Que ela ainda não é, por sinal) que ele só tinha conhecido através de uma foto dada a ele pelo próprio John Connor. A química certa acontece em um intervalo entre as investidas assassinas do T-800 e BAM! Reese é o feliz pai de seu próprio comandante.
Acompanhem comigo mais uma vez: Reese veio de uma época em que John Connor, filho de Sarah Connor e um pai desconhecido (Isso é importante, guardem essa informação), se tornou líder da Resistência e isso fez com que as máquinas enviassem para o passado um Exterminador para matá-la e criar um futuro onde os humanos não têm um líder forte. Sabendo dessa decisão das máquinas, a Resistência deu um jeito de enfiar Reese em um orbe temporal e mandar ele pro mesmo destino que o T-800 para impedir tudo. Analisando os fatos com cuidado, podemos chegar na conclusão que… Essa merda toda é confusa pra burro. Mas se acalmem, vamos prosseguir.
Como o primeiro exterminador falhou em sua missão, a Skynet mandou outro tempos depois, provavelmente depois de uma breve reflexão onde percebeu que John Connor ainda estava fodendo a vida artificial de qualquer robô que visse pela frente. Dessa vez o alvo era o próprio Connor, com pouco mais de dez anos de idade. Para se defender dessa segunda ameaça, a Resistência inovou e mandou um Exterminador que foi capturado e reprogramado por John para proteger ele mesmo. Se bem que não precisa ser gênio pra notar que um T-800 é bem melhor para proteger alguém de outro Exterminador e também não ia acabar dando um irmãozinho pro John agora que Reese tinha morrido. Bem, vamos deixar pra lá o fato de o novo Terminator, T-1000, ser feito de metal mimético líquido (Ele pode tomar a forma das pessoas que toca/mata), bem mais avançado que o T-800, e do Connor criança ver no seu protetor robótico uma bizarra figura paterna. Passemos direto para uma revelação interessante do filme: A carcaça amassada e quebrada do Exterminador anterior foi recuperada e uma empresa chamada Cyberdyne está estudando a CPU dele, parcialmente destruída, junto com um dos braços que estava praticamente intacto do cotovelo pra baixo. Outra revelação interessante é que o T-1000 só não ganha do T-800 em termos de insistência, mas isso é outro assunto.
Vejam, isso é como levar um iPhone atual pra alguns anos atrás, quebrar ele e dar pra Apple. Eles iam estudar o troço até entender como funciona, fazer um e vender. No final, o iPhone seria o motivo da sua própria existência, gerando uma espécie de paradoxo de informação. Ou seja, de onde, afinal teria vindo o iPhone? Em Terminator 2, a Skynet acabaria dando origem a si mesma. De qualquer jeito, tanto o braço quanto a CPU são destruídos e as coisas melhoram…
… Por pouco tempo, já que no terceiro filme a Skynet, cansada dessas putarias, manda a coisa mais perigosa disponível no estoque: Uma mulher bonita. Ou melhor, uma Terminatrix. A T-X é pelo menos duas vezes pior que o T-1000 e dessa vez quer matar não só John Connor, mas todos os seus generais, que ainda são praticamente adolescentes. Sempre correndo um pouco atrás, a Resistência envia outro T-800 reprogramado pra ajudar, que a essa altura deviam estar sendo capturados com armadilhas da ACME na floresta pelo Gaguinho. É revelado então a um jovem John Connor que ao destruir a CPU e o braço do primeiro Exterminador, tudo que Sarah e ele conseguiram foi atrasar o Julgamento Final, já que ele devia ter acontecido em 1997, mas só vai se dar agora, cinco anos depois, em 2003. A idéia que temos é que a informação obtida das peças do futuro já tinham se espalhado, mesmo com a destruição da Cyberdyne, ou nós tinhamos dado um jeito de fazer de qualquer jeito.
Lembram daquelas opções sobre matar Hitler que eu mencionei antes? Voltem lá, imaginem John Connor no lugar de Hitler e as máquinas no lugar de judeus e me digam qual delas se parece mais com a epopéia do Terminator. Eu espero, vão lá.
RÁ! Enganei vocês, já que nenhuma alternativa se encaixa sozinha. O melhor seria um pouco de B, C e D. A letra A é o sonho da Skynet, onde eles matam Connor e tem um monte de máquinas reinando tranqüilas na Terra. Mas vejam só, parece que a única coisa que a Skynet não previu foram as conseqüencias da viagem no tempo. Sei lá, vai ver eles tinham acabado de descobrir, vai ver eles estavam no desespero, mas o fato é que a coisa simplesmente degringolou quando aquele primeiro T-800 apareceu pelado em Los Angeles, o que forçou Kyle Reese a vir tentar impedir, virar pai de John Connor, mostrar a Sarah que ela podia ser uma guerreira que por sua vez ensinaria o mesmo ao filho, avisando ainda que ele um dia seria o Jesus do mundo cyberpunk tomado pela Skynet.
Só que a explosão mental vem agora: As viagens temporais em Terminator são complicadas por que são um emaranhado de teorias amarradas juntas numa grande bola de ferro que é a noção de fatalismo. No terceiro filme, o T-800 menciona explicitamente linhas temporais para John, dando a entender que havia uma primeira que foi sendo gradativamente modificada. Desse jeito, os paradoxos vistos em todos os filmes não são mais paradoxos. Eles são, na verdade, as linhas temporais interagindo entre si, se modificando, dando origem aos acontecimentos uma na outra. Quando Kyle foi pro passado, ele criou outro universo, onde ele mesmo é pai de John. O que me lembra que não importa o que se faça, John Connor fatalmente existirá e tudo conspira para que ele nasça e não seja morto, assim como fatalmente conspira para a Skynet existir, em qualquer universo. Qualquer tentativa de criar um novo futuro em qualquer linha temporal vai acabar ajudando tudo a acontecer, pois os dois acontecimentos históricos mais importantes – Connor e Skynet – PRECISAM existir.
O quarto filme parece corroborar para isso tudo, apesar dos sérios defeitos de ser uma aberração e a Helena Bonham Carter estar nele. Lá vemos que realmente John Connor não pode morrer e que as linhas temporais continuam se sucedendo, e resultando praticamente nos mesmos acontecimentos, uma após a outra.
E no universo original, quem era o pai de Connor? Como Sarah se tornou uma guerreira? O que criou a Skynet? Não sabemos exatamente, já que isso não é mencionado. Mas talvez, só talvez, o universo de onde tudo partiu não seja o original. Talvez ele seja produto de outras modificações que se perderam no passado. Talvez seja só mais um universo. E o mais legal é que nem Connor nem as máquinas podem saber disso, já que aparentemente ir pro passado é uma viagem só de ida.
Ficou confuso? No problema. Essas coisas são assim mesmo.
Vida longa e próspera.
Obs: Além de escrever no Bacon, também falo de assuntos bizarros e coisas que quase ninguém se importa no Estranho Sem Nome. Me procurem lá.
Leia mais em: Arnold Schwarzenegger, John Connor, Judgement Day, Matérias - Cinema, Sarah Connor, Skynet, T-1000, T-800, T-X, Terminator, viagens no tempo.