Westworld, a adaptação que o povo merece
Eu sou a primeira pessoa a meter pau em adaptações. Sou fã de Rod Serling, Richard Matheson e Michael Crichton. Gente que não tinha medo de revolucionar no cinema, na TV, no universo literário. Gente criativa, que trafegava por de tudo um pouco para ganhar o pão de cada dia. Mas quem ganhava era a gente. Além da Imaginação, O Parque dos Dinossauros, Eu Sou a Lenda, clássicos da ficção científica e fantasia que angariaram admiradores ávidos. E agora, graças a HBO, Westworld ingressa no hall da fama do sci-fi como um fan favorite.
A premissa é muito interessante: Westworld é um parque temático onde você pode reproduzir, se for rico, a experiência de viver no Velho Oeste, com o uso e abuso da tecnologia. Os anfitriões são robôs que parecem gente de carne e osso, com papéis pré-definidos dentro do “jogo”, para proporcionar ao cliente a maior satisfação. Tanta humanidade e realidade passam a causar distúrbios nos androides. O elenco estelar, digno dos filmes mais caros de Hollywood, ajuda no hype. Anthony Hopkins é Dr. Ford, diretor criativo e mandachuva do empreendimento. Ed Harris é um frequentador contumaz, que busca novas quests e é apelidado carinhosamente de Homem de Preto, porque ele só veste preto e é a personificação da maldade. Para coroar, Evan Rachel Wood encarna Dolores, a host mais antiga do lugar e protagonista do seriado.
Hoje em dia o mercado americano está pobre em criatividade. Em vez de investirem em novos argumentos, os canais preferem transformar HQs, filmes e até seriados europeus em produções americanas. A lista é longa: Fargo, O Exorcista, Damien – baseado em A Profecia – Bates Motel. Poderia seguir com a lista até outubro. E isso porque estou me atendo ao objetivo da coluna: Falar de cinema. A quantidade de adaptações ofende minha inteligência. Até porque, em geral, são inferiores às inspirações. Westworld é a exceção que confirma a regra.
No último fim de semana encarei o filme que originou a série. Lançado em 1973, foi dirigido e escrito por Michael Crichton e é mais um embrião do novo sucesso da HBO do que qualquer outra coisa. Com menos personagens, os atores James Brolin e Yul Brynner representam, respectivamente, cliente e anfitrião, mostrando como funciona a relação entre androides e humanos no parque. Ao contrário do seriado, pelo menos até agora, existem outros dois parques: Um que representa a Era medieval e, o terceiro, a Roma antiga. Apesar de centralizar a história no Velho Oeste, os outros cenários servem para mostrar a degeneração geral dos robôs e, o que era para ser uma experiência única de literalmente viver um momento histórico, se transforma em uma tarefa real de sobrevivência. Afinal, a regra principal é que os guests podem se machucar, mas não podem morrer durante as “férias”. Se o sistema deixa de funcionar como deve, os seres humanos estão sujeitos a qualquer coisa.
Talvez por ser curto e não ter tanto espaço para desenvolvimento, o longa é muito superficial. Mostra apenas que acontece uma pane no sistema que transforma os moradores inofensivos daqueles mundos em máquinas mortíferas, que se negam a representar os papeis designados a eles. Já na nova versão, há toda uma construção narrativa que cativa o espectador e os eventos escalam junto com o envolvimento do público com a história. Para toda pergunta, existe uma resposta. E, para cada resposta, uma teoria da conspiração para chamar de sua. Fugindo dos padrões, a trama encabeçada por Rachel Wood supera sua versão original em todos os aspectos.
Se estivesse vivo, Crichton certamente estaria orgulhoso, dando tapinhas nas costas de J.J. Abrams e acompanhando de perto, para não transformarem sua história em uma nova ilha de Lost. Sinceramente, acredito que o próprio tenha sentido os buracos que seu primeiro filme deixa. Talvez por isso tenha escrito, sob uma premissa bastante parecida com a de seu debut no cinema, Jurassic Park, sedimentando definitivamente sua carreira como grande planejador de parques temáticos. Além de roteirista, escritor e gênio da porra toda.
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