Vida, morte e capa dura

Livros terça-feira, 23 de abril de 2013

Provavelmente já lhes falei isso, mas repito: Boa parte da minha coleção de livros constitui-se de livros velhos. Tenho bastante coisa da década de 70, várias capas remendadas com durex e claro, milhares e milhares de páginas amareladas pelo tempo. E bem, nada dura para sempre: Cedo ou tarde, as folhas começam a se soltar, a lombada rasga, páginas são dobradas… É um massacre.

 Quase isso.

Se você tem alguns livros, mesmo que poucos, já notou alguns fatos: Livros fazem um puta sucesso com poeira, curtem esconder coisas, manjam tudo de traças e, cedo ou tarde, lhe darão um corte com papel. Livros, como objetos, dão bastante trabalho na real. Deve-se, de tempos em tempos, limpá-los e abrí-los, não gostam de umidade e nem de luz intensa, ocupam bastante espaço e são, muitas vezes, bem pesados.

Como disse alí em cima, a grande maioria do que tenho são livros velhos. Não que eu vá à sebos ou os compre usados. Aliás, muitos poderiam me recriminar por eu ignorar quase que por completo as “lojas de papel velho”. Simplesmente não ligo para elas, ou seja, a maior parte da minha coleção foram coisas que ganhei, ou que já tinha aqui em casa.

Ainda sim, vejo toda essa galera que faz vídeos sobre livros. Cês, com certeza, já viram alguns, e devem ter notado que é uma galera muito transada, muito prafrentex. Têm prateleiras lotadas de volumes (De predominância quase despótica de séries…), curtem tudo que é novidade e acham Machado super incrível, e que fica ainda melhor em versão HQ. Já repararam que essa galera não tem um livro velho sequer?

 Baita clássico literário.

Livros novos são legais… É tipo carro novo: Tem algo no cheiro e no plástico dos bancos que faz valer à pena o fato de o banco ser o novo dono do seu cu. Mas, creio, que seja mais legal (Mesmo que só um pouquinho mais legal) ter um livro e saber que outra pessoa já o leu, saber que alguém já segurou aquele mesmo objeto e, talvez, teve as mesmas reações que você. É parte da graça de ter uma “antiguidade” (Seja um móvel, um imóvel ou seu bisavô ainda vivo) saber que alguém já aproveitou aquilo. Talvez, a grande graça de ter alguma coisa velha é saber que ela “sobreviveu” à outras pessoas, e que, muito provavelmente, sobreviverá à você também.

E como qualquer outro objeto, um livro pode sobreviver à muita coisa… Contanto que ninguém mexa nele. E porra, aí o livro (E qualquer outra coisa na verdade) perde totalmente seu sentido de existir: Livros devem ser lidos, e foda-se se ele virará pó com o mínimo contato vai dar merda içaê. E tal como qualquer coisa, livros podem ser remendados.

 Basta um pouco de habilidade.

Levei, outro dia, um livro para ser encadernado. Ele já estava num estado lastimável, praticamente soltando todas as folhas, e o fato de ser brochura não ajudava em nada. Bem, 15 dias após a previsão de 15 dias que me foi dada, o livro estava pronto. Agora ele tem uma capa dura verde, uma margem menor e está difícil de ser aberto: Por um atraso de apenas 12 dias, meu livro poderia ser Jesus e isso também vai dar merda.

Perder uma informação, um conhecimento, nunca é legal. É desperdício, e como bom gordo que sou, não gosto de disperdício algum. A capa do livro mudou, seu tamanho mudou, a sensação dele também está lá, junto com as mesmas páginas amarelas, mas ainda é o mesmo livro. Já diriam os sábios:

Capa nova, vida nova.

Compra-se versões especiais, versões ilustradas, novas edições e coisas do tipo mais por motivo estético do que qualquer outra coisa. Você pode comprar um novo livro, igual ao que está ruim, e jogar o velho fora. Pode-se ignorar tudo isso e partir para o formado digital. Mas, claro, não é a mesma coisa… Meio que faz sentido porque algumas pessoas se dedicam tanto à restauração de tantas coisas (Sendo, aos 81 anos, o auge de suas carreiras). Eu sei que cês querem uma frase absurdamente horrível, então vamos lá: É dar vida nova à essas coisas.

Ainda que dito de forma estúpida, não deixa de ser um fato que, após um trabalho de recuperação, seja este artístico ou uma simples troca de capa, o objeto pode ser aproveitado melhor agora. No caso do livro, do jeito que estava antes, ainda que “no original”, talvez durasse apenas alguns anos, mas agora páginas não serão perdidas, a capa original está preservada e, no futuro, outras pessoas além de mim poderão ler o mesmo livro. E véi, sério, isso é legal pra caralho.

Aquele livro foi o primeiro que mandei para encadernação, afinal, algum tem que ser o boneco de testes. Para encurtar a história, levei outros nove livros para passarem pelo mesmo processo. Tem capas raras lá, versões que não se acha mais, e algumas delas estão em péssimo estado. Não haverá nada de espetacular no resultado final, terão capa preta simples, letras douradas, as mesmas páginas velhas. E não mentirei para os senhores: Não será tão barato assim e vai demorar um bom tempo para ficarem prontos.

Talvez, daqui um tempo, a maioria das prateleiras daqui de casa sejam tomadas por livros novos, com páginas brancas, capas reluzentes e ilustrações de alta definição. Vai ser legal, e espero que eu tenha tempo e possibilidade de deixá-los com páginas amareladas também. Até lá, os velhos e surrados são minha escolha… Talvez sempre serão (E talvez eu acabe falido por causa disso).

Por fim, fica a consideração: Independente de como seja um livro, leia-o. Não é uma capa nova ou a cor das páginas que faz o conteúdo, e na real, é só isso que importa. Claro, se você tiver a oportunidade de preservar um livro, faça. Ele vai durar mais que você, e é um tanto injusto “não permitir” que outras pessoas tenham o mesmo que você teve… A não ser, é claro, que seja autoajuda.

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